Cidades

Em 1992, impeachment tinha aprovação de 80% dos brasilienses

Correio Braziliense
postado em 16/04/2020 06:01 / atualizado em 16/09/2020 14:38

[FOTO1]Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 29 de setembro de 1992 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram

 

Se os brasilienses fossem convocados a votar no lugar dos parlamentares para definir o destino do presidente Fernando Collor de Mello, o impeachment passaria com pelo menos 80 por cento dos votos da população local. Isto é o que aponta uma pesquisa de opinião realizada pela Soma Opinião e Mercado em todo o Distrito Federal com exclusividade para o Correio Braziliense. Pela pesquisa, apenas 11 por cento da população votariam contra o afastamento do Presidente e outros nove por cento estão indecisos enquanto ao processo de impeachment.

 

A pesquisa também mostra que a maioria dos brasilienses acredita que pelo menos metade da bancada do DF na Câmara dos Deputados vai votar hoje pelo impeachment do Presidente. A população está apostando no sim de Augusto de Carvalho (PPS), Chico Vigilante (PT), Maria Laura (PT) e de Sigmaringa Seixas (PSDB). Em média, cerca de 79 por cento dos brasilienses apostam que esses parlamentares votam pelo afastamento de Collor de Mello.

 

A expectativa dos brasilienses é a de que pelo menos mais dois parlamentares da bancada do DF votem pelo impeachment. Pela pesquisa, cerca de 72 por cento da população local ainda acreditam no voto favorável de Benedito Domingos e de Eurides Brito, ambos do PTR, o partido do governador Joaquim Roriz. Apenas 60  por cento acreditam no voto favorável de Osório Adriano (PFL) e 73 por cento não têm dúvidas de que Paulo Octávio votará contra o afastamento do Presidente.

 

Na opinião dos brasilienses, o governador Joaquim Roriz mantém seu apoio ao Presidente da República, conforme apurou a pesquisa realizada pela Soma em todo o DF. De acordo com os levantamentos, 65 por cento dos moradores da Capital Federal acham que Roriz apóia Collor integralmente. Cerca de oito por cento crêem que ele apóia, mas em parte, cerca de 18 por cento acreditam que não há apoio a  Collor e aproximadamente oito por cento não souberam responder.

 

A pesquisa foi realizada no dia 25 passado com a aplicação de 594 questionários, estruturados com cotas de idade e sexo que, segundo o diretor de Pesquisas da Soma, Ricardo Penna, refletem o perfil do universo da população do DF. Entre os pesquisados, 127 moram no Plano Piloto; 103 em Taguatinga; 127 na Ceilândia; 36 no Cruzeiro; 31 em Planaltina; 36, Samambaia; 49;, Gama; 43 em Sobradinho; 12, Núcleo Bandeirante e 30 no Guará. Pela técnica empregada, as margens de erro dos questionários válidos são de 4,3 por cento para mais ou para menos, mas a margem de confiança é de, no mínimo, 95 por cento.

 

Desvantagem

Com base na posição dos brasilienses em relação ao impeachment, o nível de aceitação do presidente Fernando Collor vem caindo significativamente em Brasília desde a eleição presidencial. No primeiro turno da eleição, Collor recebeu 172 mil 715 votos dos eleitores locais, contra 220 mil 600 dados a Lula. No segundo turno, novamente a vantagem foi para Lula, que recebeu 451 mil 780 votos, contra 268 mil 962 votos destinados a Collor, respectivamente 59,4 e 35,3 por cento, de um total 760 mil 516 votos válidos do DF.

 

Cidade vive um dia de grande movimentação

Brasília volta hoje a ser o centro das atenções de todo o Brasil e até de alguns veículos de comunicação de outros outros países. A cidade deve parar para assistir à votação do pedido de impeachment do presidente Fernando Collor. Várias paralisações de trabalhadores foram programadas para hoje. Uma grande concentração popular está prevista para a tarde no gramado do Congresso Nacional. O clima na cidade e os hotéis já indicavam o início de uma semana diferente.

 

O fluxo de parlamentares e lideranças políticas foi intenso no aeroporto de Brasília. Pela manhã, vôos vindos de diversos estados traziam pessoas que queriam assistir de perto o momento histórico que o País está vivendo. Os atendentes das companhias aéreas registraram que o fluxo de passageiros era consequências da votação d pedido de impeachment. Um grupo de parlamentares paulistas chegou ontem pela manhã e no aeroporto já foi abordado pelos jornalistas.

 

A própria presença da imprensa no aeroporto já indicava um dia anormal. Nos hangares das companhias de táxi aéreo, a movimentação também foi intensa. O ex-governador de São Paulo e atual presidente do PMDB, Orestes Quércia, foi um dos chegou à cidade de jatinho. O grande número de jornalistas chamou a atenção das pessoas que estavam no aeroporto. A expectativa para hoje é de que a movimentação durante a manhã também seja intensa.

 

Hotéis

 

Os hotéis da cidade estão registrando taxas de ocupação bem acima das verificadas nesta época do ano. Para hoteleiros, o movimento aumentou por causa do momento político. O Naoum Plaza Hotel, por exemplo, está com suas acomodações lotadas. De acordo com o chefe do Departamento de Reserva do Hotel, Arthur Iguewsky, o movimento melhorou muito desde a semana passada. “Estamos lotados desde  a semana passada. Os hóspedes se dividem entre participantes do Congresso de Pneumologia e as pessoas que vieram para a cidade em função da votação do impeachment”.

 

No Hotel Nacional, a gerência informou que a taxa de  ocupação subiu mais de 50 por cento. Ontem, o hotel estava com 50 por cento de ocupação e, para hoje, a previsão é que 70 por cento dos apartamentos estejam ocupados. A gerência registrou uma presença anormal de jornalistas brasileiros e estrangeiros que vieram acompanhar a votação do impeachment. O nível de ocupação no Kubitschek Plaza Hotel também superou a casa dos 70 por cento. Várias reservas foram feitas para ontem à noite e hoje de manhã.

Bares

 

Os bares da cidade também estão participando do clima político. Em vários deles, televisões foram colocadas em pontos estratégicos para que seus fregueses acompanhem todos os passos dos acontecimentos na Câmara dos Deputados. O Libanus, na 206 sul, promete, além da televisão, um prato especial com o sugestivo nome de “Impeachment”. Os ingredientes do prato ainda não tinham sido definidos até ontem, mas o gerente do bar disse que a criatividade não iria faltar.

 

Esquema de segurança é o maior da história

 

Brasília terá hoje o maior esquema de segurança de toda a sua história, envolvendo 13 mil 500 policiais, oito mil deles espalhados pela Esplanada dos Ministérios e Praça dos Três poderes. O esquema foi montado em função da votação do pedido de impeachment do presidente Fernando Collor na Câmara dos Deputados e, segundo Edes Costa, o contingente utilizado supera em 60 por cento o efetivo mobilizado na visita do papa João Paulo II no ano passado.

 

O esquema de segurança foi apresentado à imprensa ontem no Teatro Nacional, onde funcionará o comando especial do policiamento. O esquema será supervisionado pelo próprio secretário de Segurança Pública, coronel João Manoel Brochado, e envolverá, além da PM, viaturas e homens do Detran, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Polícia Civil. O planejamento estratégico do esquema divide os pontos que deverão contar com maior policiamento em 12 áreas, englobando o setor central da cidade e a Casa da Dinda.

 

Segundo o coronel Edes Costa, o planejamento teve como princípio o emprego maciço de todo o efetivo do DF atuando preventivamente. Todos os quartéis entraram de prontidão ontem e o esquema de segurança será acionado a partir das 8h de hoje. Pela manhã, três mil policiais já estarão espalhados na Esplanada dos Ministérios e áreas adjacentes. Ao meio-dia, o efetivo aumenta para seis mil e, no horário da votação do impeachment o policiamento atinge oito mil homens. Os pontos mais críticos, segundo o comandante da PMDF, são a Rodoviária do Plano Piloto, os ministérios, a Praça dos Três Poderes e os setores comercial e bancário.

 

A Casa da Dinda continuará sob a proteção de um forte aparato policial. O fluxo de pessoas será controlado num rio de um quilômetro da residência do presidente Collor. O acesso de manifestantes está proibido. Cem homens da PMDF e suas lanchas farão a segurança da área, que também terá a proteção do Exército. De acordo com o coronel Edes Costa, os policiais atuarão em todos os postos com os armamentos usados no dia-a-dia. “Nesse sentido, eles estarão atuando como em outros dias. Apenas reforçamos para a tropa, que estamos a serviço do cidadão e devemos cumprir nossos deveres com obediência dos direitos humanos e respeitando as leis. A segurança das instituições também será preservada”, disse ele.

 

Manifestações

 

O coronel garantiu o direito de livre manifestação na cidade, mas explicou que os policiais estarão alertas para evitar confrontos entre facções de idéias diferentes e depredação do patrimônio público. A hipótese de rejeição do pedido de impeachment está sendo considerada pela PMDF. “Estamos preparados para qualquer tipo de reação da população. O que não desejamos é a losangelização (sic) da cidade”, disse o coronel, referindo-se a confusão que tomou conta de Los Angeles (EUA) depois de uma decisão da Justiça que desagradou parte da opinião pública americana.

 

O comandante da PM calcula que cerca de cem mil pessoas deverão se concentrar hoje na Esplanada dos Ministérios. Já os sindicalistas prevêem 200 mil manifestantes nas proximidades do Congresso Nacional. A Polícia Rodoviária montará barreiras nas estradas que dão acesso à cidade para orientar possíveis caravanas. “A intenção é apenas orientar as caravanas sobre os locais de estacionamento e as vias de acesso”, explicou Edes Costa.

 

Trânsito

 

O trânsito na Esplanada não será interrompido, mas por causa do grande fluxo de pessoa e veículos que tomará conta das principais vias que dão acesso ao Congresso Nacional, a PM pede que se evite a utilização daquelas áreas. O policiamento também vai tentar evitar o consumo de bebida alcoólicas no gramado da Esplanada dos Ministérios. “As bebidas acabam levando as pessoas a tomarem atitudes condenáveis. Os ambulantes poderão vender normalmente refrigerantes e alimentos”, argumentou o coronel Edes Costa.

 

O policiamento nas cidades-satélites também será especial hoje. Os policiais vão se concentrar nos locais onde normalmente se realizam manifestações. Em vários pontos do DF, equipes da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros estarão preparadas para atender quaisquer emergências. Na Esplanada, seis unidades volantes de emergência vão prestar socorro aos manifestantes.

 

 

 

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