Cidades

Isolados, mas perseverantes

Mais de um mês após as medidas de distanciamento social entrarem em vigor, moradores do DF e Entorno falam sobre as sensações mais frequentes durante o período de pandemia. Especialistas na área da psicologia lembram a necessidade de reagir e dão sugestões de como ajustar a rotina para encarar esta fase

Adaptar-se nunca foi tão necessário. Diante de um panorama considerado sem precedentes em inúmeras áreas, o ajuste a uma vida dentro de casa se tornou medida essencial para evitar o aumento abrupto dos casos da Covid-19. Em muito lares, a experiência ao longo de um mês de confinamento abriu brecha para sentimentos de medo, estresse, angústia, apreensão. Ao mesmo tempo, criatividade, altruísmo, empatia e união se mostram imprescindíveis. A maioria dos brasilienses entende a importância das medidas de isolamento social, apesar das dificuldades impostas.

As medidas de restrição no Distrito Federal começaram a valer em 11 de março, com a publicação de um decreto que suspendeu eventos que precisassem de alvará, além das aulas de toda a rede de ensino. De lá para cá, a população precisou encontrar meios de levar a vida adiante ficando em casa o máximo possível. Órgãos oficiais de saúde lembram constantemente que, para evitar a sobrecarga do sistema e garantir o atendimento das demandas, quanto menos pessoas nas ruas, melhor.

Pesquisadores da área da psicologia explicam por que o isolamento gera tantos efeitos emocionais e destacam a importância de manter o contato com amigos e parentes (leia Dicas). Pós-doutora em situações de catástrofes e luto, a psicóloga Rosana Dorio Bohrer destaca que o cenário de mudanças gera um processo de rompimento do “mundo presumido”. “Na vida, vamos criando estratégias para um futuro previsível. De repente, acontece algo que faz esse mundo presumido cair por terra. A pessoa se sente impactada, porque não era algo que ela previa”, descreve.

Incertezas

Rosana comenta que, no início, a negação é uma resposta comum e que, com o tempo, pode surgir a sensação de impotência. “Situações extremas nos levam a mostrar mais nossos impulsos. O mais importante é que são reações normais para situações anormais. Emergências ou catástrofes podem nos levar ao nosso melhor ou ao nosso pior. Esta pandemia vai gerar um sentimento de realidade. Antes, tínhamos uma sensação ilusória de segurança e continuidade. Hoje, sabemos que o mundo presumido nem sempre se sustenta”, afirma a psicóloga.

Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva observa que a mudança no estilo de vida provoca incertezas sobre o futuro e que pode gerar sentimentos de ansiedade, incerteza, bem como de insegurança. “Hoje, percebemos claramente três situações importantes: pacientes que têm quadros psiquiátricos que nunca apresentaram; pacientes psiquiátricos tendo recaídas durante o tratamento; e a volta de quem tinha recebido alta. O que mais aparece são quadros de transtorno por estresse pós-traumático”, relata o médico.

Rotinas

Em nível profissional, as adequações requerem o desenvolvimento de estratégias. Professora da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora na área de mudança organizacional e de gestão da mudança, Elaine Rabelo Neiva ressalta que as pessoas terão de aprender a gerenciar a vida pessoal e o trabalho. “É preciso criar um script. Muitos falam em rotina. Isso envolve como a pessoa vai se dividir entre as tarefas domésticas, as do trabalho, como vai gerenciar demandas do restante da família. Além de criar rotinas de coisas que sejam prazerosas, para que a vida não se limite a cuidar de casa, filhos e trabalho”, recomenda Elaine.