Correio Braziliense
postado em 10/04/2020 06:00
Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 26 de abril de 1984 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.Os 298 votos que recebeu a favor, contra 65 rejeitando e três abstenções, não foram suficientes para aprovar a emenda Dante de Oliveira em votação encerrada na madrugada de hoje no Congresso Nacional.
Os 113 pedessistas que se ausentaram no plenário, atendendo recomendação da liderança, foram decisivos para a rejeição da emenda que instituia eleições diretas para a Presidência da República este ano.
Anunciado o resultado pelo presidente do Congresso Moacyr Dalla, as galerias — cujo comportamento havia sido bastante elogiado pelo presidente da sessão — passaram a se manifestar com veemência, gritando “a luta continua”, “queremos eleger o presidente do Brasil”,”o povo não esquece, acabou o PDS”, terminando por cantar com braços erguidos o Hino Nacional. Inúmeros presentes, inclusive vários deputados, deixaram o plenário chorando, visivelmente emocionados com o resultado contrário.
Tanto as Oposições como as galerias aplaudiram o comportamento do presidente da sessão, Moacyr Dalla, que conduziu os trabalhos durante 17 horas — das 9 da manhã de ontem às 2 da madrugada de hoje — sem nenhum incidente. Dalla disciplinou as manifestações das galerias sem ameaçar evacuá-las em nenhum momento.
Ao ser chamado para votar, o deputado Paulo Maluf recebeu vaias, todas as vezes que seu nome foi citado, o que gerou protestos contra a secretaria da votação pela repetição do nome do ex-governador paulista, dos deputados carioca Eduardo Galil e Darcilio Ayres. Um fato curioso ocorreu quando foi votar o deputado Aurélio Peres (PMDB-SP) que inicialmente falou “não”, corrigindo rapidamente seu engano. Outra vaia foi dirigida ao deputado Amaral Netto (PDS-RJ) que, eu ser chamado para votar, tentou levantar uma questão de ordem contra a Mesa pelo fato de não ter sido explicado às galerias que, para ser aprovada, a emenda precisaria de 320 votos favoráveis. Foi advertido por Dalla de que não são permitidas questões de ordem durante a votação.
Dos pedessistas que votaram pelas diretas, o catarinense Pedro Colin teve prioridade para votar por ter sido operado no último sábado em são Paulo, tendo chegado ontem à tarde acompanhado de dois médicos, e obrigado a assinar um termo de responsabilidade no Hospital Albert Sabin. Também os oposicionistas J.G. de Araújo Jorge (PDT-RJ) e Milton Figueiredo (PMDB-MT) votaram antecipadamente por problemas de saúde. Vário deputados fizeram declaração de voto em separado, especialmente os três pedessistar gaúchos que se abstiveram de votar e que propõem o PArlamentarismo como sistema de governo. Também votou em separado o deputado Stélio Dias (PDS-ES), a favor da emenda Dante “de acordo com a delegação que recebi do povo capixaba”. Seu conterrâneo Theodorico Ferraço, também do PDS, foi um dos parlamentares mais aplaudidos a declarar seu voto. Todos os pedessistas que votaram a favor das diretas já, foram demoradamente aplaudidos pelas galerias. A maior explosão de palmas ocorreu quando Sarney Filho - filho do presidente do PDS - disse “sim”.
O deputado Jorge Cury, ex-petebista, atualmente sem partido, destacou-se ao conseguir assegurar a palavra ao líder pedessista pró-diretas, Thomaz Nonô, quando quiseram impedi-lo de falar. Ele sustentou veemente defesa do direito do grupo dissidente do PDS em se expressar. Nonô quase desceu da tribuna que ocupava, mas foi impedido por Theodorico Ferraço, que lembrou que o senador Lomanto Júnior já lhe havia concedido a palavra.
Multidão que ficou de fora se surpreende
Um misto de surpresa e tristeza era o sentimento das pessoas que aguardaram o final da votação da emenda Dante de Oliveira, em frente ao Congresso. Durante a noite de ontem, cerca de cinco mil pessoas estavam reunidas na rampa do Congresso aguardando a vitória das eleições diretas já. Mas quando acabou a votação, a tristeza foi geral.
Às 19 horas, começou um ato público do qual participaram estudantes universitários, secundaristas e populares em geral, em frente ao Congresso Nacional. Os dirigentes, munidos de megafones, pediam que o povo sentasse na grama em frente à rampa para aguardar a decisão dos parlamentares, com calma, sem fazer baderna. Os dirigentes do ato e todos ali presentes tinham convicção de que a emenda passaria.
Vários dirigentes estudantis, de associações e sindicatos estavam presentes. Foi ressaltado que a luta pelas eleições diretas havia sido a maior já desenvolvida pelo povo brasileiro, e a cada momento a população era alertada para que tivesse cuidado com os provocadores infiltrados no meio da manifestação.
Muitas músicas foram cantadas. Apesar de você, Bandeira Branca, Travessia, Bailes da Vida, Eclipse Oculto e outras. Às 21h40min, os manifestantes cantaram o Hino Nacional, exibindo bandeiras verde-amarelas.
Os dirigentes liam de hora em hora informações sobre o que estava acontecendo dentro do Congresso. Às 20h20min mais pessoas se juntaram à manifestação, trazendo, inclusive, crianças, todos vindos da Rodoviária, Conjunto Nacional e Setor Comercial Sul. Quando os manifestantes souberam do resultado da votação, voltaram a se reunir para decidir como sairiam do local. O deputado Airton Soares foi o mediador entre os manifestantes e polícia, que já havia cercado a Esplanada dos Ministérios. Ficou decidido que todos sairiam por detrás do Itamarati calmamente. Na saída da rampa, um dos manifestantes soltou uma bomba de gás lacrimogêneo mas nem isso fez com que todos bagunçassem. Continuaram o caminho calmamente.
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