Com a escalada gradativa dos casos de coronavírus no Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha adotou uma série de medidas visando o isolamento social. Entre elas o fechamento de bares e restaurantes, por decreto publicado no Diário Oficial (DODF), em 19 de março. Com a ameaça da pandemia, empresários fazem o possível para manter o negócio em funcionamento. É o que afirma o fundador e presidente da rede de restaurantes Giraffas, Carlos Guerra.
Ao Correio, ele detalhou a trajetória da empresa na cidade e sobre as medidas adotadas para manter os negócios e os empregos de funcionários durante a quarentena. “Passamos por muitos problemas e dificuldades nesses anos todos, mas nada parecido, nada sequer similar ao que a gente está passando hoje”, destacou. “Nós esperamos que, em um universo de tempo razoável, nós voltemos a operar, mesmo que de forma um pouco mais lenta. Com isso, pelo menos durante esses primeiros 90 dias, talvez 120 ou 150 dias, a gente não venha a fazer nenhuma demissão.” Veja os principais trechos da entrevista:
Brasília está prestes a fazer 60 anos. Qual a relação, sua e do Giraffas, com a cidade?
A minha relação com Brasília se confunde um pouco com a minha própria relação com o Giraffas. Eu cheguei a Brasília com 17 anos para estudar na UnB e, praticamente dois anos depois, eu comecei no Giraffas. Praticamente toda a minha vida em Brasília foi trabalhando para o Giraffas.
Hoje, são quantas unidades?
Estamos com aproximadamente 400 unidades, entre restaurantes e quiosques. Encerramos a nossa experiência nos Estados Unidos alguns anos atrás. Devido à grande recessão que houve no Brasil, a gente achou por bem concentrar e focar no mercado brasileiro. Acho que foi uma decisão acertada, porque nós precisávamos dar toda a atenção ao mercado brasileiro, e os resultados apareceram. Depois da recessão, a gente tem obtido, principalmente nos anos 2018 e 2019, crescimento considerável.
Quais decisões e medidas o Giraffas adotou para garantir a segurança de todos?
Cheguei aqui no fim dos anos 1970, início dos anos 1980, e havia um momento econômico no Brasil muito específico, com hiperinflação, planos econômicos, recessão, congelamento de preços, desabastecimento, congelamento de poupança. Houve, nos primeiros 10 ou 15 anos do Giraffas, pelo menos cinco ou seis planos econômicos. Passamos por muitos problemas e dificuldades nesses anos todos, mas nada sequer similar ao que a gente está passando hoje. A rede está praticamente toda fechada, por determinação dos órgãos municipais e estaduais. A maioria das lojas está em shoppings, os quais estão fechados. O que nós estamos fazendo é uma proteção social dos nossos funcionários, que são as pessoas que fazem o Giraffas, nosso maior patrimônio.
Até o momento, houve investimento em serviços de entrega?
Nós estamos fazendo delivery, principalmente em Brasília, onde já era mais desenvolvido por causa das lojas de rua. Mas as nossas lojas são preparadas, os tamanhos, as cozinhas, para um serviço completo. Elas não conseguem rentabilidade somente com delivery. Em algumas, tivemos aumento de até quatro vezes no delivery, e ainda assim, na maioria, é insuficiente. Teríamos que fazer uma reestruturação profunda, caso fôssemos trabalhar só com isso.
Recentemente, repercutiu nas redes sociais um vídeo com o seu filho, Alexandre Guerra. Depois disso, ele foi afastado do cargo. Pode comentar essa situação?
O Alexandre foi CEO da empresa entre 2013 a 2016. Eu tinha me afastado para cuidar dos negócios nos Estados Unidos, e ele assumiu como CEO. Recentemente, há quase quatro anos, ele pediu para se afastar da empresa para se candidatar ao GDF. Depois das eleições, ele não voltou. Assumiu apenas um cargo no conselho da administração, que se reúne a cada três meses. Ele tem outros negócios. Mas a verdade é que a imagem dele fica e ficou totalmente vinculada ao Giraffas. Nesse filme a que você se refere, ele estava falando para um grupo de empresários; então, era uma visão de empresário para empresário. Tendo em vista o conflito e a imagem de ligação do Giraffas, nós mesmos, e a pedido dele, resolvemos que ele se afastasse do conselho como também vendesse uma pequena parte das cotas que ele tem do Giraffas. Não houve nenhum estresse.
De que maneira o Giraffas pretende garantir a segurança do emprego dos funcionários? Foi necessária alguma demissão?
Não. Garantir, a longo prazo, é muito difícil. O que nós garantimos é, por 90 dias, usando dos instrumentos colocados à disposição das empresas pelo governo federal, como suspensão temporária de trabalho, onde o governo vai pagar seguro-desemprego, e a gente paga uma parte. Então, durante um tempo, vamos ter condições de mantê-los empregados e mantê-los prontos para voltar ao trabalho. Nós esperamos que, em um universo de tempo razoável, nós voltemos a operar, mesmo que seja uma operação que vai começar de uma forma um pouco mais lenta e vá adquirindo velocidade com o tempo. Nós esperamos que, com isso, pelo menos durante esses primeiros 90 dias, talvez 120 ou 150 dias, a gente não venha a fazer nenhuma demissão, como não fez.
O senhor comentou sobre uma possível reestruturação na empresa. Como isso pode ser feito?
Nós estamos fazendo corte de despesas brutais. Tudo o que for possível diminuir despesas agora, investimentos, preservar a capacidade de pagamento, principalmente das folhas, estamos fazendo. A prioridade máxima é a saúde de cada um, a proteção. Peço um pouco de paciência, perseverança e confiança.