Garantir o atendimento médico de toda população em meio a uma pandemia é uma preocupação do sistema de saúde do Distrito Federal. Além dos casos crescentes de contaminação por coronavírus, outras doenças comuns nesta época do ano podem causar transtornos, como a lotação de hospitais e as dúvidas sobre diferentes enfermidades com sintomas semelhantes. A febre, por exemplo, é sinal tanto da Covid-19 quanto da dengue. A doença causada pelo mosquito Aedes aegypti foi responsável por 11 mortes e 18.191 diagnósticos no DF neste ano, um aumento de 63,75% no número de casos em relação ao mesmo período de 2019. Em meio a isso, há ainda a preocupação com outros vírus que afetam o sistema respiratório e aumentam com a chegada do inverno.
“Esta época é marcada por casos de dengue e infecções, principalmente, das vias aéreas superiores. E temos o H1N1 como ‘ator principal’ disso tudo”, explica o coordenador da Clínica Médica do Hospital Santa Lúcia, Marcos Pontes. Por conta disso, a Campanha Nacional de Vacinação contra a influenza foi antecipada em 30 dias. “O investimento em saúde pública é essencial neste momento. Precisamos de vigilância sanitária, vacinação em massa, educação para a população e investimentos em saúde primária para evitar casos graves.”
O médico diz ainda que essas ações devem estar em diálogo com a prevenção. “Temos que tomar cuidado para evitar inflamações respiratórias, lavando as mãos, usando álcool em gel e máscaras. Para a dengue, o principal caminho é combater focos e se prevenir de picadas.” A Secretaria de Saúde informou que constituiu uma força-tarefa para combater a doença do Aedes aegypti, atuando com a Vigilância Ambiental, agentes de saúde e o Corpo de Bombeiros. As ações são estratégicas e voltadas sobretudo para as regiões com maior incidência de casos, que são vistoriadas até mesmo com drones para verificação de possíveis focos. Mesmo assim, cidades como Taguatinga, Vicente Pires, Águas Claras, Recanto das Emas e Samambaia sofrem com os impactos da doença. Essas regiões registraram 21,7% dos casos de dengue de 2020.
Doenças e sintomas
Marcelo do Nascimento, 29 anos, mora em Samambaia. Ele foi uma das 1.060 vítimas da dengue da cidade no ano e ficou preocupado com a possibilidade de estar com coronavírus. “Em março, comecei a sentir muita indisposição e fiquei aflito.” O operador de máquina sentiu fraqueza no corpo enquanto trabalhava. “Parecia que a máquina tinha o dobro do peso”, relembra. Ao chegar em casa, estava sem apetite e mais cansado que o normal. No dia seguinte, resolveu ir até um posto de saúde. “A médica me tranquilizou em relação à Covid-19, e os exames apontaram a dengue. Fui para casa e fiquei seis dias de repouso até me recuperar.”
De acordo com Marcelo, além da mãe, que mora com ele, outros dois vizinhos foram diagnosticados com a doença. “O morador da rua de baixo, infelizmente faleceu de dengue hemorrágica.” O número de casos próximos de Marcelo aumentam devido a lotes abandonados na região. O mosquito também apareceu no condomínio da moradora de Taguatinga Ana Luiza Vargas Espadim, 17, e picou ela e a mãe. “Começamos a apresentar os sintomas no início de abril e fomos ao hospital. Durante a triagem, o médico fez exame de sangue, mas a indisposição e as dores nas juntas foram os principais sintomas relacionados com a dengue”, explicou a jovem. O repouso, a ingestão de bastante água, além de medicamentos para dor no corpo e para febre ajudaram a adolescente.
Receosa por estar no grupo de risco, Raimunda Silva, 65, toma todos os cuidados necessários para se prevenir não só do coronavírus, mas de outras doenças. “Faço de tudo para aumentar a minha imunidade e ficar saudável.”, relata. Quando o Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia, a dona de casa ficou ansiosa para tomar a vacina da influenza. “Ainda bem que adiantaram a campanha. Tomo o medicamento há cinco anos e, desde então, nunca fiquei gripada."
A idosa também toma outros cuidados com a saúde. “Eu me alimento bem e pratico exercícios. Como tenho uma esteira em casa, busco sempre usá-la”, diz. Diante do coronavírus, as prevenções aumentaram. “Evito sair de casa ao máximo, mas quando tenho que comprar comida, uso minhas máscaras caseiras, bem higienizadas, e ando sempre com o álcool em gel.”
A médica Ana Helena Germoglio, infectologista do Hospital Águas Claras, considera esses cuidados essenciais. “Temos agora um maior número de casos de gripe, resfriado comum, bronquiolite e rinite. O pico de incidência vai até julho, período em que aumenta a circulação de vírus como o vírus sincicial respiratório, influenza A e B.” Ela alerta que, no caso das doenças respiratórias, o principal sintoma é a falta de ar. “Nesses casos, é importantíssima a avaliação médica, principalmente em crianças menores, que podem desenvolver bronquiolite”, avalia.
No fim de fevereiro, a fisioterapeuta Iris Lima, 38, começou a apresentar uma forte falta de ar. “Eu tinha ido fazer um curso em São Paulo e, quando voltei, comecei a apresentar o sintoma. Fui ao médico e me diagnosticaram com pneumonia.” À época, ainda não haviam casos de coronavírus no Brasil. Mesmo assim, ela ficou assustada. “Isso porque fiquei mais de um mês com os sintomas. Não conseguia fazer nada que já sentia falta de ar e cansaço. É muito ruim sentir isso. E agora, com a pandemia, fico mais preocupada.”.
Palavra da especialista
Há doenças que têm maiores incidências neste momento por uma questão do clima. É normal que neste período exista um aumento de gripes no geral e síndromes respiratórias, por conta do frio. A campanha de vacinação acontece antes do período do inverno, justamente, para que a população entre nessa estação protegida. Neste ano, tivemos ainda uma antecipação por conta da pandemia do coronavírus, que tem sintomas semelhantes ao da gripe. Outra doença comum é a dengue, que apresenta mais casos nos meses chuvosos. Diante dessas enfermidades, a recomendação, neste momento de pandemia, é procurar unidade de saúde somente com sintomas graves, que a pessoa não consiga controlar com os cuidados na própria residência. É importante evitar aglomerações nos hospitais. Estamos realizando diversas ações de combate e recomendamos que a população faça o que estiver ao alcance. No caso da dengue, não deixando água parada e realizando a limpeza dos quintais, das caixas d'água e de possíveis focos. Em relação ao H1N1 e às síndromes gripais, se vacinando, tomando cuidados de higiene normais, como lavar as mãos e espirrar no cotovelo, e lembrando de deixar o ar circular, abrindo as janelas, por exemplo. Todo ano temos esse período de sazonalidade, mas, neste ano, precisamos ainda mais que todos se conscientizem. Camila Carloni Gaspar é coordenadora da Atenção Especializada à Saúde da Secretaria de Saúde do DF.
Dengue
Ações de combate
– Mantenha caixas d’água, tonéis e barris de água tampados.
– Mantenha garrafas de vidro ou plástico sempre com a boca para baixo.
– Encha os pratinhos ou vasos de planta com areia até a borda.
– Limpe as calhas com frequência, evitando que galhos e folhas impeçam a passagem da água.
– Em caso de identificação de focos do mosquito, acione a Vigilância Ambiental pelo telefone 160.
Fonte: Secretaria de Saúde do Distrito Federal
Principais doenças
Próximo ao inverno, a curva de doenças como dengue, H1N1 e outros vírus respiratórios apresenta uma crescente. Veja como identificar cada doença:
Dengue
É uma doença febril grave transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que precisa de água parada para se proliferar. Os principais sintomas são: febre alta superior a 38,5ºC, dores musculares intensas, dor ao movimentar os olhos, mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas no corpo. A prevenção pode ser feita combatendo focos do mosquito, que são locais com água parada, e evitando picadas com repelentes. Moradores do DF que suspeitem dessa doença podem procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima da residência.
H1N1
A gripe causada pelo vírus influenza A (H1N1) é semelhante a outros vírus respiratórios e segue a mesma recomendação preconizada para todos os tipos de gripe. A transmissão é semelhante à Covid-19. Pode ocorrer de forma indireta ao tocar, com as mãos, uma superfície ou um objeto contaminado com o vírus da influenza e, em seguida, tocar os olhos, a boca ou o nariz. Os sintomas são febre, tosse, dor de garganta, dor de cabeça ou no corpo. A principal prevenção é a vacina, mas também recomenda-se medidas de etiqueta respiratória, como evitar tossir ou espirrar nas mãos, cuidados com higiene e com ventilação de locais fechados. Moradores do DF com suspeita da doença devem ficar atentos aos sintomas. Caso eles sejam graves, como febre intensa ou falta de ar, é necessário procurar o hospital mais próximo da residência.
Fonte: Secretaria de Saúde do Distrito Federal
Vacinação de influenza no DF
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal disponibilizou 128 postos de vacinação para a população. De acordo com a pasta, até a mais recente atualização, 353.339 pessoas foram imunizadas na primeira etapa. Do total, 266.525 eram idosos, o que corresponde a 130% da meta proposta para esse público; e 79.580 profissionais de saúde, 78,02% da meta para esse grupo. A estimativa é que o Distrito Federal atinja 1.015.600 doses até 22 de maio.
Cronograma
- Até 22 de maio: pessoas com mais de 60 anos, profissionais da saúde, professores, profissionais das forças de segurança e salvamento, pacientes com doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas.
- 9 a 22 de maio: crianças de 6 meses a menores de 6 anos, gestantes, puérperas (até 45 dias após o parto), povos indígenas, adolescentes e jovens de 12 a 21 anos sob medidas socioeducativas, população privada de liberdade, funcionários do sistema prisional, adultos de 55 a 59 anos de idade e pessoas com deficiência.
Fonte: Secretaria de Saúde do Distrito Federal