As atividades fazem parte da iniciativa Escola em Casa e não são obrigatórias, tampouco contam como dias letivos. Elas servem para oferecer conteúdo aos estudantes enquanto as aulas não voltam. “A expectativa é de que os alunos não desistam, não desanimem e que eles possam nutrir esse vínculo com a comunidade escolar e com o saber. É uma atividade extra para esse período”, explica David Nogueira, coordenador do programa Escola em Casa DF. Ele diz que o programa continuará sendo transmitido enquanto durar a pandemia.
Nogueira conta que houve um grande esforço para, dentro de um intervalo de 20 dias, mobilizar professores a gravarem videoaulas voluntariamente. Claro que a situação não é ideal, e não dá para esperar formato profissional de todo o conteúdo. “Tem muito programa gravado na casa dos professores, que se voluntariaram para fazer isso. Fizemos um chamamento voluntário para os educadores, e mais de 40 se prontificaram. E, a cada hora, há mais adesões.” O coordenador agradece o esforço dos docentes e de parceiros, como a própria TV Justiça, o Sebrae e o Canal Futura, que têm ajudando a viabilizar as teleaulas.
Tira-dúvidas
A Secretaria de Educação responderá a perguntas sobre o programa Escola em Casa nesta segunda-feira (6/4), às 19h, no Facebook e no YouTube. David Nogueira, em conversa mediada por jornalistas, explicará também sobre a plataforma Moodle, que em breve estará disponível para estudantes do ensino médio. Para acompanhar, acesse www.facebook.com/educadf
Programação
» O programa educativo será transmitido de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h, nos canais 53.1 ou 53.2 (TV Justiça) e também pelo YouTube e pelo Twitter. Saiba mais no site tvjustica.jus.br. Segunda, quarta e sexta são dias de videoaulas gravadas. Elas começam às 9h, focando nos alunos mais novos. Os conteúdos vão avançando de série ao longo do tempo até que, às 11h45, é oferecido um programa para professores. Nas terças e quintas, serão transmitidos aulões ao vivo com foco em estudantes do ensino médio, especialmente pensando no Enem. Serão três aulões diferentes, cada um com uma hora de duração, divididos entre 1º, 2º e 3º anos do ensino médio.Educação à distância
Segundo David Nogueira, coordenador do Programa Escola em Casa DF, as teleaulas são um primeiro passo emergencial de educação a distância (EAD). A Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEE-DF)deve anunciar uma plataforma de aprendizagem para permitir interação entre estudantes e professores na próxima semana. “Se chegarmos a um cenário em que vamos precisar da EaD, essa plataforma permite aulas on-line.” Por enquanto, o calendário letivo da rede pública está suspenso, com previsão inicial de ser retomado em junho. No entanto, tudo dependerá de como a pandemia avançará.Para a pedagoga Rosilene Corrêa, diretora de Finanças do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), é válido oferecer uma atividade complementar aos alunos neste momento, mas suscita preocupação se houver intenção de trocar encontros presenciais por EaD. “Vimos com muita preocupação, porque teve um certo ensaio de uma intenção da secretaria de trabalhar com aulas virtuais”, esclarece. O formato, ela avalia, é impróprio para a educação básica. “Não temos a menor condição de pensar em crianças e adolescentes com aulas a distância”, defende.
“É preciso esclarecer que EAD tem regulação própria, é um projeto com o qual concordamos plenamente como complementação ou como algo para ensino superior, em que os estudantes já têm autonomia, ou como forma de inclusão, para levar educação aonde não tem universidade”, afirma. Rosilene também ressalta que as teleaulas são válidas como um apoio alternativo agora, mas não servem como dias letivos. “Entendemos como razoável que se ofereça algo para que os estudantes não fiquem ociosos. Mas o nosso calendário tem que ser preservado, precisamos discutir o nosso calendário e não sabemos quanto tempo isso vai durar”, comenta.
“O ano vai acabar em dezembro? Não sabemos, pois não sabemos quando vamos começar…” Rosilene sabe que não será um ano fácil e que haverá sequelas de aprendizado, mas argumenta que é preciso não perder de vista o direito dos alunos a educação de qualidade, uma demanda que não será suprida com videoaulas na visão dela. “Eu jamais diria que educação pode esperar. Mas, entre a vida e a rotina escolar, precisamos garantir vida primeiro, para depois pensar na educação”, observa.
Assim, a pedagoga acredita que um grande serviço que as teleaulas podem fazer é no sentido de informar e conscientizar os alunos com relação à prevenção do coronavírus. A orientação do Sinpro para a categoria é que os professores que desejarem gravar videoaulas tomem medidas de segurança e o façam diretamente de casa, em vez de num estúdio. “A gente não pode ficar circulando por aí.”
Acesso
Entre os estudantes da rede pública, existe uma parcela que não tem acesso à internet nem televisão em casa, que podem ficar desatendidos. Para Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro, é grave o fato de nem todos os alunos poderem ser atendidos. “Por isso, não há hipótese de pensar nisso como dia letivo, nem as teleaulas, nem alguma plataforma de internet. Um aluno matriculado, por não ter as ferramentas, vai ficar de fora? Assim, o estado não estará cumprindo seu papel”, reforça.Cerca de 94% dos alunos têm internet e boa parte dos que não têm podem ter acesso à TV. “Precisaremos identificar quem não tem acesso a nenhum dos dois para pensar em alternativas para eles”, reconhece David Nogueira, da SEE-DF. No entanto, ele pondera que não é efetivo não oferecer as teleaulas porque nem todos conseguirão assisti-las. “Primeiro, precisamos colocar para rodar. Não vamos atender todo mundo, é verdade. Mas porque não vou atender a todo mundo, então, não vou atender a ninguém? Essa é uma lógica perversa”, comenta. “Pior do que atingir 94% dos estudantes é atender zero.”
Incerteza sobre o ano letivo
A pandemia de coronavírus mudou bastante a rotina da família de Aldenice da Silva Nunes, 42 anos, que mora no Itapoã. Ela tem dois filhos alunos da rede pública de ensino: Gustavo Silva dos Santos, 6, aluno do Centro de Educação Infantil Tia Nair, no Paranoá; e Maikom Douglas Silva dos Santos, 18, que está no 3º ano no Centro de Ensino Médio (CEM) Paulo Freire. Aldenice é empregada doméstica e, por causa da Covid-19, está trabalhando apenas duas vezes por semana. A liberação foi importante para que ela possa ficar com Gustavo.
“Não tenho com quem deixá-lo”, explica. Na segunda e na quinta, quando vai para a casa da família onde trabalha, o primogênito cuida do caçula. Entreter uma criança pequena que sente falta das tias e dos amigos da escola nem sempre é fácil. “O Gustavo fica ansioso, agoniado. Tenho feito atividades manuais com ele, como mexer com glitter. Agora, a gente está montando um dinossauro de papelão”, diz Aldenice.
A mãe diz que tentará estimular o caçula a assistir às teleaulas, já que o programa educativo abrange da educação infantil ao ensino médio, mas não garante que ele conseguirá acompanhar. “Vou tentar, vou fazer o teste para ver se ele se interessa, mas acho difícil. Ele gosta mais de desenho, de coisas mais lúdicas, não sei se a linguagem vai atendê-lo”, pondera. Maikom pretende assistir às teleaulas, especialmente os aulões com foco no Enem. Apesar de acreditar que o programa educativo seja uma boa alternativa para os estudantes não ficarem totalmente parados, Aldenice se preocupa. “Mesmo assim, os alunos vão ficar prejudicados. A gente não sabe como será o ano letivo”, afirma.