Correio Braziliense
postado em 16/04/2020 06:00
Mesmo após as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e a adoção de medidas de isolamento no Distrito Federal até, pelo menos, 31 de maio, a população insiste em sair de casa. Ontem, o Correio percorreu cidades do DF e flagrou centenas de pessoas sem máscaras e aglomeradas, mesmo em situações não consideradas essenciais. O cenário se estende desde a área central de Brasília até regiões como Águas Claras, Ceilândia e Taguatinga.
Na Rodoviária do Plano Piloto, cerca de 10 ambulantes vendiam produtos expostos no chão da Plataforma Superior. Vendedores de chips de celular também se amontoavam nas escadas do terminal e abordavam quem passasse. Alguns ônibus chegavam lotados, com passageiros em pé, como um da linha 0.166, que faz o trajeto Cruzeiro—L2 Sul.
Angélica Cordeiro, 39 anos, mora em Santa Maria e, desde o início da quarentena, tem ficado em casa por medo de ser infectada pelo novo coronavírus. Ontem, ela precisou ir ao banco e desembarcou na Rodoviária do Plano, mas ficou apreensiva com a situação. “A minha mãe tem 82 anos. Evito sair para não levar a doença para ela. Entendo que todos estão preocupados com os empregos e com a economia local, mas as pessoas não têm tido noção do perigo que corremos e parecem ignorar o isolamento. Aqui (na Rodoviária), é nítido que ninguém está nem aí”, criticou.
Algumas pessoas dizem não se importar com o isolamento e defendem a abertura total dos comércios. É o caso de Maria da Penha, 55, que mora em São Sebastião e trabalha em um armarinho, no Plano Piloto. Ontem, ela foi a um shopping na tentativa de pagar uma conta, mas se surpreendeu. “Achei que estivesse aberto, mas cheguei e me deparei com ele fechado. Acho que tudo deveria voltar ao normal, porque necessitamos do comércio. Não tenho medo”, afirmou a vendedora.
Em Águas Claras e Taguatinga, havia paradas de ônibus lotadas. E congestionamento na via que leva a Ceilândia e a Samambaia. Para o psicólogo social e professor da Universidade de Brasília (UnB) Wanderley Codo, a desatenção para ao isolamento social se deve, principalmente, às oscilações dos governantes. “A população acaba se espelhando nos líderes. Com certeza, como consequência, teremos problemas extremamente graves de saúde pública, se mantivermos essa ambiguidade. Precisa-se de uma postura firme por parte das autoridades”, cobrou.
Ainda que circulação continue grande no DF, a capital ocupa o primeiro lugar em um ranking da empresa nacional de tecnologia In Loco. No último balanço, divulgado na segunda-feira, o índice de isolamento do DF chegou a 55,9% (veja Estimativas). Os números levam em conta um banco de dados com informações de cerca de 60 milhões de brasileiros, coletadas por aplicativos de celulares parceiros da companhia.
A Google também tem agregado dados na pandemia e divulgado balanços periódicos sobre deslocamentos no mundo. No caso do Brasil, a variação dessas taxas é comparada com base na média de locomoção observada para um mesmo dia da semana, entre 3 de janeiro e 6 de fevereiro. No DF, segundo relatório da empresa, a quantidade de pessoas que estão em casa subiu 17% em 5 de abril. O índice é o segundo maior entre as 27 unidades da Federação.
Críticas
Manifestações pela flexibilização das medidas de isolamento ficaram mais frequentes no DF. Na semana passada, feirantes fizeram uma carreata na Esplanada dos Ministérios para pedir a reabertura do comércio . Três dias depois, na mesma data em que a categoria voltou a protestar na área central de Brasília, uma mulher percorreu Águas Claras em um carro de som para incentivar a saída das residências.
Mas o contrário também acontece. Carros de som e caminhões do Corpo de Bombeiros passam por locais como Águas Claras, Octogonal, Riacho Fundo, Sudoeste, Taguatinga e Samambaia alertando a população sobre os riscos. Além disso, a DF Legal e a Polícia Militar atuam em parceria e orientam os brasilienses sobre o perigo das aglomerações.
Ontem, o subsecretário de Vigilância à Saúde do DF, Eduardo Hage, criticou os protestos a favor da reabertura de comércios. “Temos de evitar essas manifestações que são contrárias a todas as evidências científicas.” Ele ressaltou que a taxa de isolamento social precisa se manter nos 70%. “Isso significa que um menor número de pessoas vão ser internadas todos os dias”, completou. Por enquanto, não há previsão de medidas mais duras para quem descumprir as normas de isolamento estabelecidas pelo GDF. Mas há um novo decreto em estudo que pode prever o uso obrigatório de máscaras nas ruas.
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