Um total de 3.196 pessoas passou ontem pelos oito postos de testagem em massa para o coronavírus no Distrito Federal. Dessas, 46 (1,44%) receberam o diagnóstico da Covid-19, segundo balanço parcial divulgado pela Secretaria de Saúde. A ação ocorreu no Plano Piloto e em Águas Claras, cidades com maior incidência da doença na capital. A previsão é de que 100 mil brasilienses façam o exame durante a primeira fase da mobilização, até 30 de abril. O GDF espera testar 450 mil até o fim de maio, quando, segundo o governador Ibaneis Rocha (MDB), o governo “pretende estar com tudo aberto novamente”. O balanço mais recente divulgado pela pasta mostra que a capital tem 913 confirmações da Covid-19, 24 óbitos e 523 pacientes recuperados. Dessa forma, o DF chegou ao quarto dia seguido sem mortes pela enfermidade.
Os testes em massa são realizados em drive-thru, ou seja, ninguém desce do veículo para receber atendimento. De acordo com a Secretaria de Saúde, a medida é necessária para descartar a possibilidade de infecção pelo coronavírus ou direcionar o paciente ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran), unidade referência no tratamento da doença, caso necessário. A prioridade é atender a pessoas com sintomas de gripe, incluindo febre.
O Correio esteve em dois pontos de testagem. Na manhã de ontem, as filas de carros se estendiam pelo estacionamento do Centro Universitário Unieuro, em Águas Claras. No Estádio Nacional Mané Garrincha, a situação era mais tranquila. A fila andava rápido e cada motorista levava cerca de 30 minutos para receber o resultado do exame. Nos dois locais, havia profissionais da saúde devidamente munidos de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Também não houve registro de falta de insumos.
No drive-thru da Unieuro, foram realizados mais de 200 exames nas três primeiras horas da ação. No entanto, a média de espera era de uma hora para cada veículo. Para a estudante Michelle Julie Diani, 40 anos, o prazo foi maior. Ela chegou ao local às 8h45 e só deixou o posto de testagem duas horas depois. Ainda assim, ela aprovou a medida. “A iniciativa é perfeita. A gente tem de saber. Ficar com a dúvida é pior, porque, às vezes, a gente está com os sintomas, mas pode ser tudo psicológico. Agora, muita gente também é assintomática. Então, é importante testar”, avalia. Apesar de apresentar 38,4ºC de febre, o teste de Michelle deu negativo para Covid-19.
Depois de receber o resultado do exame, a aposentada Odete Sousa de Almeida, 68, não se sentia totalmente tranquila. “O meu teste deu negativo. Sinto-me um pouco melhor, mas tenho medo. Então, vou continuar me cuidando, porque sou bastante sensível. Sou alérgica e tenho pressão alta. Então, estou ficando muito dentro de casa”, conta a moradora de Vicente Pires.
O GDF começou os exames em maior escala nas duas regiões administrativas com mais casos no DF. O Plano Piloto tem 197 pessoas diagnosticadas, ou seja, 23,3% do total. Águas Claras aparece em segundo lugar no levantamento, com 88 casos (10,4%).
Testes
A dinâmica do drive-thru foi adotada com o objetivo de evitar aglomerações e reduzir a possibilidade de transmissões. Enfermeiros iniciam o processo com um cadastro, onde colhem dados pessoais do paciente. Após o cadastro, a pessoa faz a medição de temperatura, feita pelo Corpo de Bombeiros, com o auxílio de câmeras térmicas. Nessa etapa, os militares verificam se o indivíduo apresenta febre ou outros sinais da Covid-19. Caso haja sintomas, o paciente segue para a testagem com teste sanguíneo. O exame é similar aos exames de glicemia realizados com frequência por diabéticos. A partir do material, é possível detectar a presença de anticorpos contra o coronavírus. Nesse caso, o resultado sai em cerca de 30 minutos.
Para pessoas com sinais mais fortes da Covid-19, outro tipo de exame realizado é o swab, no qual coleta-se material da garganta e do nariz do paciente, com uma espécie de cotonete. O resultado é analisado em laboratório e sai em até 48 horas. Quem apresenta resultado positivo e está assintomático é orientado a ficar isolado, em casa. Aqueles com sintomas recebem um laudo com a confirmação e são encaminhados a uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência.
Respaldo
Ao visitar o drive-thru do Mané Garrincha, na manhã de ontem, o governador Ibaneis Rocha (MDB) aproveitou para esclarecer que moradores de qualquer região puderam realizar o teste. “Não estamos restringindo pessoas de outras regiões. Escolhemos esses dois pontos como iniciais, exatamente pelo maior índice de infecção”, reforça o chefe do Palácio do Buriti. Segundo ele, a recomendação é baseada em um estudo feito por infectologistas, que orienta dar preferência para pessoas que convivem com idosos e com pacientes com comorbidades. “Isso para que a gente evite que as pessoas assintomáticas levem a doença para eles. Mas ninguém está sendo proibido de fazer o teste. Está liberado para todo mundo”, diz o governador. No local, os profissionais da saúde distribuíram máscaras.
Para o governador, os exames feitos em escala servirão para respaldar a reabertura do comércio a partir de 3 de maio, além do retorno às aulas. “Isso vai mostrar para a população, diante dos cenários que vão aparecer no dia a dia, o grau de segurança que nós temos em relação às medidas adotadas”, explica Ibaneis. “A gente espera, com essa testagem em massa e com a distribuição de máscaras, poder abrir o comércio, no dia 3, com a segurança prometida pelo GDF”, ressalta.
Ontem, quatro bombeiros tiveram resultado positivo para o coronavírus na testagem em massa. Eles foram afastados do serviço.
Quatro perguntas para
Ana Helena Germóglio, infectologista do Hran e do Hospital de Águas Claras
O teste em massa é uma boa opção nesse momento?
Como diz o presidente da OMS (Organização Mundial da Saúde), umas das principais medidas, além do distanciamento social, é a testagem. Só assim vamos saber o número real de casos. No início da pandemia, pela escassez de recurso nos hospitais públicos e privados, os testes eram realizados em pacientes em estado grave e os que estavam internados. Até então, não sabia o real número de casos. Com essa testagem em massa, acredito que vamos ter números mais precisos dos casos no DF.
A ação pode ajudar no controle da doença no DF?
Muitos pacientes não foram diagnosticados, porque eram casos leves. Cerca de 70% da população acometida vai ter caso leve. Com a realização da sorologia e a testagem em massa, vai ter um aumento nos casos, mas, provavelmente, muitos já estão curados. O paciente que apresentar anticorpo, a gente vai saber que ele já tem imunidade. Quanto maior o número de pessoas que vierem com IgG positivo, melhor. É o que chamamos de imunidade em rebanho.
O resultado da testagem pode ser um aval para a reabertura dos comércios?
Não pode ser um aval, mas pode ajudar o governo a programar melhor a reabertura dos comércios. Acredito que a medida tem esse objetivo.
A medida deixa a população mais alarmada?
Hoje (ontem), por coincidência, passei por dois pontos de testagens, em frente à Unieuro e perto da casa do governador, em Águas Claras. As filas estavam enormes. A população não deve ficar buscando tanto pelo teste, porque existe um critério para essa testagem. A gente entende que há curiosidade para saber como é feito e se pode dar positivo. Mas vai chegar a hora para todos. O momento é de obedecer às normas para usar os testes naqueles que apresentam sintomas.
Programe-se
O quê: testagem em massa
Quando: de segunda a sexta-feira
Horário: das 8h às 17h
Onde: Estádio Mané Garrincha; estacionamentos 4, 6, 11 e 13 do Parque da Cidade; Centro Universitário Unieuro, em Águas Claras; Centro Universitário Uniplan, em Águas Claras; e Residência Oficial de Águas Claras
Como: atendimento por drive-thru por ordem de chegada
Pais rejeitam volta às aulas
Após o GDF sinalizar com volta às aulas nos colégios cívico-militares, na próxima segunda-feira, pais e responsáveis de alunos matriculados nessas instituições criaram uma petição on-line contrária à possível decisão do governador Ibaneis Rocha (MDB). O documento, assinado por mais de 5 mil pessoas, pede ao Executivo local que mantenha a suspensão das atividades educacionais até 31 de maio, com base no Decreto n° 40.583, de 1º de abril. Os pais defendem o isolamento social e temem o contágio dos familiares, sobretudo os de idade mais avançada. Se voltarem as aulas das escolas cívico-militares, cerca de 25 mil alunos deixarão a quarentena. A possibilidade de volta às aulas surgiu após reunião entre Ibaneis e o presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, na segunda-feira. O governador, no entanto, ainda não definiu a
retomada das atividades.