Atualmente, a universidade conta com quatro campi. O principal fica na L4 Norte, batizado com o nome do idealizador, Darcy Ribeiro. Uma homenagem merecida àquele que levou adiante, com muita determinação, o plano de criar uma instituição de referência. “Eu trabalhava no escritório de Oscar Niemeyer. Lembro que o Darcy foi lá conversar sobre o projeto. Quando ele saiu, fomos à janela e ele estava atravessando o eixo monumental a pé”, conta o arquiteto Carlos Magalhães. “Eu, sem conhecê-lo direito na época, falei: ‘você acha que esse cara, que não tem nem um carro para levá-lo, vai conseguir?’. E lá estava ele, indo a pé, com aquela força terrível dele, o que fez a universidade ir adiante”, comenta. A universidade foi inaugurada no aniversário de 2 anos de Brasília. A cerimônia ocorreu no Auditório Dois Candangos, que ficou pronto 20 minutos antes do evento.
Pesquisador e professor emérito do Departamento de Arquitetura da UnB, José Carlos Coutinho não hesita em dizer que a instituição é o orgulho da cidade. No início, a ideia era trazer profissionais de destaque de todos os ramos e, desde então, a instituição tem reunido uma coleção de talentos. “Associada a uma nova capital, a UnB se tornou, imediatamente, a mais moderna do país e passou a ser invejada por todas as outras, um modelo em apresentar soluções para problemas brasileiros, que não eram poucos”, ressalta. O especialista destaca, ainda, o patrimônio histórico guardado ali. “São materiais que influenciam muita gente no campo de todas as ciências. A universidade foi chamada para colaborar em pesquisas e é muito respeitada em grandes áreas”, afirma.
As primeiras turmas
O primeiro vestibular da universidade ocorreu em 1962. Elza Bastos, 80 anos, era uma das candidatas. Moradora de Brasília desde 1957, ela viu a cidade ser construída e se apaixonou pela arquitetura. “A gente ouvia toda hora falar sobre o projeto de urbanismo, então a arquitetura era uma curiosidade que eu tinha”. A então estudante fez a prova em um prédio na Esplanada dos Ministérios. “Brasília não tinha gente suficiente para preencher uma universidade. No vestibular, veio gente do Brasil todo. Foram dois dias de prova”, recorda.
Aprovada, Elza foi a matrícula número 79 da universidade. Quando chegou, o Instituto Central de Ciências (ICC), conhecido como Minhocão, ainda estava em construção. As aulas eram ministradas nos prédios hoje destinados às partes administrativas, segundo a arquiteta. “Algumas aulas, inclusive, eram ao ar livre”, comenta. Ali, ela cresceu se formou e deu os primeiros passos para se tornar uma doutora na área de arquitetura e urbanismo. “Tudo que eu tenho hoje é graças à minha profissão. Além de ser um lugar de formação, a universidade era um espaço de descontração e união. Todo mundo estava ali buscando um futuro. Era um ambiente de esperança e solidariedade, um ajudando o outro”, destaca.
O professor Aldo Paviani, 86, também presenciou os primeiros anos da instituição. O docente veio do Rio Grande do Sul, em 1969, para dar aulas no curso de geografia. A data em que ingressou, ele sabe de cor: 1º de julho. Ali, Paviani também viveu as incertezas da ditadura militar. “Foram anos duros, chegou um tempo em que a gente estava impedido de entrar no Minhocão. Havia, também, muitos protestos e tinha restrição de liberdade. Lembro de passar pelos corredores para dar aula com soldados dos dois lados”, recorda. Para ele, a UnB é um dos símbolos da democracia. “Vale ressaltar o aspecto democrático da universidade que, mesmo no tempo da ditadura, conseguiu ter liberdade de expressão”, frisa. O docente se aposentou em 1996 e hoje é professor emérito. Mesmo aposentado, orienta teses de doutorado e mestrado, e continua se dedicando às pesquisas.
Patrimônio histórico
Há 53 anos, Francisco Bertoldo de Amorim, 74, trabalha como barbeiro na UnB. Nascido em São Miguel (RN), ele chegou em Brasília em 1967, aos 21 anos. Veio a convite de um primo, que trabalhou na construção da universidade. “Ele tinha uma barbearia na UnB e me chamou para trabalhar lá. Quando cheguei na cidade, era época da jovem-guarda. Vi um monte de homem cabeludo e barbudo e perguntei: ‘ninguém corta o cabelo aqui, não?’”, brinca o profissional. Quando chegou, a barbearia era em um barraco de madeira. Enquanto trabalhava no local, recebeu uma proposta npara função de tratador de água das piscinas da instituição. Ficou por um tempo, mas o amor pela barbearia falou mais alto. Logo pediu as contas e, até hoje, se dedica à profissão.
Quando a barbearia completou 50 anos, foi uma grande festa. Fizeram um café da manhã especial, com a presença da reitora da universidade, Márcia Abrahão, e professores. Durante a comemoração, colocaram uma faixa no estabelecimento com os dizeres “patrimônio histórico da UnB”. “Tudo o que tenho hoje é pela UnB. Criei seis filhos com o que ganho de lá. Tem freguês que era aluno e hoje corto cabelo dos netos deles. Sou muito feliz, graças a Deus. E quero continuar por muito tempo”, declara o barbeiro.
Presente e futuro
Pesquisas, prêmios, formação de novos profissionais. Não há dúvidas de que a UnB tem um grande papel, não só em Brasília como em todo o Brasil. Atualmente, há, na instituição, 528 grupos de pesquisa certificados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). No momento em que o país luta contra a disseminação da Covid-19, a universidade tem contribuído não apenas com especialistas e estudos, mas também com o fornecimento de insumos. A universidade afirmou que fará até 700 testes diários para identificar a doença.
Saiba Mais
Darcy Ribeiro
Darcy Ribeiro foi o criador e primeiro reitor da Universidade de Brasília. Entre 1957 e 1961, o antropólogo ocupou a direção de Estudos Sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais do MEC. No governo de João Goulart, esteve à frente do Ministério da Educação. Em 1992 assumiu a Cadeira n°11 da Academia Brasileira de Letras.
Fonte: Academia Brasileira de Letras