Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 16 de janeiro de 1985 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.
Por uma diferença de 300 votos, os candidatos da Aliança Democrática, Tancredo Neves e José Sarney, foram eleitos ontem presidente e vice-presidente da República, pelo Colégio Eleito: eles obtiveram 480 votos, contra 180 conferidos aos candidatos do PDS, deputados Paulo Maluf e Flávio Marcilio. Houve 17 abstenções e 9 ausências. O anúncio do resultado da votação, às 12h30min, foi feito pelo presidente do Congresso, senador Moacyr Dalla, sob intensos aplausos, num clima de muita alegria.
O momento maior da festa ocorreu quando o deputado João Cunha (PMDB/SP) proferiu o 344º voto, que garantiu a vitória de Tancredo Neves e José Sarney, às 11h35, antes de Maluf votar. Por todo o plenário, os eleitores dos candidatos da Aliança Democrática batiam palmas, agitavam bandeiras do Brasil e até mesmo um chapéu de palha e subiam nas mesas para comemorar. Das galerias, caíam papéis, enquanto João Cunha declarava que há 21 anos atrás havia pensado “que o sonho de uma grande Nação tinha acabado”.
- Com o meu voto - acrescentou o deputado - damos um golpe final contra a ditadura fascista. Voto em Tancredo Neves, na vitória - exclamou João Cunha.
Às 12h21, foi feita a segunda chamada, para a votação dos ausentes durante a primeira. Maluf deixou o plenário três minutos depois, pouco antes de Dalla anunciar que Tancredo Neves havia alcançado a maioria absoluta de votos.
Dezessete integrantes do Colégio Eleitoral se abstiveram, entre eles o líder do PDS, deputado Nélson Marchezan (RS), os deputados federais Victor Faccioni (RS) e Nilson Gibson (PE), e três delegados de Santa Catarina. Não compareceram ao Colégio Eleitoral nove de seus membros: os senadores Amaral Peixoto (PDS-RJ) e Jaison Barreto (PMDB/SC), este contrário ao pleito indireto, os deputados federais Júlio Caruso (PDT/RJ) - que está doente - e Jarbas Vasconcelos (PMDB/PE) - também contrário à participação no Colégio -, e cinco deputados federais do PT: Eduardo Suplicy, Irma Passoni, José Genoino e Djalma Bom, de São Paulo, e Luiz Dulci (MG), seguindo diretriz do partido.
A eleição transcorreu num clima de muita tranqüilidade. Por três vezes apenas houve vaias: quando o deputado malufista Eduardo Galil (PDS/RJ) levantou questão de ordem visando ao desmembramento do voto para presidente e para vicepresidente; no momento em que o deputado Agnaldo TImóteo (RJ) votou em Maluf, condenando os “desertores, oportunistas, fisiológicos e demagogos”, e na hora em que Marchezan se absteve de votar.
Vários eleitores pronunciaram algumas frases antes de emitirem seu voto. Os malufistas - alguns expressando seu orgulho - justificavam o voto em nome da coerência, da fidelidade e da dignidade partidária, do fortalecimento dos partidos ou a lealdade ao presidente Figueiredo, como declarou o deputado Alcides Franciscato (PDS/SP), contra a traição ou contra os empresários que enriqueceram, conforme afirmou o deputado Rubens Ardenghi (PDS/RS), ou em nome da vocação democrática das Forças Armadas, de acordo com o que disse o deputado Jorge Arbage (PDS/PA).
Nas rápidas declarações de voto, foram lembrados Teotônio Vilela, Getúlio Vargas, João Goulart, Juscelino Kubitschek, Nilo Coelho, Rubens Paiva, Renato Azeredo e Wladimir Herzog, por eleitores de Tancredo Neves. Muitos integrantes do Colégio votaram em novo do povo, que não pôde eleger seu presidente.
Houve também declarações como a do deputado Jorge Eudes (PT/RJ), que só votou em Tancredo, e não em Sarney; do delegado Samuel Peixoto (AM), que votou em Tancredo por não ter melhor opção; do deputado Antônio Morais (CE), que citou o padre Cícero. Um eleitor votou portanto um cartaz em favor de Tancredo Neves. Em algumas declarações, foram citados o senador Sarney, o deputado Ulysses Guimarães e o vice-presidente Aureliano Chaves.
A Frente Liberal foi várias vezes citada, e dois delegados do Maranhão Edivaldo de Holanda e José Ribamar Elouf - condenaram, respectivamente, “as metralhadoras que envergonharam o Maranhão e o Brasil” e a “coação aos parlamentares”.
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