Localizado a 160km de Brasília, o município de São João d’Aliança (GO) é conhecido como portal da Chapada dos Veadeiros. A típica cidade interiorana vinha aproveitando a crescente onda de ecoturismo, após a recente abertura ao público de atrativos naturais, como a Cachoeira do Label — a maior do Centro-Oeste, com 187 metros de altura —, mas há cerca de um mês tem de lidar com pousadas, hotéis e restaurantes fechados, devido à quarentena imposta pela pandemia de coronavírus.
“É um cenário desolador. Parou tudo. Os turistas sumiram e o comércio acabou. Temos de seguir as orientações do Estado, que exige a preservação da saúde neste momento. A polícia precisou agir em alguns casos de turistas que desobedeceram às recomendações e estavam fazendo festas às margens de córregos e lagos”, conta o secretário municipal de Turismo, Geraldo Bertelli.
Aos 64 anos, o paranaense, que abandonou a profissão de caminhoneiro para se tornar guia turístico e bioconstrutor no nordeste goiano, afirma que, diante da atual crise, encontra alento na vida próxima ao Cerrado. Com a esposa, Marlene Talarico, 62, Geraldo mantém há quase 15 anos a Ecopousada Rebendoleng, uma chácara onde recebe hóspedes, planta e cria animais. “Fui dar uma volta na cidade e encontrei algumas pessoas quase desesperadas. Realmente, sinto-me aliviado por ter um espaço onde posso trabalhar ao ar livre e produzir algum alimento. Em um momento como esse, ajuda a manter a sanidade”, comenta.
Motivados pelo exemplo do casal Marlene e Geraldo, o bancário brasiliense Márcio Barros, 34, e a monitora de crianças especiais Marcela Marques, 30, deixaram de ser meros clientes da ecopousada, onde costumavam se hospedar para temporadas de aventuras na Chapada dos Veadeiros, para adquirirem um terreno na região. Descobriram a ecovila Condomínio Habitat, uma comunidade composta por mais de 100 famílias, e passaram a trabalhar na construção da própria casa no local.
“A gente sempre gostou de caminhadas em ambientes naturais, mas não tinha a menor ideia de como viver em um contexto fora das cidades tradicionais. No entanto, ficamos impressionados com essas possibilidades de construção com materiais alternativos, o saneamento ecológico, as fontes renováveis de energia, e decidimos embarcar nessa. Estou desenvolvendo muitas habilidades, desde o manejo de madeira ao aquecimento de água para o chuveiro sem eletricidade. É um legado que desejo deixar ao meu filho, Ian. E planejo plantar muitas árvores frutíferas também”, conta Márcio, que, por ora, utiliza um contêiner como abrigo e ergueu uma pequena varanda com madeira de árvores que estavam mortas no terreno. “Foi o melhor investimento que fiz na minha vida. Em um momento de crise sanitária como esta, parece um refúgio seguro”, completa.