Primeiro governador a adotar o isolamento horizontal, que fechou cinemas, shoppings, comércio e academias entre outras atividades, Ibaneis Rocha (MDB) tem pela frente uma missão de vida: impedir o colapso do sistema de saúde do Distrito Federal na maior pandemia do século. O novo coronavírus já infectou 1 milhão de pessoas no planeta, arrasou a Lombardia — região mais desenvolvida da Itália — e a Espanha e agora atingiu o país mais rico e poderoso do mundo, os Estados Unidos.
Não é uma guerra qualquer. Ibaneis é o comandante de um exército em que os soldados são a própria população civil. Mesmo com recursos, compra de respiradores, testes e equipamentos de proteção para médicos e enfermeiros, além de montagem de hospitais de campanha, nada será suficiente se as pessoas saírem de casa disseminando o contágio.
E, para complicar ainda mais, o governador conta com um adversário poderoso: o presidente Jair Bolsonaro, que subestima o novo coronavírus, trata a Covid-19 como uma “gripezinha” e critica a principal arma dos governadores: o distanciamento social.
O senhor tomou decisões importantes de isolamento social. Hoje, 20 dias depois, acha que a situação estaria muito mais grave se isso não tivesse acontecido?
Não tenho nenhuma dúvida de que a situação no Distrito Federal tinha tudo para causar uma das maiores explosões de contaminação do Brasil, exatamente pelas condições sociais que temos na nossa cidade. Brasília é uma cidade que tem uma renda per capita muito alta na região do Plano Piloto. Temos todos os órgãos e todos os poderes aqui instalados. Temos o Congresso Nacional, todos os ministérios, o presidente da República, 180 organismos internacionais, gente voltando de todos os lugares do mundo após o carnaval. Então, era previsível que tivéssemos um grande índice de infecção. Além disso, se a cidade estivesse funcionando normalmente, teríamos aqui quase todos os prefeitos, deputados federais, senadores, todos eles indo e voltando para seus estados. Além de ser um problema muito grande para nós aqui do DF, estaríamos distribuindo isso para todo o Brasil, o que realmente seria um grande problema.
No começo, houve críticas até de infectologistas. Foi o momento certo?
Adotamos a medida no início, quando tivemos o primeiro caso, logo após a decretação da pandemia mundial pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Acho que a medida foi acertada, mesmo que dura, e difícil de ser tomada. Mas ela foi tomada na certeza de que as coisas não seriam fáceis em todo o país. Fui bastante criticado, acho que é do cargo público, mas foi necessário. Se não tivesse sido adotada essa medida, hoje, teríamos no DF todo um sistema de saúde em colapso. Teríamos toda uma população passando por muitas dificuldades. Tenho certeza que teríamos uma situação como aconteceu em Nova York ou mesmo na Itália, por conta dessa infecção generalizada. A questão de você ter renda per capita maior no Plano Piloto e pessoas muito carentes em regiões muito próximas é que essas pessoas vêm trabalhar na casa desses que têm renda per capita alta. Eles vinham e voltavam carregando essa doença para áreas que não têm a assistência toda nem essa renda per capita tão alta. Teria a empregada doméstica da casa do embaixador trabalhando e voltando para casa, para infectar todos aqueles que estavam lá. Então, esse isolamento foi necessário, a diminuição do comércio também foi necessária. Imagine nos restaurantes desta cidade — eu que sou frequentador deles e gosto: o tanto que você entra, cumprimenta as pessoas, o tanto que vocês se encontram. O que não teríamos de índice de contaminação? E essas pessoas contaminadas, em contato com os garçons, cozinheiros, voltando para suas residências — geralmente em cidades-satélites, cidades que têm um índice econômico bem menor. Tive toda essa preocupação e tomei essa decisão na certeza de que foi acertada.
Dá para estimar o número de casos que o DF teria em uma situação em que o senhor não tivesse tomado providências imediatas?
Tenho certeza de que teríamos passado de 5 mil casos. Tenho essa convicção. Diante da circulação e daquele primeiro avanço que tivemos das infecções, se não tivessem sido tomadas as decisões, teríamos pelo menos 5 mil casos de infectados. Isso implicaria termos hoje pelo menos 100 a 120 vagas de internação. Hoje, estamos com pouco mais de 30 pessoas internadas, entre rede pública e privada. Tenho convicção de que teríamos uma situação muito grave no DF.
Historicamente, o sistema de saúde do DF tem falhas, pela complexidade e pela demanda. Hoje, vivemos um problema sem precedentes. A população pode esperar que vai receber atendimento nesta pandemia?
Desde o início de nosso governo, venho trabalhando muito. Inclusive, uma das primeiras coisas que fizemos foi aquela alteração no que diz respeito ao Instituto de Gestão (Estratégica de Saúde do Distrito Federal, Iges-DF). Durante a campanha, por não conhecer ou por não ter acesso às informações corretas, fiz várias críticas àquele modelo do Iges. Mas eu mudei a partir da (fase de) transição (entre governos), quando tive acesso aos dados e às informações, e fizemos aquela alteração, trazendo as UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) e o Hospital (Regional) de Santa Maria para dentro do nosso sistema. Agora, a expansão das UPAs está sendo feita. Reabastecemos toda a rede hospitalar. Ampliamos o atendimento nas mais diversas áreas. A rede hospitalar do DF vinha melhorando muito.
Mas e agora, com esse novo cenário?
Posso garantir. Por que falo isso? Nós conseguimos recompor as equipes do (Programa) Saúde da Família, que é a atenção básica; fizemos, emergencialmente, o atendimento das UPAs, então, tiramos as pessoas das portas dos hospitais, acabou aquela crise que existia nas emergências dos hospitais. E estávamos passando por uma segunda fase, a da desospitalização, aumentando o número de cirurgias e atendimentos. Quero desospitalizar para poder manter os leitos. Posso lhe garantir que, hoje, estamos preparados. Não como deveríamos, mas estamos preparados para atender até um determinado nível. E é por isso que tenho tomado medidas para não estourar, não vamos ter condições. Como nenhum estado da Federação vai ter condições de tratar essa doença. O que acontece hoje? Temos, à disposição dentro da rede pública, 150 leitos de UTI sendo montados. É um número bastante expressivo. Só no Hospital (Regional) de Santa Maria, são 80 leitos sendo montados. Temos, junto à rede privada, um determinado valor que foi colocado à disposição também para que eles ofertem leitos de UTI. Então, existe uma previsão que temos de chegar até o fim de abril em torno de 1 mil casos (de Covid-19) — se passar um pouquinho —, conseguiremos atender a toda a população do DF sem maiores problemas.
Por isso, as pessoas têm de ajudar e não sair de casa, mantendo o isolamento social...
Se não ajudar, não tem jeito. Se for todo mundo para a rua, se começar essa cobrança por abrir comércio, abrir restaurante, abrir isso, abrir salão, abrir tudo… Na Itália, um dos maiores índices de contaminação foi exatamente nos salões de beleza. E temos de tomar cuidado com isso. Porque não é só o problema do “entrou, saiu”. Mas, se um paciente infectar um cabeleireiro, por exemplo, esse cabeleireiro vai passar para milhares de pessoas. Temos de ter atenção. Na hora certa, com a segurança que vamos ter, vamos abrindo cada uma das atividades que penalizem menos a população.
O senhor está seguindo o modelo de Cingapura na forma de lidar com o novo coronavírus. Lá e na Coreia do Sul, vemos que eles testam muito. O senhor pretende aumentar o número de testes?
Estamos com uma compra aberta de 150 mil testes. E o Ministério da Saúde ficou de complementar, ainda, com mais testes. Hoje, fazemos 1 mil testes por dia no DF. Pelo que fiquei sabendo, essa licitação deu positivo e eles têm para fazer à pronta-entrega. A partir da próxima (desta) semana, quero fazer em torno de 3 mil testes por dia. E, chegando a segunda remessa, do Ministério da Saúde, quero chegar a 5 mil testes diários para, no momento em que formos fazer o desbloqueio parcial das atividades, façamos isso com o maior nível de segurança possível.
Então o senhor vai adotar o mesmo critério de testes?
O mesmo critério. Exatamente o mesmo critério.
E quem deve fazer o teste?
Todas as pessoas que têm algum tipo de sintoma. Sabemos que há muita gente assintomática, principalmente os mais jovens e as crianças. Mas você tem algumas pessoas que têm algum tipo de resfriado, gripe, febre; pessoas que tiveram contato (com pessoas infectadas). Vamos ampliar esse número de testes para poder ter um grau de certeza maior em relação às medidas que precisam ser adotadas ao final dessa crise.
Como temos um sistema único de saúde, se o DF se tornar um modelo de sucesso, conseguir atender às pessoas e as outras unidades da Federação não fizerem o dever de casa corretamente, o senhor teme que outras pessoas venham para cá e acabem causando o colapso?
Brasília é uma cidade de trânsito, um grande hotel de trânsito. Enquanto o governo federal tiver esse trabalho e essa responsabilidade de manter o atendimento a distância, o Congresso Nacional continuar funcionando como está, sem ser presencial, não vamos ter motivo para as pessoas virem para cá. De outra ponta, conseguimos adquirir também de Cingapura — já tínhamos o equipamento aqui — chips para fazer testagem. Vamos fazer testagens dentro dos ônibus. Em qualquer pessoa que tiver qualquer sintoma, vai ser feito o teste rápido na própria rodoviária ou na própria rodovia. Estamos tomando as medidas, não de fechamento, mas sanitárias, que nos deem a garantia de que vamos ter o menor índice de infecção vindo de fora. Estamos fazendo um protocolo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para que ela, junto ao Corpo de Bombeiros, teste dentro dos aviões que pousem em Brasília.
Nos aeroportos houve um problema porque não é a área dos governadores e sim, federal...
É, mas o presidente da Anvisa tem sido muito solícito com todos nós, o Antonio Barra. E está em andamento entre o pessoal técnico dele e a área técnica nossa esse termo de cooperação por meio do qual vamos atuar de forma conjunta. Acho que ele fez certo. Ele não pode entregar na mão dos governadores uma atividade que é da União. Mas acho que, em parceria, sim. Ele terá um modelo para que todos os estados façam também. Agora, é cooperação. A palavra é essa.
O fato de o presidente Jair Bolsonaro ter andado pelas ruas do DF no fim de semana atrapalha seus planos aqui de conter a pandemia ?
Gerou em mim uma preocupação muito grande. Porque — no momento em que ele faz isso, e ele é muito popular na maneira de falar, pelo menos dentro do grupo dele — tivemos algumas movimentações no próprio domingo à tarde e na segunda-feira que indicaram um aumento de pessoas na rua. Então, fiquei preocupado ali naquele momento. Na segunda-feira, chegaram a fazer algumas manifestações aqui na frente do (Palácio do) Buriti. Mas, como estou trabalhando muito seguro do que estou fazendo, não cheguei a me incomodar. E acho que, naquele momento, em virtude do que aconteceu — ele trabalha muito com pesquisa, o presidente; pode não parecer, né? (Risos) —, ele viu que a popularidade dele terminou caindo um pouco. E, ouvindo o pessoal das áreas técnicas, ele deu uma recuada nessa posição dele, que é o mais adequado neste momento. Agora, isso, para mim, não gera nenhum tipo de problema político. Eu considero o presidente. Ele tem uma função importante para o Brasil. Eu estou tranquilo. O que tenho precisado de ajuda no Ministério da Saúde, o que tenho precisado de apoio junto às áreas econômicas e ao Congresso Nacional, tenho encontrado.
Inclusive, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tem ressaltado o trabalho dos governadores, citou o senhor recentemente e fez um elogio. O fato de ele agir dessa forma faz muita gente acreditar que, em conflito com o presidente Bolsonaro, ele pode acabar saindo…
Entrar em conflito com o presidente da República parece que não é uma coisa, assim, muito difícil. (Risos) Vejo no ministro Mandetta uma responsabilidade muito grande com a pasta que ele assumiu, desde o início, quando tive o primeiro contato com ele, ainda na transição (entre governos). Pela experiência dele como deputado federal, pela experiência dele na área de saúde no estado dele, no Mato Grosso do Sul. Ele presidiu comissões de saúde da Câmara dos Deputados e sempre pareceu muito responsável e muito centrado. O embate dele com o presidente não interessa a ninguém. Acho que nem ao presidente da República, nem ao próprio ministro Mandetta. Muito menos à sociedade brasileira, que precisa, hoje, de ter harmonia. Acho que eles acabam se entendendo, mesmo que tenham de usar algum tipo de interlocutor.
Mas o ministério da Saúde tem ajudadoso?
Só liberou R$ 15,7 milhões e não concluiu o hospital de Águas Lindas que nos ajudaria bastante. Estamos assumindo muitos custos. O ministério não comprou nenhum respirador.
Como o senhor avalia essa posição do presidente de que é preciso preservar os empregos e que as duas medidas, saúde e economia, têm que andar juntas?
Concordo com ele em parte. Por aqui, estamos tendo essa preocupação também com a área da economia. Tanto que a primeira coisa que fiz no momento em que tive que fechar os restaurantes do Distrito Federal foi abrir uma linha de crédito para todo pessoal do Sindobar (Sindicato Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília), porque nós sabemos que eles têm dificuldades, têm faturas para pagar e têm funcionado de certo modo. Agora, estamos ampliando essas medidas de acordo com o que os setores estão nos procurando. Fiz uma reunião com o pessoal da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, do BRB (Banco de Brasília), da Economia (secretaria), do Trabalho (secretaria) e a nossa preocupação foi um pouco mais ampla. Nós não podemos cometer os mesmos erros que foram cometidos em governos passados, como, por exemplo, no governo Dilma em que ela escolheu alguns setores para beneficiar e terminou quebrando todo mundo no final. Nós temos que fazer um projeto que tenha toda a base da economia, micro, pequena e médias empresas e também uma linha com os grandes empresários.
Como funcionará?
Ficou acertada (com o BRB) mais ou menos essa linha de trabalho e eles estão levantando. Por faturamento de empresa, nós vamos criar um programa em que a gente possa auxiliar a todos. Como é que isso vai ser feito? Tem dinheiro para isso? Tem. Não um dinheiro do governo. Mas nós vamos disponibilizar alguns imóveis, podem até ser imóveis que venham da Terracap, do próprio governo, vamos fazer um fundo garantidor e vamos colocar na conta do BRB. Para cada R$ 1 que você colocar no fundo garantidor, você pode emprestar até R$ 5. Então, se a gente fizer um fundo com R$ 200 milhões em imóveis, e nós temos imóveis para isso, você consegue emprestar até R$ 1 bilhão. Vamos colocar isso tudo à disposição da economia do Distrito Federal. Existem muitas dessas empresas que em uma situação normal não teriam condições de ter acesso ao crédito, então, vamos fazer o fundo para aqueles que, não dando conta, a gente consiga garantir que tenham acesso. Isso tudo está em análise e nós pretendemos anunciar nos próximos dias.
E as pessoas mais carentes, como vão sobreviver?
De outra ponta, estamos cuidando das pessoas mais carentes. Nós estamos comprando mais 60 mil cestas básicas, 30 mil por mês e vamos também, com a Secretaria de Agricultura, distribuir tanto a cesta seca quanto a cesta verde para ajudar a todos esses. Estamos também apoiando todos os asilos, todos os idosos e distribuindo para eles, já desde o início, quando houve o fechamento da Ceasa, nós estamos comprando parte dos produtos agrícolas para distribuir nesses locais. Estamos cuidando de todo mundo. E, para a próxima semana, Secretaria de Governo, Secretaria de Trabalho e Novacap vão soltar uma grande frente de trabalho em parceria com o Senai. Nós vamos contratar por meio de bolsas, pessoas que estão desempregadas, o Senai vai dar os cursos no local onde estiver trabalhando e nós vamos requalificar todas as cidades. Arrumar as praças, vamos dar uma arrumada em todas as cidades. Vamos começar com três mil pessoas com essas bolsas, vamos entrar com a parte do transporte, vamos pagar o curso para o Senai e, ao final, se for durante um mês, a pessoa vai sair com um curso de técnico. Se ficar dois meses dentro do programa, sai com curso de especialista e aí são várias áreas, de pedreiro, de eletricista…
Como vai funcionar o programa para atender aos idosos que representam um grupo de risco na pandemia?
Nós estamos, com a Secretaria de Justiça, a partir de uma ideia que surgiu, já que muitos hotéis estão fechando e vão passar um bom tempo fechados, usar essa estrutura. Vamos fazer uma busca ativa para trazer aqueles idosos que estão com mais dificuldades. Há um grupo de idosos que está convivendo com pessoas que foram infectadas pelo vírus e estão em isolamento domiciliar. Muitas vezes, esse idoso quer sair da residência e não tem para onde ir.
Tem uma ideia de quantos são?
Em torno de 80 a 100. Depois, nós temos aqueles outros idosos que estão em situação de risco e que não têm condições. A habitação não é adequada, tem muitas pessoas, então, nós vamos fazer um programa de busca desses idosos para colocá-los durante o período dessa pandemia em uma situação melhor. Eles ficariam hospedados. Nós faríamos um teste antes para garantir que não terão pessoas infectadas nesse ambiente e faríamos o isolamento deles de uma forma adequada, com psiquiatras, psicólogos, atendimento médico, assistente social… É um programa que está muito bem montado.
Seria um convênio do governo com os hotéis?
É. Nós vamos cadastrar os hotéis, isolar por andares. Tem alguns deles que teremos que isolar todo o hotel, já está fechado, e aí nós vamos convidar as pessoas e vamos pagar. O valor que eles estão colocando é mais ou menos o valor da manutenção, são pagamentos de funcionários e o dia a dia deles.
O empresário Paulo Octávio disse que ia colocar à disposição o Hotel Brasília Palace, para ajudar nas ações contra a pandemia...
Sim, o dele é um desses que já foi, inclusive, vistoriado pela Secretaria de Saúde e pela Secretaria de Justiça.
O senhor tinha projetos para 2020, muitas obras, muitas coisas para executar. O que não vai dar para fazer?
Nós não paramos com nada. A Novacap está trabalhando. Nós vamos sair dessa crise e ter que tocar a cidade, então, não deixei parar nada, não mandei cortar nada. Pelo contrário, estou acelerando. Eu tinha previsão de soltar agora no primeiro semestre cinco UBSs (Unidade Básica de Saúde), já foram feitas as licitações e eu mandei licitar mais 15. Então, já que eu estou tendo a oportunidade de resolver o problema da saúde, vou fazer 20 UBSs esse ano. Na área do DER, nós estamos liberando semanalmente os recursos para que sejam licitados viadutos. O Hospital Oncológico está já na fase final. Nós estamos trabalhando junto à Caixa Econômica Federal para a liberação do viaduto da EPIG. A Terracap está assumindo parte da infraestrutura dos bairros. Todos os nossos projetos que foram anunciados no ano passado continuam. Independentemente de qualquer coisa, eles vão acontecer.
Mas não haverá uma frustração grande de arrecadação, da ordem de até R$ 2 bilhões, pelo desaquecimento da economia, empresas e comércio fechados?
Eu já não previa utilização de recursos da fonte 100 para essas obras. Uma parte vem de emendas de deputados e senadores, a outra parte vinha do orçamento geral da União, eram projetos em andamento, há muito tempo parados, outras eram emendas que estavam perdidas, como é o caso, por exemplo, das creches que nós conseguimos liberar. E outra parte são recursos da própria Terracap, que tem que fazer o investimento da cidade, e das outras empresas. Por exemplo, Caesb que acumulou lucro, BRB, a parte do lucro que teve no ano passado. Então, estamos organizando dentro de um cenário bastante realista, mas a cidade vai continuar com todo o ritmo de crescimento. O que nós vamos ter uma queda, e eu não tenho dúvidas, é no investimento privado. O privado vai analisar primeiro o cenário econômico para voltar a investir. Isso é uma quebra de expectativa nossa porque nós conhecemos a vontade e a credibilidade do empresariado do Distrito Federal. Nós sabemos que, agora, com esse cenário internacional, eles vão fazer uma nova avaliação. Mas eu tenho uma convicção muito grande de que como Brasília é uma cidade que, quando sair essa crise que deve chegar até final de maio, início de junho, nós vamos estar bem organizados com o pé no acelerador. E o empresariado vai voltar, porque quer retomar aquilo que tinha de previsão de lucro no início do ano. Estou bastante confiante.
Mas por que o senhor acha que em junho as coisas estarão melhores?
Porque eu estou vendo uma consciência nacional e internacional no sentido de conter o avanço da Covid-19, e estou vendo também um investimento muito grande tanto no âmbito nacional, com as medidas que o Paulo Guedes tem anunciado, quanto no âmbito internacional. Seja por meio da China, que está voltando a comprar, que está voltando a trabalhar, seja dos Estados Unidos, que estão fazendo investimentos pesados na área de infraestrutura e em diversas outras áreas. Isso faz com que o Brasil seja um fornecedor de commodities e que ele volte na balança comercial a ter um peso muito forte. O cenário econômico para nós talvez seja melhor que em outros países porque nós somos exportadores de commodities.
Mas e a crise sanitária? Como prever o que vai acontecer diante de um novo coronavírus?
Dá para prever. Se todos fizerem as medidas como estão fazendo em todas as partes do mundo, e nós aqui temos que nos adequar a elas, existe toda uma análise de que nós sairemos dessa crise ali no final de maio, início de junho.
Acredita que surgirá um remédio ou uma vacina a curto prazo?
Dessa área eu não conheço muito. Eu sou advogado. Espero que os grandes laboratórios estejam investindo muito. Mas eu não conheço nem um caso que uma vacina tenha sido criada em um período inferior a um ano.
O mundo vai ser outro depois dessa crise?
Acho que crise não muda o mundo, não. As crises aperfeiçoam em alguma coisa. Nós já tivemos crise de Influenza, crise de H1N1, crise de Ébola, crise econômica… Esses dias eu estava assistindo ao filme da bolha imobiliária de 2008. Lá você descobre que a bolha imobiliária de 2008 surgiu na bolha da informática em 2001, então, são cíclicas essas crises e a gente termina não aprendendo com elas infelizmente. Aí surgem outras. Eu acho que a nossa capacidade é superar as crises.
O senhor já falou algumas vezes que gosta de resolver problemas. Imaginou que teria um problema desse tamanho para resolver?
Pensei que o problema que eu tinha era aquele que herdei quando assumi em primeiro de janeiro (de 2019). E é grande. Não é pequeno, não. O Distrito Federal é um estado que passa por muitos problemas estruturais não só na área de saúde e segurança, mas uma crise de consciência também, uma infecção muito grande dentro dos órgãos, uma luta quase que insana para se conseguir fazer licitações, liberar contratos. Existe um índice muito alto de corrupção mesmo dentro do Distrito Federal, que a gente está tentando tirar.
Haverá compra de respiradores para os pacientes em estado mais grave?
Estou com um problema sério, porque o Ministério da Saúde puxou para si todas as compras de respiradores. Ninguém pode comprar da rede pública. Em São Paulo, a saída que eles encontraram foi o Bradesco, que comprou os respiradores. O banco foi no privado, comprou e doou para o estado de São Paulo. Eu aqui tive uma reunião com o presidente do BRB e ele vai fazer uma campanha para arrecadar recursos para que possa fazer a compra e a prestação de conta da compra desses respiradores. Acho que assim a gente vai conseguir agir mais rápido. E ele será só o intermediário disso. As pessoas vão doar esses respiradores para a rede hospitalar.
Qual é a necessidade? Quantos respiradores?
Se a gente tiver aqui no Distrito Federal, hoje, cerca de 400 respiradores, a gente já atende à população com muita agilidade. Você tira a pessoa da crise rápido, que a vantagem do respirador é essa. Então, o respirador tem uma função de, no máximo, dois dias, recuperar a função respiratória da pessoa e tem condições de colocá-la em uma internação mais tranquila, ambulatorial.
E terá equipamento de proteção individual para os servidores da saúde? Há reclamações.
Nós conseguimos fazer uma compra de equipamentos, infelizmente, o preço não é o que nós gostaríamos, já que está todo mundo procurando no mercado. Mas nós conseguimos fazer uma compra que atende todo o pessoal da saúde. Em relação ao restante da população, colocamos o pessoal do presídio para trabalhar pela Secretaria de Justiça. Eles estão produzindo em torno de duas mil máscaras por dia. A nossa fábrica social também está produzindo em torno de duas mil para dar uma ampliada. Criando mais um turno, nós vamos produzir em torno de cinco mil máscaras por dia, e essas eu quero distribuir para a população e também para outros grupos.
Saiba Mais
Eu fui contra, né? Mas cumpro decisão. Como advogado, aprendi a cumprir decisão e, agora, como governador também vou cumprir.
Mas deu pra verificar um aumento na criminalidade?
Não, acho que, na redução da circulação de pessoas, você termina tendo também uma redução na criminalidade. Por exemplo, a maioria dos crimes aqui envolvem drogas, brigas de bares, essas coisas. Como está tudo fechado, termina dando uma diminuída. Deu uma apaziguada nos números. O que você tem hoje mais é furto a comércio, essas coisas. Nem tanto a residência, mas ao comércio, porque está fechado e alguns produtos são mais de interesse desses meliantes. Em algumas áreas vamos ter um aumento na criminalidade, na maioria vamos ter uma redução.
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