Perspicácia e uma boa dose de agilidade são os principais ingredientes do coquetel contra a crise financeira provocada pela pandemia de Covid-19. Para o pequeno empreendedor, a paralisação dos serviços pode ser a declaração de uma sentença de morte. Por isso, as vendas virtuais têm sido a luz no fim do túnel para os microempreendedores mais antenados.
Desde o início das medidas restritivas, o setor varejista sente os impactos dos muitos dias de portas fechadas. A cifra das perdas é alta. Segundo a Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC), as 10 unidades da federação responsáveis por 72,5% do volume de vendas no varejo nacional somam um déficit de R$ 53,3 bilhões. Isso equivale a uma retração de 46,1% em relação ao mesmo período do ano passado.
Na capital, o retorno do funcionamento das lojas está marcado para o dia 4 de maio. Apesar da expectativa elevada dos comerciantes, o momento carece cautela, conforme indica o Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista). “As lojas voltarão a funcionar de forma lenta, preocupando-se muito com a segurança dos funcionários e clientes. Os lojistas precisam se adequar às exigências do governo para conter a contaminação”, diz o presidente da instituição, Edson de Castro.
O sindicato negocia junto ao governo distrital a ampliação dos horários de atendimento dos estabelecimentos comerciais. “A gente tem que pensar que as aglomerações devem ser evitadas a todo custo. Se puderem ficar mais tempo abertos, as pessoas podem se distribuir melhor no tempo, e o risco da doença diminui”, afirma o dirigente do Sindivarejista.
Edson reforça o pedido de organização para a reabertura do mercado. “Agora, não é o momento de querer recuperar as perdas de uma só vez. Não se deve fazer liquidações, porque isso pode formar aglomeração. Se o comércio colocar a vida das pessoas em risco, ele vai fechar de novo. As coisas vão acontecer aos poucos, não podemos ter pressa neste momento. O tiro pode sair pela culatra dessa forma”.
Novos hábitos
Cansada da arquitetura, Fabiana Ungaretti, 34 anos, encontrou no Petit Jardin o seu refúgio. O desejo de mergulhar no verde teve pontapé em dupla: ela e o marido fizeram, do quintal deles, um ateliê de vasos de plantas. “Começou como um empreendimento familiar, mas ele permaneceu desta forma somente no primeiro ano. Há três, toco a loja sozinha, produzimos vasos e revendo plantas com o auxílio de quatro colaboradoras; somos um empresa feminina”, orgulha-se a empreendedora.
Com seu público cativo, Fabiana não teve problemas para garantir a sobrevivência do seu negócio. “Até sentimos certo impacto negativo, porque ficamos duas semanas parados, até implementar o delivery. Mas ficamos bem felizes e surpresos com o resultado das vendas on-line. Minhas funcionárias estão trabalhando remotamente, cuidando das vendas pela internet. Elas dão toda atenção ao comprador, indicam quais são as plantas disponíveis e quais se adequam melhor ao ambiente do cliente. Eu cuido da fabricação dos vasos e arranjos”, conta Fabiana.
Para ela, a segurança e cuidado com a saúde estão em primeiro lugar. “Independente da abertura do comércio, eu pretendo manter o funcionamento remoto. Assim, não coloco em risco a saúde das pessoas. O governo não tem passado segurança à população, e eu estou levando a sério a prevenção à doença. Sei que muitos não encontraram uma alternativa para continuar funcionando, mas estamos trabalhando bastante e com bom resultado”, afirma a arquiteta.
Nadando contra a maré, Felipe Gentil, 40, teve uma queda de cerca de 75% de sua receita. Ele é dono do bar Beco das Garrafas e concentrou seus serviços na entrega de cervejas e chopps envasados. “O estoque foi bem reduzido e estamos operando somente dois dias por semana. Temos o televendas, que atende o delivery, e o takeaway (retirada de pedidos)”. Apesar das portas baixadas, Felipe não precisou demitir os colaboradores. “A loja é pequena, então dei férias aos dois funcionários da cozinha, e estou fazendo o atendimento com o meu garçom”, diz.
Primeiros passos
Navegando no mesmo mar de incertezas, Raimundo Nonato Alves, o Natinho, também aderiu ao sistema de entregas. O Mercadinho do Natinho, uma camiseteria bem descolada, existe há quatro anos. “Bolamos uma proposta em cima dos mercadinhos que sempre existiram, que é aquela coisa de você ser atendido pelo proprietário, pela esposa, porque não temos como contratar. Atuamos de uma forma bem analógica. Minhas malhas têm uma tradição legal na qualidade e a pintura manual, então surpreendemos nossos clientes com essa receita”, conta.
Natinho começa a dar os primeiros passos nas vendas virtuais e diz que, aos poucos, tem ganhado espaço. “As vendas estão bem tímidas ainda, confesso que me bateu uma letargia danada. Minha criatividade ficou envolvida por algo meio turvo, mas já estamos dinâmicos novamente. Esse confinamento mexe muito com a gente”, lamenta. Ele e a esposa, Lissandra Fernandes, estão operando as vendas pelas redes sociais. “Ainda não temos site, mas vamos viabilizar em breve. Nós usávamos pouco as mídias, então, estamos engatinhando nesse sentido”, conta.
* Estagiária sob supervisão de Adson Boaventura
- Delivery de amor
Uma corrente do bem acontece hoje em Brasília, Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul. Chefs de cozinha criaram o #ArrozDoBem, que doa um prato de comida a cada pedido feito no delivery ou takeaway do restaurante que contenha arroz em sua composição. No DF, participam da campanha:
» Parrilla Burguer e Casa Baco, chef Gil Guimarães
Arroz malandrinho, linguiça caipira, panceta, couve, ovo e pimenta de macaco: R$ 29
Takeaway do Parrilla: (61) 3443-0698
Casa Baco: pedidos via Ifood
» Nutrifresh, chef Rodrigo Bindes
Risoto de arroz negro com cubos de frango e misto de legumes: R$ 25,90
Pedidos: (61) 99881-6000 (WhatsApp)
» Primeiro Bar
Arroz de Costela: R$ 29,90
Vendas pelo Ifood
» Bar Beirute
Arroz com lentilhas: R$ 24
Vendas pelo Ifood
» Restaurante Xique-Xique
Arroz de Carreteiro: R$ 19
Vendas pelo Ifood