Estamos acostumados a dar os braços quando a coisa aperta. É sabido que, nos tempos difíceis, a solidariedade costuma pulsar nas veias, mas não é bem assim que tem ocorrido ultimamente. Algumas instituições beneficentes têm sofrido com queda no volume de doações durante a pandemia do coronavírus.
Prestes a completar 34 anos de história e luta, a Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace) lança campanha em apelo à manutenção dos donativos. “O câncer não faz quarentena” chama a atenção à causa dos assistidos pela instituição, que entoam em muitas vozes um único pedido: “não parem”.
“Com a quarentena, mudamos nossas rotinas. A casa de apoio não pode receber visitas, isso gerou uma grande retração de doações que recebemos in loco. Também observamos uma queda nas contribuições financeiras”, diz Maria Angela Marini, presidente da instituição. O resultado até era esperado pela Abrace, mas devido ao caráter filantrópico, a entidade carece de apoio da sociedade.
A Abrace estimou perda entre 20% e 30% no valor total de doações. “Estamos realmente preocupados. É um momento bastante tenso para todos que estão envolvidos, sobretudo para o pessoal da oncoterapia, com crianças em tratamento que estão com a imunidade comprometida”, diz Maria Angela. “A Covid-19 pode ir além do que possamos suportar em termos de manutenção; por isso, a campanha”, completa.
Mesmo com a queda nos donativos destinados à Abrace, Maria Angela diz ter enorme sentimento de gratidão. “Somos muito agradecidos à solidariedade do brasiliense. Há 34 anos, fazemos este trabalho e sempre pudemos contar com a ajuda e o apoio de toda a sociedade brasiliense, das empresas e dos voluntários”, finaliza.
Izabel Rebouças, 47 anos, é mãe de Rhuan, um dos assistidos da instituição. Ela relata que há dois anos conta com o essencial apoio da Abrace. “Somos de Roraima, e meu filho foi diagnosticado com um linfoma. Nossa cidade não tem os recursos necessários ao tratamento, e fomos encaminhados ao Hospital da Criança. Entre idas e vindas trimestrais, é a Abrace quem nos acolheu e ainda acolhe”, conta.
Rhuan está curado e continua vindo à capital para avaliações periódicas de saúde. A casa de apoio recebe pacientes de outras unidades da Federação e do Entorno enquanto são tratados no DF. “Liberamos as crianças que estavam melhores, mas a maioria vem de famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Então, também arrecadamos cestas de alimentos para distribuir a essas pessoas que não estão na Abrace, mas precisam fortemente de nosso amparo”, conta a presidente.
O Instituto Nair Valadares (Inav) auxilia à distância às pessoas assistidas. “A creche permanecerá fechada enquanto durar o decreto e, neste momento, juntamos os alimentos e material de limpeza que estavam nos estoques e montamos cestas para distribuir àquelas famílias com maior necessidade”, diz Karla Valadares, diretora da fundação que atende a quase 200 crianças.
O Inav não perdeu somente a ajuda solidária da sociedade, como também 25% do repasse que o governo faz à entidade. “Entendemos a redistribuição deste valor que será destinado ao cartão-alimentação. Nós queremos que as medidas do governador se estendam às associações beneficentes. O fechamento não valeu para nós. Precisamos de uma liminar. Nós temos responsabilidade por nossas crianças, e deixar a creche aberta é um risco a elas e aos nossos colaboradores”, reivindica a diretora.
A luz no fim do túnel
O cenário pessimista enfrentado por essas organizações não se aplica ao todo. A Associação de Mães, Pais, Amigos e Reabilitadores de Excepcionais (Ampare) não sentiu os impactos do coronavírus. “Não tivemos perda, graças a Deus, isso não aconteceu com a gente. Nós temos uma lista de grandes amigos colaboradores mensais, e muitos deles até adiantaram os donativos”, revela Maísa Bueno, coordenadora da Casa Lar Ampare.
Sem amargar com a crise, o Exército da Salvação de Brasília mostrou o maior compadecimento dos brasilienses neste período tão delicado. “Como não estamos fazendo as retiradas nos domicílios, a doação de móveis está zerada. Entretanto, o nosso contêiner, que levava cerca de sete dias para encher, agora está repleto de donativos em 48 horas”, conta o pastor Ricardo Iung, major da instituição religiosa.
Ele faz um apelo quanto à doação de alimentos, que não é indicada ser feita diretamente no contêiner. “Algumas pessoas já nos buscaram relatando falta de comida em casa; então, estamos recebendo cestas básicas. Pedimos apenas para não jogarem alimentos e material de limpeza no contêiner, pois ele é alto, e os produtos podem estourar. Basta interfonar, que iremos pegar”, orienta o pastor.
Apelo
A Ação Social Caminheiros de Antônio de Pádua (Ascap) paralisou suas atividades em respeito às determinações de isolamento, mas o trabalho continua nos bastidores. Somente no Sábado de Aleluia, a instituição doou 506 kg de alimentos às famílias assistidas. “Respeitamos o isolamento, mas restou a preocupação com as famílias que são beneficiadas com o programa de doação de alimentos. Estamos numa área onde a insegurança alimentar é muito presente na vida de centenas de famílias”, avisa Rosane Garcia, secretária da instituição.
A única fonte de renda da Ascap é baseada nas vendas realizadas em seus bazares mensais, que seguem inativos até o fim da pandemia. Por isso, o apelo chegou às redes sociais, e a entidade clama pelo auxílio de doações de cestas básicas. Além da distribuição de donativos, a Ascap mantém ativo o serviço de atendimento psicológico. A ansiedade e a angústia causadas pela clausura temporária podem e devem encontrar alento. “Quem necessitar de conforto psicológico para vencer a travessia deste momento adverso pode entrar em contato com Brenda Fraz, por meio telefone 99124-2782”, reforça Rosane.
* Estagiária sob supervisão de Ádamo Araujo
Palavra de especialista
Palavra de especialista
Paz, saúde e alegria
“Já diziam os seres mais espiritualizados: aquilo que eu dou ao outro, eu recebo em dobro. Nós nascemos uns para os outros; portanto, a empatia é uma das primeiras características que o ser humano traz em si. É próprio da construção divina, não vivemos uns sem os outros. Quem escolhe viver isolado faz a experiência da solidão, e isso é a experiência do vazio, do abandono e da tristeza. Quanto mais eu aproximo as pessoas de mim, mais eu me sinto feliz. Os bons relacionamentos geram uma neuroquímica de saúde, alegria, paz e tranquilidade.
A caridade entra na percepção de que o outro precisa de mim e, para eu estar bem, ele também tem de estar. Somos todos espiritualmente interligados. Aquilo que eu faço pelo todo, retorna a mim, pois eu faço parte desse conjunto.
Biologicamente, a solidariedade gera resultados bons. Em termos de neurotransmissores e hormônios, podemos dizer que são liberadas grandes doses de serotonina, dopamina e ocitocina, que é o hormônio do amor. Quando há desequilíbrio neste sistema, é quando nossa saúde mental padece e nossa imunidade também. Então, que tal pensarmos que estamos num tempo de abundância e não de carência? Ajudar mais e sermos mais úteis, acreditar que temos uma missão e um propósito na vida”. Por Fabrício Nogueira, especialista em inteligência espiritual e hipnoterapeuta.
Ajude
Abrace
abrace.com.br
(61) 3212-6000
centraldedoacoes@abrace.com.br
Inav
inav.org.br
(61) 3333-1552
Exército da Salvação Brasília
(61) 99278-9278
Ascap
(61) 99289-8079 (WhatsApp)