Cidades

Em partes do DF, movimento é tímido no primeiro dia de reabertura de lojas

Segundo o Governo do Distrito Federal (GDF), a decisão levou em conta análises sobre a disseminação do novo coronavírus no DF e deve reaquecer o setor

Correio Braziliense
postado em 14/04/2020 06:00
Beatriz e Felix aguardavam a abertura das lojas para comprar móveisNa noite de quinta-feira, o governador Ibaneis Rocha (MDB) publicou decreto que autoriza o funcionamento de estabelecimentos do setor de móveis e eletrodomésticos. Ontem, lojas do segmento abriram as portas para receber clientes, retomando o atendimento e as vendas. Segundo o Governo do Distrito Federal (GDF), a decisão levou em conta análises sobre a disseminação do novo coronavírus no DF e deve reaquecer o setor. Shoppings, apesar de abrigarem muitos comércios do tipo, permanecem fechados.

Em Taguatinga, região que concentra diversos estabelecimentos do ramo, o movimento, ontem, era tímido. A circulação mais intensa ocorria em ruas próximas a agências bancárias, também liberadas para atendimento ao público pelo Executivo local. Morador do Recanto das Emas, o militar Felix Nascimento, 21 anos, e a noiva dele, a manicure Beatriz Santos, 21, foram a Taguatinga comprar móveis para a nova casa, onde vão morar depois de se casarem.

Ele conta que aguardava a abertura das lojas havia algum tempo e que apoia a flexibilização das medidas de contenção. “Muita gente depende disso tanto para comprar quanto para trabalhar. Muita gente vem perdendo o emprego. Acho importante abrir aos poucos. Vai ser importante para a economia”, defende Felix.

Riscos


O GDF estuda a liberação das atividades em outras áreas do comércio, no entanto não há definição de qual setor será contemplado em novos decretos nem da data para abertura. A avaliação, segundo o Palácio do Buriti, terá base no cenário da capital federal. Entre as variáveis estudadas estão o horário de funcionamento e a quantidade de pessoas impactadas. Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia adianta que o setor produtivo encaminhará, dentro dos próximos cinco dias, um estudo com planejamento de reabertura do comércio. O assunto foi debatido ontem em reunião com o secretário de Economia, André Clemente.

“O setor produtivo propôs, e o governo topou receber esse plano. Entrar em uma guerra é fácil, mas sair dela é muito difícil. Vamos apresentar um modelo de como devem ser abertas (as lojas), considerando todas as questões de segurança, e tratar de setores que podem voltar a funcionar, desde que seguidas algumas normas”, detalha Francisco. “O que existe hoje é a indefinição, ninguém sabe como será o próximo mês. E nenhuma empresa aguenta mais 30 dias de portas fechadas”, acrescenta.

Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-DF), José Carlos Magalhães Pinto, a decisão do Buriti foi bem planejada, pois os funcionários do segmento têm trabalhado em ambientes sem aglomeração e com equipes menores. “(Móveis e eletrodomésticos) são setores que correspondem a um ou dois por cento da força trabalhadora, e não vão ter grande influência na expansão do vírus. Mas o que cobramos de todos é o cuidado, tanto (por parte) dos empresários quanto dos funcionários”, argumenta José Carlos.

Professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto Ramos considera a flexibilização das normas para estabelecimentos uma “questão de lobby”. Para o pesquisador, a escolha pelo ramo de eletrodomésticos e móveis não faz sentido e não tem “racionalidade econômica”. “Isso pode ter um custo econômico impressionante se você tiver a propagação da doença”, pondera. “Quando a curva de contágio está caindo, você pode começar a discutir a abertura de setores, mas nunca quando os casos ainda estão aumentando”, explica.

Favorável às medidas de auxílio financeiro para pessoas em situação de vulnerabilidade, trabalhadores informais, além da abertura de crédito para que empresas possam pagar as folhas de funcionários, Carlos Alberto não apoia a medida atual e acredita que ela pode abrir espaço para representantes de outros segmentos comerciais não essenciais pleitearem a mesma ressalva. “Seria possível cometer esse erro há quatro, cinco meses, mas não depois de vermos pelo que passaram Inglaterra, Estados Unidos, França. Não é um erro que pode levar a algo menor, é um erro que pode levar a uma catástrofe”, alerta.

Palavra de especialista

 
Riscos da flexibilização

“É necessário compreender que o início do achatamento da curva de infecção e agravos associados à Covid-19 só ocorreu como resultado do isolamento social, e a flexibilização das medidas de restrição agora pode colocar todo esse esforço em risco. Países como Itália, Espanha, Estados Unidos cometeram o mesmo erro, o que resultou em uma grande quantidade de mortes pelo colapso no sistema de saúde. Não é o momento de flexibilizar. Não temos previsão de vacina — as mais promissoras preveem setembro — nem tratamentos totalmente eficientes — se a cloroquina fosse uma solução, estaria sendo usada nos países acima citados, evitando as mortes. Temos iniciativas científicas promissoras, mas elas precisam de tempo para serem desenvolvidas. Não é tempo de flexibilizar ou pagaremos com a vida de muitos”.

Por Maria Barros, especialista em virologia e professora do curso de biomedicina do Centro Universitário de Brasília (UniCeub).


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