O governador Ibaneis Rocha (MDB) avalia liberar o funcionamento de todo o comércio do Distrito Federal em 3 de maio. Desde o início de abril, o emedebista iniciou um processo de flexibilização no setor e autorizou algumas atividades a abrir as portas. A data prevista pelo chefe do Palácio do Buriti para a reabertura segue a definição do decreto que ampliou o isolamento na capital federal por causa da pandemia do novo coronavírus. “As condições apontam para o cumprimento do decreto”, adiantou Ibaneis.
De acordo com a análise dele, o pico da contaminação no DF deve ocorrer nos próximos dias. Devemos chegar a 1 mil casos até 30 de abril”, previu. Escolas e outras atividades que possam gerar aglomeração, no entanto, devem continuar fechadas pelo menos até junho, de acordo com a análise oficial. O entendimento do GDF é de que as medidas tomadas com agilidade — o DF foi uma das primeiras unidades da Federação a restringir atividades — se mostraram eficazes e barraram o crescimento descontrolado da Covid-19. Durante o período de maior distanciamento, o governo local investiu na compra de testes e na preparação de mais leitos.
Na terça-feira, o governador liberou o funcionamento de ópticas e, na semana passada, autorizou que lojas de móveis e eletrodomésticos abrissem as portas para os clientes, além de atividades do Sistema S. Antes disso, também puderam voltar a funcionar as agências bancárias.
Preparação
Ontem, o governador e alguns secretários se reuniram com entidades do setor produtivo para debater alternativas que viabilizem o retorno das atividades, inclusive de shoppings. O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia, participou da discussão e destacou que a abertura deverá seguir condições que garantam segurança da população e de trabalhadores.
Maia adianta que, na reunião, Ibaneis afirmou que a possibilidade da liberação de restaurantes, bares e eventos em 3 de maio é próxima de zero. “Esses são setores mais impactados pela crise, mas ele nos deixou claro que, pela avaliação de hoje, não é possível, porque o risco é muito grande e não há condições de abertura”, comentou.
Em contato com outras entidades e sindicatos, a Fecomércio elabora um documento para balizar esse novo momento, com a apresentação de normas e orientações em busca de segurança. “Estamos preparando esse estudo com sugestões do que pode ser feito. O empresário precisa estar muito ciente desse novo cenário. Não é só reabrir como era antes, vamos precisar ter controle do número de pessoas, disponibilizar máscaras, álcool em gel”, frisa. “A população também precisará ter consciência e entender a situação. Por isso, defendemos que existam campanhas informativas”, acrescenta.
Riscos
O isolamento social é a única maneira de combater a disseminação do novo coronavírus no Distrito Federal, segundo o diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José David Urbaez. Ele explica que as medidas de restrição servem para achatar a curva de crescimento da doença, porém, a população tem dificuldade de compreender isso. “Temos dois fenômenos acontecendo. O primeiro é a ignorância, porque há muitos antidiscursos, e as pessoas acabam desacreditando daqueles que se dedicam ao estudo. Além disso, há a insegurança. O medo está tão intenso, que muitos começam a pensar que nada está acontecendo e levam uma vida normal. Com isso, a gente paga com milhares de vidas”, lamentou.
José David acredita que a capital está longe do pico da doença. “Cada cidade do país teve introdução do vírus de forma diferente, o que altera a curva. Goiás, por exemplo, é aqui do lado, e tem uma situação bem diferente. É um cenário que temos pouca certeza. O isolamento antecipado no DF, antes de ter mortes, teve potência para diminuir a propagação do vírus, para que hoje a capacidade do sistema de saúde ainda esteja preservada”, alertou.
O estudioso defende que o isolamento na capital evita cenários como os de Nova York, nos Estados Unidos, e do Equador, onde o sistema de saúde entrou em colapso. “É importante frisar que as restrições devem ser mantidas. Se você afrouxar, o vírus se propaga. Temos poucas chances de ter medida que tenha efeito a curto prazo. O ideal é insistir, ficar firme e fazer o que está sendo sugerido por meio da ciência”, reforçou. O especialista ressaltou que a maioria dos casos está concentrada em regiões como Plano Piloto e Lago Sul e que a situação deve piorar quando a doença chegar às periferias, onde há maior dificuldade de aplicar o distanciamento.
Na quarta-feira, uma recomendação conjunta dos ministérios públicos Federal, do Trabalho, do DF e de Contas do DF também questionou o afrouxamento do isolamento no DF e pediu esclarecimentos do governo local sobre quais estudos e critérios foram usados para embasar a liberação das atividades.
- Linha do tempo
14 de março
» Aulas (foto) e eventos com público superior a 100 pessoas são suspensos por 15 dias
19 de março
» A atividade comercial do DF é suspensa. Mercado, farmácias e padarias, considerados serviços essenciais, são liberados para abrir as portas
27 de março
» Lotéricas, correspondentes bancárias, lojas de conveniência e minimercados de postos de combustíveis recebem autorização para funcionar
1º de abril
» GDF estende restrições do comércio até 3 de maio, mas libera feiras permanentes que vendem alimentos
7 de abril
» O Executivo local permite a abertura de agências bancárias públicas e privadas
9 de abril
» Lojas de móveis e eletroeletrônicos da capital também recebem permissão para abrir
14 de abril
» Governo autoriza também que ópticas abram as portas para os clientes