Correio Braziliense
postado em 20/04/2020 06:00
O Distrito Federal é a 13º unidade da federação no ranking do Ministério da Saúde de contaminações pelo novo coronavírus. A capital do país registrava ontem 861 casos e 24 mortes. Mas informações referentes ao registro civil dos cartórios relacionadas à causa de mortes levantam uma dúvida sobre o real cenário da pandemia que já contaminou mais de 2,3 milhões de pessoas no planeta.
Como se sabe, doenças pulmonares são a principal causa de óbito por Covid-19. E os números de mortes com esse tipo de complicação cresceram neste ano em relação a 2019, segundo o Portal da Transparência do Registro Civil. Entre janeiro e abril do ano passado, 864 pessoas morreram de pneumonia no Distrito Federal. Do primeiro dia de janeiro até ontem, o número de óbitos com essa causa chega a 931.
Mortes por insuficiência respiratória também subiram. Em 2019, 478 pessoas perderam a vida nessa situação. Neste ano, houve 544 casos.
O presidente da Associação dos Notários e Registradores do DF (Anoreg-DF), Allan Nunes Guerra, explica que os dados são absolutamente confiáveis. Os cartórios transcrevem para o registro de óbito o que veio na Declaração de Óbito - DO, como causa da morte. “Não posso opinar acerca do que o médico declara como causa da morte. Mas, rigorosamente, o que ele declara vai para o registro de óbito“, explica Allan.
As subnotificações provocam discrepâncias em relação ao cenário da pandemia do novo coronavírus. Por isso, o Governo do Distrito Federal pretende realizar dois mil testes por dia a partir desta semana. Os exames serão feitos prioritariamente em pessoas que tenham algum dos sintomas da Covid-19 (febre, tosse, dor no corpo e na garganta, principalmente), ou que tenham mantido contato com pacientes infectados. Servidores das áreas de saúde e segurança que estão mais expostos ao coronavírus também serão tratados com prioridade nos testes.
Desde o início da pandemia, o Distrito Federal realizou 10.208 exames na rede pública e nos laboratórios particulares. A média é de 3.645 testes por milhão de habitantes. Os Estados Unidos fazem o dobro: 7.101 por milhão.
Com 47 casos a mais confirmados ontem, o Distrito Federal registrou 861 pacientes infectados com a Covid-19. Os números são de dados compilados pela Secretaria de Saúde, até às 18h. Desses, 543 apresentam infecções leves, 46 moderadas e 17 de infecção grave. Além das confirmações, outros 120 casos estão sendo analisados. No fim de semana, o DF não registrou mortes. O número de óbitos permanece 24: 11 mulheres e 13 homens. Todos apresentavam alguma comorbidades ou tinham mais de 60 anos.
O boletim divulgado pela Secretaria de Saúde também mostrou um aumento nas recuperações. Segundo a pasta, 67% (582) dos pacientes estão curados.
Para a infectologista Ana Helena Germoglio, é possível mais pessoas estarem curadas da doença. “A gente não testa mais pacientes que não ficam internados, então é possível que tenham mais. A recuperação dos casos leves é da mesma forma de quadros gripais”, explica.
Alerta
No fim de semana, o Ministério da Saúde afirmou que o DF deixou o estado de emergência e segue em estado de atenção, uma vez que os casos estão crescendo abaixo da média nacional. Porém, o aumento dos números da doença são a prova de que ainda é preciso ficar em vigilância.
Para a infectologista, a recomendação ainda é permanecer em casa. “Isso pode dar para a população a falsa sensação de que está tudo certo. A gente pode ter vencido a primeira batalha, mas a guerra não acabou. Percebi hoje (ontem) muita gente na rua, mas ainda precisamos ficar vigilantes. Não é porque estamos fora do estado de emergência que está tudo bem”, alerta Ana Helena.
Outro ponto levantado pela infectologista é em relação à importância de a doença não chegar às regiões administrativas mais pobres. Segundo os dados divulgados ontem, o Plano Piloto ainda é a área com a maior concentração de casos da doença no DF. São 194, correspondente a 22,5% do total, seguido de São Sebastião (11,%), devido aos infectados no Complexo da Papuda, e Águas Claras (9,2%). “Grande parte da população da periferia não tem plano de saúde e se muitas pessoas ficarem doentes ao mesmo tempo, o Sistema Único de Saúde (SUS) não aguenta”, diz.
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