Cidades

Educação a distância



Segundo David Nogueira, coordenador do Programa Escola em Casa DF, as teleaulas são um primeiro passo emergencial de educação a distância (EAD). A Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEE-DF)deve anunciar uma plataforma de aprendizagem para permitir interação entre estudantes e professores na próxima semana. “Se chegarmos a um cenário em que vamos precisar da EaD, essa plataforma permite aulas on-line.” Por enquanto, o calendário letivo da rede pública está suspenso, com previsão inicial de ser retomado em junho. No entanto, tudo dependerá de como a pandemia avançará.

Para a pedagoga Rosilene Corrêa, diretora de Finanças do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), é válido oferecer uma atividade complementar aos alunos neste momento, mas suscita preocupação se houver intenção de trocar encontros presenciais por EaD. “Vimos com muita preocupação, porque teve um certo ensaio de uma intenção da secretaria de trabalhar com aulas virtuais”, esclarece. O formato, ela avalia, é impróprio para a educação básica. “Não temos a menor condição de pensar em crianças e adolescentes com aulas a distância”, defende.

“É preciso esclarecer que EAD tem regulação própria, é um projeto com o qual concordamos plenamente como complementação ou como algo para ensino superior, em que os estudantes já têm autonomia, ou como forma de inclusão, para levar educação aonde não tem universidade”, afirma. Rosilene também ressalta que as teleaulas são válidas como um apoio alternativo agora, mas não servem como dias letivos. “Entendemos como razoável que se ofereça algo para que os estudantes não fiquem ociosos. Mas o nosso calendário tem que ser preservado, precisamos discutir o nosso calendário e não sabemos quanto tempo isso vai durar”, comenta.

“O ano vai acabar em dezembro? Não sabemos, pois não sabemos quando vamos começar…” Rosilene sabe que não será um ano fácil e que haverá sequelas de aprendizado, mas argumenta que é preciso não perder de vista o direito dos alunos a educação de qualidade, uma demanda que não será suprida com videoaulas na visão dela. “Eu jamais diria que educação pode esperar. Mas, entre a vida e a rotina escolar, precisamos garantir vida primeiro, para depois pensar na educação”, observa.

Assim, a pedagoga acredita que um grande serviço que as teleaulas podem fazer é no sentido de informar e conscientizar os alunos com relação à prevenção do coronavírus. A orientação do Sinpro para a categoria é que os professores que desejarem gravar videoaulas tomem medidas de segurança e o façam diretamente de casa, em vez de num estúdio. “A gente não pode ficar circulando por aí.”

Acesso
Entre os estudantes da rede pública, existe uma parcela que não tem acesso à internet nem televisão em casa, que podem ficar desatendidos. Para Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro, é grave o fato de nem todos os alunos poderem ser atendidos. “Por isso, não há hipótese de pensar nisso como dia letivo, nem as teleaulas, nem alguma plataforma de internet. Um aluno matriculado, por não ter as ferramentas, vai ficar de fora? Assim, o estado não estará cumprindo seu papel”, reforça.

Cerca de 94% dos alunos têm internet e boa parte dos que não têm podem ter acesso à TV. “Precisaremos identificar quem não tem acesso a nenhum dos dois para pensar em alternativas para eles”, reconhece David Nogueira, da SEE-DF. No entanto, ele pondera que não é efetivo não oferecer as teleaulas porque nem todos conseguirão assisti-las. “Primeiro, precisamos colocar para rodar. Não vamos atender todo mundo, é verdade. Mas porque não vou atender a todo mundo, então, não vou atender a ninguém? Essa é uma lógica perversa”, comenta. “Pior do que atingir 94% dos estudantes é atender zero.”