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Com transmissão online, Paixão de Cristo alimenta fé de cristãos no DF

Tradicional celebração religiosa ganhou formato diferente neste ano. Com transmissão on-line, cristãos acompanharam o rito pascal em casa. Em alguns lugares, a adoração à Santa Cruz foi feita na porta dos fiéis. Morro da Capelinha foi monitorado por forças de segurança

Em isolamento social, fiéis acompanham as celebrações da Semana Santa dentro de casa. Desde o último domingo, o rito pascal tem ganhado um novo formato com a transmissão on-line das missas e adaptações das atividades religiosas para evitar a aglomeração de fiéis. Na Sexta-feira Santa, momento em que é recordado a morte de Cristo, a tradicional encenação da Via-Sacra deu lugar a uma celebração solene da Paixão de Cristo. Centenas de cristãos acompanharam pela internet a liturgia da Palavra e a leitura da Oração Universal.

A transmissão ao vivo ocorreu nas redes sociais de diversas igrejas do Distrito Federal, pelo YouTube e no site da Rádio Nova Aliança. A celebração teve início às 15h. Na Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, no centro de Brasília, a cerimônia foi transmitida diretamente do altar da igreja. No momento em que seria realizada a procissão, os padres celebraram o rito de adoração à Santa Cruz com a leitura da Via-Sacra. No Santuário São João Bosco, na 702 da Asa Sul, a trajetória de Cristo nos momentos finais foi narrada de forma cantada. Fotos dos fiéis foram colocadas nos bancos da igreja, como uma maneira de acolhê-los.

Durante a Oração Universal, foi feita uma prece pelas pessoas que padecem com a pandemia da Covid-19. “Oremos ao Deus da vida, salvação do seu povo, para que sejam consolados os que sofrem com a doença e a morte, provocadas pela pandemia do novo coronavírus; fortalecidos os que heroicamente têm cuidado dos enfermos; e inspirados os que se dedicam à pesquisa de uma vacina eficaz”, disse o celebrante em texto proposto pela arquidiocese de Brasília.



Após a celebração, os frades do Santuário São Francisco de Assis saíram em procissão com a Santa Cruz, para que os fiéis pudessem fazer a adoração na porta ou pela janela de casa. Eles percorreram todas as quadras da Asa Norte, rezando a crucificação de Cristo. Os frades utilizaram um carro de som para levar a mensagem aos fiéis. Hoje pela manhã, o santuário fará uma transmissão sobre a ressurreição, ao vivo, às 10h, pelo perfil no Instagram da paróquia. A Vigília Pascal será exibida pela página do Facebook.

Outras paróquias transmitiram as celebrações, ao vivo, pelas redes sociais. Foi o caso da Divino Espírito Santo, em Planaltina. Devoto, o professor Jeferson Queiroz, 28, acompanhou o rito. Entretanto, apesar de aprovar as transmissões, ele acredita que a iniciativa ainda não atinge a todo o público que frequenta as cerimônias presenciais. “Eu acompanhei. Acho essas atitudes bacanas. Mas sou um caso de pessoa que tem acesso à internet. Boa parte das pessoas não terão esse canal ou afinidade com as redes. São boas atitudes, mas que não conseguem atingir a todos”, pontuou. Mesmo saudoso, ele reconhece que a tecnologia tem sido um alento no momento. “É diferente, mas é alguma coisa”, disse.

Vazio 

O Morro da Capelinha, em Planaltina, teve o vazio como cenário, ontem, na Sexta-feira da Paixão. A tradicional encenação da vida, crucificação e ressurreição de Jesus Cristo, que chega a levar cerca de 150 mil pessoas ao local ao longo do dia, não ocorreu e fiéis não puderam assistir ao evento, como de costume, em virtude do isolamento social imposto pela pandemia global do coronavírus.

A encenação da Via-Sacra foi cancelada ainda em março e, durante toda a sexta-feira, forças de segurança estiveram na região do Morro da Capelinha, para evitar aglomeração de fiéis, como orientam os órgãos oficiais de saúde. Policiais e Bombeiros Militares estiveram a postos para orientar fiéis que fossem ao local. O Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) também atuou e impediu o acesso de veículos, com rondas preventivas, nas proximidades. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, não houve registro de ocorrências.

Morador de Planaltina, Jeferson Queiroz costuma ir ao Morro da Capelinha todos os anos para rezar e participar de missas na comunidade. Segundo ele, o dia foi marcado pela ausência. “É como se houvesse um vazio. Mas a gente vai se adaptando com aquilo que tem de possibilidade”, disse o professor, que fez em casa as orações que costumava fazer no morro.

É a primeira vez, em 47 anos, que a Via-Sacra de Planaltina não ocorre. Não há previsão para uma possível encenação após a pandemia. Para Gilliard da Silva Holanda, 38 anos, diretor e ator do grupo Via-Sacra Ao Vivo, que realiza o tradicional evento, o momento é uma mistura de luto e celebração à vida. “Estive no morro pela manhã. Encontrar o local fechado, com cones e fitas amarelas, em um horário em que teriam de 20 a 30 mil pessoas, chega a ser desesperador. Por meio do nosso teatro, fazemos a evangelização. É algo que nunca imaginamos passar. Até o último momento, acreditávamos em um milagre. Foi muito frustrante, porque passamos o ano inteiro trabalhando e, por uma força maior, não pudemos realizar. Mas entendemos que devemos ser obedientes. Compreendemos a necessidade do momento. A gente tem que enfatizar a vida”, disse.

Para romper as barreiras impostas pela pandemia, o grupo vem utilizando as redes sociais para se comunicar com os fiéis e disponibilizar conteúdos. Ontem, por exemplo, publicaram, na íntegra, o DVD da encenação, gravado em 2018. “É uma forma de matarmos a saudade e evangelizar. Como temos um acervo, vamos subir para o nosso canal no YouTube. É uma forma de amenizar e continuar o nosso trabalho. De maneira virtual, mas é o que, no momento, é possível ser feito”, pontuou.