O Plano de Reabertura, elaborado por sete entidades, inclui orientações para o trabalho de ambulantes, além do funcionamento de estabelecimentos do varejo, shoppings, estúdios de treinamento e centros de estética (veja Protocolo). Apesar da pressão dos segmentos de bares e restaurantes, Ibaneis não pretende liberar esses comércios, por enquanto. Também não está confirmada a reabertura de salões de beleza nem de grandes academias.
Um dos compromissos firmados ontem prevê que, caso haja aumento do número de casos da Covid-19, os estabelecimentos poderão fechar novamente. O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio/DF), Francisco Maia, afirmou que a entidade ouviu sindicatos de diversas áreas para definir as sugestões que seriam encaminhadas ao Palácio do Buriti. “Não temos como obrigar pessoas a seguirem todas as recomendações, e o governo não tem estrutura para fiscalizar. Então, (o cumprimento das orientações) vai depender da consciência dos dois lados”, cobrou Maia.
Prudência
Proprietário de um bar no Guará 2, Pedro Henrique Mendes, 28 anos, disse que se sente inseguro em meio às mudanças. Com o estabelecimento aberto só para entregas, o empresário comentou que percebeu queda nos lucros. No entanto, ele se preocupa com a possibilidade de mais pessoas em circulação. “Pretendo (que o bar reabra em breve), mas tem a questão do medo de se expor a uma doença. E acho que não ficaremos no mesmo patamar. A sociedade está com a sensação de que não pode voltar aos estabelecimentos com a mesma segurança de antes”, contou Pedro Henrique.
Para o professor de finanças do Ibmec Brasília William Baghdassarian, apesar de a flexibilização ser planejada, é preciso avaliar se o período é ideal para a retomada das atividades. “Quando entramos nesse modelo de isolamento social, sabíamos que, em algum momento, teríamos de sair dele. Do ponto de vista econômico, a forma de voltar tem sido prudente e planejada. Mas há estudos que mostram o isolamento como a solução mais adequada pelo viés econômico. Portanto, a questão que fica é: esta é a hora de voltar?”, argumentou William.
Avaliações
Ontem, o secretário de Saúde, Francisco Araújo Filho, informou que a pasta tem feito estudos e avaliado com outros órgãos do governo os impactos da reabertura do comércio. “Fazemos isso para que, quando a decisão for tomada pelo governador, todo mundo tenha proteção e segurança, não apenas a população, mas todas as áreas do governo”, ressaltou.
Questionado sobre a retomada das atividades comerciais na capital federal, o subsecretário de Vigilância à Saúde, Eduardo Hage, explicou que o cenário é o mesmo que a pasta aponta desde o início da pandemia: com crescimento de casos em ritmo “não tão acelerado”. “Não há nenhuma situação de maior agravamento ou dado que aumente a preocupação. Nada fora do que era esperado há algum tempo”, comentou Eduardo.
Médico dos hospitais de Base e das Forças Armadas (HFA), Hemerson Luz considera que a subnotificação dos casos está abaixo do que se acreditava. Especialista em operações humanitárias e desastres no Brasil e no exterior, ele acredita que essa situação deve ter dado segurança ao Executivo local. “A curva está controlada e abaixo do crescimento exponencial. Isso deve ter influenciado o governador a tomar essa medida”, opinou.
No entanto, mesmo com ligeira segurança em relação ao número de leitos disponíveis e dos diagnósticos diários da Covid-19, Hemerson não descarta que a reabertura de lojas seja um risco. “Não sabemos o que vai acontecer, mas é o momento para se discutir e tomar uma decisão”, alertou. O médico avalia que os impactos da retomada das atividades só serão vistos depois de, aproximadamente, duas semanas — período que a doença demora para se manifestar a partir do contágio.
Na avaliação de Hemerson, o DF lida bem com a pandemia, mas o cenário ainda é frágil. Ele reforça que a população não deve correr às compras e seguir as recomendações dos órgãos de saúde. “Mesmo se o uso da máscara for obrigatório, ela não substitui a quarentena. É preciso continuar com os cuidados, como lavar as mãos e manter o distanciamento. Os próprios gestores das lojas vão precisar ter atenção a isso”, completou.
Propostas
Veja as diretrizes sugeridas pela Fecomércio/DF e válidas para todos os setores, essenciais ou não, alvo de medidas restritivas ou não:
» Usar máscaras
» Manter distanciamento de 1,5m dos demais
» Limpar e desinfectar ambientes a cada duas horas
» Monitorar a saúde dos funcionários, com aferição de temperatura e testagens rápidas
» Intercalar e alternar horários de atendimento em até três turnos e com horários de entrada e saída diferentes, para não sobrecarregar o sistema de transporte público
» Realizar reuniões prioritariamente por videoconferência
» Divulgar instruções para prestadores de serviços e usuários ou clientes sobre as normas de proteção vigentes
» No trabalho, funcionários que dependerem de transporte coletivo não poderão vestir a mesma roupa usada durante o deslocamento
» Priorizar o afastamento, sem prejuízo salarial, de empregados com mais de 60 anos, com doenças crônicas, de gestantes, entre outros
Personal trainers e estúdios pequenos
» Ocupação simultânea de um cliente a cada 4 metros quadrados nas áreas de treino
» Capacitar todos os colaboradores em como orientar clientes sobre as medidas de prevenção do estúdio
» Posicionar kits de limpeza em pontos estratégicos
» Organizar turnos para limpeza
» Comunicar para os clientes levarem toalhas para uso próprio
» Disponibilizar álcool em gel ao lado das catracas de acesso
» Fechar cada área de treino no intervalo de um cliente para o outro, para limpeza e desinfecção
Shoppings
» Obrigatório uso de máscaras por clientes e funcionários
» Controle de acesso nos horários de grande fluxo
» Organizar turnos especificamente para a limpeza
» Higienizar todas as áreas