Cidades

Eixo capital



Isolamento social é a forma de proteger grupos de risco

A Codeplan tem sido um importante instrumento na política de combate ao novo coronavírus e na definição de medidas adotadas pelo governador Ibaneis Rocha para reduzir a disseminação da Covid-19. O órgão tem feito levantamentos estatísticos e projeções fundamentais na hora de definir um caminho. Um dado crucial foi o mapeamento dos idosos do DF, principal grupo de risco da doença.

“No Distrito Federal, sabemos, por meio de pesquisas demográficas regionalizadas, que temos em torno de 300 mil idosos”, afirma o presidente da Codeplan, Jean Lima. Deste total, um terço mora sozinho ou com outro idoso; e os outros dois terços dividem moradia com adultos e crianças. Ou seja, são mais de 200 mil idosos expostos a vetores de transmissão que circulam e levam para casa o vírus, uma vez que a maioria dos assintomáticos é criança ou adolescente que, se infectado,  torna-se uma bomba de vírus para transmitir para quem estiver por perto. Como os idosos são os potenciais pacientes para UTI, uma política para conter o coronavírus deve levar em conta esse aspecto para não sobrecarregar o sistema de saúde e evitar o colapso.  Hoje, a grande solução é não sair de casa, o isolamento social. “O governador tem uma inteligência e feeling que contam muito, mas suas decisões são tomadas sempre com uma base científica. Ele verifica pesquisas, compara dados, quer conhecer os números”, afirma Jean.




Apoio ao ministério técnico
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, divide o protagonismo no governo Bolsonaro com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Os dois são aliados e podem formar uma dissidência ao presidente. Na semana passada, a advogada Rosangela Moro chegou a postar no Instagram uma defesa a Mandetta, pela postura técnica, depois apagada. “In Mandetta I trust”, escreveu a mulher de Sergio Moro.




Dr. Mandetta
A frase da semana foi do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que vem sendo rifado pelo presidente Jair Bolsonaro: “Quanto a eu deixar o governo por minha vontade, eu tenho uma coisa na minha vida que eu aprendi com os meus mestres: médico não abandona paciente”.




Aposta no laboratório
O ex-governador Agnelo Queiroz (PT) criou um perfil no Instagram para comentar questões da saúde e da política. A última postagem se refere ao investimento de R$ 21 milhões que ele fez e na contratação de 40 farmacêuticos para reestruturar o Laboratório Central do DF (Lacen), da rede pública, que realiza exames para detectar infecção pelo novo coronavírus.




Recuperados
O ex-presidente da CEB Rogério Villas Boas, 61 anos, se recuperou da Covid-19. Depois de duas semanas internado no Hospital Santa Lúcia, ele teve alta e está em casa. Rogério e a mulher, Marcela Villas Boas, 54, testaram positivo para o novo coronavírus depois de uma viagem à Europa e estavam entre os primeiros moradores de Brasília a serem infectados. Ele precisou ficar hospitalizado. Ela teve sintomas leves. O casal e as filhas passaram o carnaval no Reino Unido, onde o primeiro-ministro, Boris Johnson, o herdeiro da coroa, Príncipe Charles, e a ministra da Saúde para Segurança dos Pacientes, Prevenção ao Suicídio e Saúde Mental, Nadine Dorries, contraíram o coronavírus.



Mandou bem
No Brasil, o Distrito Federal se destacou por ser uma das unidades da federação que mais tem respeitado o isolamento domiciliar, segundo uma pesquisa da Google sobre a localização dos dispositivos móveis.



Mandou mal
Alguns estados, como o Amazonas, já estão perto de entrar em colapso por superlotação de pacientes com Covid-19 nos hospitais públicos, sem capacidade de reação para ampliação do atendimento.



Enquanto isso...
Na sala de Justiça

A força-tarefa do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) tem se reunido semanalmente com os integrantes do gabinete de crise do governador Ibaneis Rocha. Na semana passada, o grupo de promotores e procuradores obteve uma liminar da Justiça que manda o GDF tornar públicas todas as informações sobre despesas no combate à pandemia de coronavírus. Ibaneis disse que acataria sem apresentar recurso.



Só papos



“O que leva o vice-presidente da República a se reunir com o maior opositor socialista do governo, que se mostra diariamente com atitudes totalmente na contramão de seu presidente?”
Carlos Bolsonaro, filho 02 do presidente Jair Bolsonaro





“Tivemos uma reunião com diálogo técnico, respeitoso, sensato. Claro que Mourão não é do meu campo ideológico. Mas, se Bolsonaro entregar o governo para ele, o Brasil chegará em 2022 em melhores condições”
Governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB)





À QUEIMA-ROUPA

Valdir Oliveira Superintendente regional do Sebrae/DF


“Essa crise fará despertar o lado humano e trará uma reflexão sobre valores que estão esquecidos”

Pequenas e microempresas vão sobreviver ao coronavírus?
Muitas não. Já estão indo a óbito como seres humanos acometidos por esse inimigo oculto em forma de vírus. Para nossas empresas, o governo federal demora com as medidas, acelerando a tragédia, do óbito empresarial sem que essas empresas tenham direito à tentativa de recuperação, levando consigo os empregos e a vida de famílias que dependem desse pequeno negócio. Sem uma atuação urgente do governo federal, teremos uma carnificina empresarial que deixará um rastro de desemprego e sequelas sociais irreversíveis para nossa sociedade.

Os países que conseguiram controlar a pandemia foram rigorosos no isolamento social. Como compatibilizar essa medida com a saúde do setor produtivo?
Não podemos cair na armadilha da guerra entre a vida e a economia. Essa disputa não existe e jamais deveria ser incentivada. A compreensão das medidas e das consequências desse vírus deve ser conduzida pela ciência. A medicina deve orientar as decisões de proteção à vida. A economia precisará de ações que minimizem os efeitos dessas medidas. Precisamos de liquidez para as empresas e para as pessoas. Garantir um subsídio, seja em forma de crédito ou de subvenção, mas só a injeção de recursos salvará a economia. Essa medida de liquidez que o governo federal precisa implementar tem que ser simples e urgente, sob pena de termos o remédio e perdermos o paciente por incompetência daqueles que são os responsáveis pela administração da medicação.

Se não é possível abrir as portas, qual é a demanda desse setor?
Recursos financeiros. Dinheiro na mão das pessoas e das empresas. O governo federal demorou a compreender a crise e suas consequências e está demorando na implementação das ações necessárias para o socorro das pessoas e das empresas. Está na hora do liberalismo dar lugar à intervenção do Estado no socorro das pessoas e das empresas. As soluções não são de mercado. As soluções para essa crise são sociais e precisam de urgência em suas implementações. Para as empresas que têm capital e patrimônio, uma reengenharia financeira trará o financiamento de seu custo fixo, mas as empresas pequenas, que formam a esmagadora maioria do conjunto empresarial, que não possuem capital nem patrimônio, precisarão de subvenção, uma política de renda mínima empresarial, que garantirá a sua sobrevivência nesse momento de portas fechadas.

Acha que o DF corre o risco de não honrar os salários dos servidores pela queda na arrecadação?
O GDF tem conduzido a crise de forma exemplar. O governador Ibaneis não tem politizado a crise, tem conduzido suas ações de forma cirúrgica, priorizando a proteção à vida das pessoas, ouvindo o setor produtivo em suas demandas. Mas é impossível que o impacto na suspensão da atividade econômica não reflita na queda da arrecadação tributária. Precisamos torcer para que a crise na saúde seja logo controlada, para que a vida retome a normalidade e que isso possa evitar interrupções de pagamentos de salários de servidores e outras despesas do governo. O importante é entendermos que não pode existir disputa entre a vida e a economia. Quanto mais cedo resolvermos o controle dessa pandemia, mais cedo retornaremos à vida e à atividade econômica. Acelerar medidas que atrapalhem o controle da pandemia significa atrasar a volta à atividade econômica e prejudicar ainda mais a proteção aos empregos e à sustentabilidade das empresas.

Acredita que o mundo nunca mais será o mesmo, como dizem algumas pessoas?
Sem dúvida. O mundo passa por transformações profundas que refletem nas pessoas e no mercado. Hábitos pessoais e de consumo estão mudando e se consolidando e teremos uma nova vida quando tudo isso passar.

O senhor olha para o futuro com otimismo ou pessimismo?
Com otimismo sempre. As mudanças trazem oportunidades de melhoria nas pessoas e nas empresas. Essa crise fará despertar o lado humano e trará uma reflexão sobre valores que estão esquecidos. A crise reforçará para uns e ensinará a outros que o melhor remédio é a solidariedade. E para as empresas, a transformação digital trará novas portas para o desenvolvimento de negócios, com possibilidade de crescimento e prosperidade para os que enxergarem esse novo mercado (nem tão novo assim) e se adaptarem às novas regras que ele ditará.

O que cabe a cada cidadão na superação dessa crise sanitária e econômica?
Ser solidário, entender que ninguém pode viver sozinho com seus ideais e suas crenças. Compreender que ninguém é dono da verdade em nenhuma pauta, e que o ódio nunca foi e nunca será um bom conselheiro.

E aos governos?
Proteger a vida das pessoas. Governo que não protege o cidadão não serve para ser governo.