A missa campal começou com a romaria de padres e bispos que saíram da Catedral e se dirigiram para a frente do palanque, armado em frente ao Congresso Nacional. Enquanto a romaria percorria o trajeto, a multidão de cerca de oitocentas mil pessoas acompanhava correndo pelo gramado, com sacolas, banquinhos, lanche e crianças a tiracolo.
Até a chegada do Sumo Pontífice, ao altar, um helicóptero sobrevoou a área da Esplanada, enquanto o comentarista e a multidão gritavam alternadamente: “Cristo vive”. Após a chegada ao altar, o Papa foi saudado pelo grupo de crianças que faria sua primeira comunhão. Elas entregaram ao Papa as chaves da cidade, que representavam, neste momento, cada coração brasiliense.
À chegada ao palanque armado, o Papa foi aclamado pelas milhões de vozes ali presentes. Que gritavam: “Viva João Paulo II, viva o Brasil de Maria, viva o Brasil de Cristo!...” O coral foi acompanhado dos gestos que acenavam bandeirinhas brancas e amarelas, lenços, bandeiras e flâmulas do Papa. Com a multidão, os vendedores também foram se acomodando no gramado, com discos, livros, chaveiros, “posters”, cartazes, medalhas e camisetas com o retrato do Papa. Cada camiseta de malha, pintada com o retrato do Papa, foi vendida a Cr$ 250,00 e mesmo a camada mais pobre da população se sujeitou aos preços, sem reclamar.
Na Esplanada, o Papa abençoou o povo brasileiro, atingindo as camadas mais simples, enquanto o comentarista dava-lhe as boas vindas e lhe pedia que aceitasse o coração “de todos nós”.
O Papa começou a missa pedindo a Deus que livrasse todos de suas culpas, para ser celebrado o Santo Mistério. Neste instante, ele louvou a Deus, “que, para salvar a todos os homens, mandou seu filho para morrer na cruz”, disse. A seguir, ele fez a leitura da Carta de São Paulo, apóstolo que diz que Jesus, em sua condição divina, veio ao mundo e assumiu a condição de servo na figura do homem, demonstrando, com isso, obediência até a morte. E após a leitura, a multidão levantou a mão esquerda para receber a bênção papal que atingiu inclusive objetos que para ali foram levados para serem abençoados.
Durante a liturgia da palavra de São Paulo, o Papa citou um trecho em que o apóstolo fala dos filipenses. “Ele tinha condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso, Deus o sobreexaltou grandemente e o agraciou com o Nome que é sobre todo nome, de modo que, ao nome de Jesus, se dobre todo joelho dos seres celestes, dos terrestres e dos que vivem sob a terra, e, para glória de Deus, o Pai, toda língua confesse: Jesus é o senhor.”
Em seguida, houve a meditação e aclamação ao Evangelho, para dar início à homília. Antes de iniciá-la, porém, o Papa lembrou do Congresso Eucarístico Nacional em Fortaleza e disse que ele deve constituir uma manifestação de amor da Igreja brasileira numa oferenda ao pai, pois o povo de Deus vive em eucarístia. Ao ver a cruz onde foi realizada a primeira missa em Brasília, o Sumo Pontífice disse que espera passar por lugares tão marcantes no Brasil, e lembrou a visita ao Santuário Mariano em Aparecida do Norte, e em seguida, a Fortaleza. “Ao concluir este peregrinação, espero estar em Fortaleza, abrindo o X Congresso NAcional de Eucaristia”, disse ele. Neste Congresso, ele espera encontrar os frutos de todo o seu trabalho no Brasil, esperando encontrar ainda o maior número de pessoas possível. Ainda sobre a cruz, o Papa disse que ela deve ser valorizada como símbolo da construção desta cidade e, no Brasil Futuro, esta cruz terá um papel fundamental, pois ela representa o símbolo da fé.
Durante a missa, o Papa falou sobre o papel da Igreja, que não deve ser político. “A missão da IGreja é anunciar a boa nova da salvação”, disse ele, exaltando ainda a cultura brasileira fundamentalmente católica, cuja raiz de formação se constitui no que o Brasil tem de mais profundo. Segundo ele, Brasília marca início de uma nova etapa na História do Brasil, constituindo-se no mistério da salvação. Para isso, ele aconselhou os fiéis a olharem para a cruz, que é o sinal da salvação para todos os homens. “A cruz é o sinal de todo princípio, assim como o princípio de todo o encontro, que é Deus”. Terminado o sermão, foi feita a leitura da oração universal, acompanhada da segunda parte de liturgia eucarística, que terminou com a bênção final.
Clima foi de muita tranqüilidade
Nenhuma autoridade em Brasília conseguiu conter um suspiro de alívio: as 800 mil pessoas reunidas na esplanada deram um raro exemplo de tranqüilidade e nenhum acidente sério ocorreu antes, durante ou depois da Missa celebrada pelo Papa João Paulo II. Às cinco da tarde o Comando Militar do Planalto passou um rádio a todos os encarregados da segurança “os três mil homens a postos poderiam se retirar porque a cidade estava calma e normal”.
No Hospital de Base, o centro clínico de Brasília, o diretor Eugênio Sarmento classificou o dia como o mais “calmo do ano” e segundo ele, os registro de 412 atendimentos estão muito aquém dos números que são acolhidos no hospital em dias de semana: “Atendemos em média 1.200 casos em dias comuns sem visitas e sem acontecimentos históricos”.
De uma forma ou de outra a multidão teve comportamento atípico para todos. No HDB os 100 médicos que estavam em alerta foram desmobilizados às seis da tarde. Até esse horário o hospital só havia registrado um acidente e não justificava a presença do pessoal recrutado para reforço. No hospital Presidente Médici os 9 médicos e as sete enfermeiras extras também não tiveram problemas: o hospital recebeu um número insignificante de casos, dos quais nenhum com gravidade.
O Hospital da l-2 Sul atendeu três pacientes, dois dos quais com pneumonia. Nos postos de atendimento da Esplanada foram atendidas 339 pessoas e o médico encarregado do posto no Ministério da Previdência, Manoel Deodoro da Silva, informou que só teve o trabalho de providenciar cafés fortes e tranqüilizantes, porque nenhum problema sério aconteceu.
No balanço geral no Hospital Distrital o diretor Eugênio Sarmento disse que a soma geral de atendimentos — 742 nos postos e hospitais — é insignificante para o movimento que se verifica durante dias normais. A única explicação encontrada pelo médico foi a falta de bebidas alcoólicas na Missa e o comedimento da população, imbuída pelo espírito cristão.