Cidades

Povo lava alma em festa da vitória após Câmara tirar Collor do Governo

 Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 30 de setembro de 1992 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram

 

Milhões de brasileiros comemoraram até hoje de madrugada a decisão da Câmara dos Deputados, que acatou ontem por 441 votos a favor, com 38 contra, uma abstenção e 25 ausências, a acusação de crime de responsabilidade contra o presidente Fernando Collor. Hoje, às 10h, o presidente Câmara, Ibesen Pinheiro, leva a decisão ao presidente do Senado, Mauro Benevides. A partir de então estará autorizada a instalação do processo de impeachment no Senado Federal, e o presidente Fernando Collor deve ser comunicado ainda hoje de seu afastamento da Presidência por 180 dias ou até a conclusão do julgamento do processo.

 

O Brasil inteiro parou para acompanhar a votação do pedido de impeachment. Nas principais capitais do País milhões de pessoas ficaram grudadas nos telões torcendo e vibrando voto a voto. No vale do Anhagabau, em São Paulo; na Cinelândia, no Rio; na Praça Sete, em Belo Horizonte; ou na rampa em frente ao Congresso Nacional, foi uma só explosão de alegria quando os dois terços dos votos necessários foram alcançados. Carapintadas, sindicalistas, gente do povo, numa grande festa cívica, trocaram o clima de ansiedade pelo de carnaval, quando foi anunciado o voto de número 336 pró-impeachment. Na rampa do Congresso, mais de cem mil pessoas que acompanhavam a votação, a maioria jovens, não seguraram mais a emoção. Os meios governamentais e financeiros americanos receberam com alívio a notícia da aprovação do pedido de impeachment, embora mantivessem a apreensão sobre os rumos que o País tomará após a posse de Itamar Franco.

 

Decisão acatada e comissão vai fazer transição

Em comunicado à Nação feito pelo ministro da Justiça, Célio Borja, o presidente Collor disse que está disposto a acatar a decisão da Câmara e de se submeter ao julgamento do Senado, prometendo enfrentar todas as etapas do processo da maneira mais civilizada possível. Collor vai preparar sua defesa e não renunciará. Célio Borja anunciou a criação de uma comissão de transição, coordenada por ele, para preparar o governo do vice-presidente Itamar Franco, que deve ser convocado ainda hoje pelo Senado para assumir a Presidência. Os atuais ministros permanecerão no cargo até completar-se a transição. Célio Borja participa de várias reuniões hoje no Palácio do Planalto, coordenando a passagem de governo.

 

Itamar apressa composição do seu Ministério

O vice-presidente Itamar Franco pretende fechar ainda hoje a composição do seu Ministério, que deverá passar por nova reforma com o restabelecimento do Gabinete Civil, os ministérios da Fazenda e Planejamento, Indústria e Comércio, Interior, Educação, Cultura e Esportes, entre outros. Hoje, os presidentes do PMDB, Orestes Quércia; do PT, Luís Inácio Lula da Silva; e do PSDB, Tasso Jereissati, se reúnem pela manhã para discutir os novos rumos com o governo Itamar, que já tem alguns nomes certos para sua equipe, como o senador Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), para o Itamarati, ou Maurício Corrêa (PDT-DF), para a Justiça. Ontem, só o PT ainda se negava a participar com cargos no novo Governo.

 

 

 

 

 

 

 

Tags