12/2/1995: Que bicho vai dar?
Correio Braziliense lança um concurso que vai escolher o animal-símbolo de Brasília
O Correio Braziliense começa hoje um concurso que, até o dia 10 de março, vai movimentar a cidade para a Escolha do Animal-Símbolo de Brasília.
O tema polêmico que vem centralizando os debates na Câmara Legislativa leva o jornal que nasceu com a Capital da República a participar de uma importante decisão de sua população.
Entre os leitores que participarem do concurso será sorteada uma assinatura do Correio Braziliense.
O diretor de Marketing do Correio Braziliense, Márcio Cotrim, ressalta que “o jornal sempre esteve presente em todos os momentos de alegria e tristeza dos moradores de Brasília e vive as preocupações da cidade”.
Agora, diz Cotrim, “o Correio participa com a comunidade da escolha do animal - símbolo da Capital, fazendo o que sempre fez, nos momentos em que a população precisa dar sua opinião sobre questões importantes”.
Cupom
Na Câmara Legislativa tramitam dois projetos com propostas de animais-símbolos.Um é do ex-deputado e atual secretário da Fazenda, Wasny de Roure (PT), que indica o peixe Pirá-brasília, e outro, de César Lacerda (PRN) e Luiz Estevão (PP), defendendo o Lobo-guará.
De hoje até o dia 10 de março, o Correio Braziliense publicará na página 2 um cupom para que a população possa participar da escola, marcando com um X sua opção e ajudando, assim, diretamente, na decisão entre as duas opções (o Pirá-brasília e o Lobo-guará) e um terceiro espaço em branco para que o leitor possa fazer a escolha de outro animal, se não concordar com as propostas que estão em debate na Câmara Legislativa.
Os envelopes devem ser enviados para a Diretoria de Marketing do Correio Braziliense, SIG, quadra 2, lote 340, CEP 40.610-901, Brasília-DF, ou entregues nas lojas de Classificados.
Governador apóia a iniciativa
O governador Cristovam Buarque apóia a iniciativa do Correio Braziliense de realizar um concurso para a escolha do animal-símbolo de Brasília. “Mesmo para escolher o animal-símbolo de Brasília, a eleição direta é sempre o melhor caminho. Ainda mais quando existem divergências tão profundas”, resumiu o governador.
Sua frase releva a importância da discussão em torno do assunto, independentemente das opiniões favoráveis ao pirá-brasília ou ao lobo-guará e a seriedade com que são acompanhados pelo governo os debates sobre a escolha do animal-símbolo de Brasília.
O nome será mais uma marca que, após aprovada, passará a representar e ajudará na divulgação da capital federal.
Oportuna
O presidente da Câmara Legislativa, deputado Geraldo Magela (PT), ressalta como “extremamente oportuna” a pesquisa que será feita pelo Correio Braziliense.“O que o povo disser a respeito para o jornal será uma valiosa orientação à decisão que a Câmara venha a tomar”, diz Magela.
Diante da iniciativa do Correio Braziliense, Magela disse que fará contato com os líderes partidários para que seja retirado o caráter de urgente da matéria, para aguardar o resultado da pesquisa.
Flor do cerrado
Secretária de Turismo e, por isso, diretamente interessada no assunto, Maria de Lourdes Abadia fala sobre as propostas que estão na Câmara Legislativa.“Eu pessoalmente prefiro um símbolo, como a Estátua da Liberdade ou a coluna do Alvorada para representar uma cidade”, diz.
“Mas se é para escolher entre um lobo e um peixe, porque não incluir na lista a flor do cerrado aquela que seca, mas não murcha?”, completa Abadia.
“Mas de qualquer modo acho que o peixinho é pouco para simbolizar a grandeza de Brasília e o lobo já é o símbolo do Guará”, completa.
Advertência
Ao apresentar o projeto indicado o Pirá-brasília como animal-símbolo da cidade, o ex-deputado Wasny de Roure (PT) diz que a idéia foi conscientizar a população para a questão ambiental.“O pirá-brasília, assim como o lobo-guará, está em extinção, mas o pirá é bem típico”, diz. “Parabenizo o Correio que, mais uma vez, está cumprindo o seu papel peculiar de fazer jornalismo”, acrescenta Wasny.
O deputado Luiz Estevão (PP) um dos autores do projeto que defende o lobo-guará, acredita que o símbolo deve ser “algo visível, que a comunidade tenha contato com ele, que conheça. E o pirá-brasília tem uma vida curta e ninguém sabe o que é”.
Luiz Estevão elogia a pesquisa do Correio Braziliense, destacando que “ela é oportuna porque a escolha de um símbolo deve ser feita pela comunidade”.
“Você já viu o lobo-guará solto? Eu já vi. Ele uivando na madrugada é lindo! O pirá-brasília chama a atenção porque está em extinção, mas ninguém conhece”, diz.
A defesa entusiasmada do lobo-guará é feita pelo deputado Rodrigo Rollemberg (PSB), que o acha mais identificado com o cerrado.
Elogiando a iniciativa do Correio Braziliense, Rodrigo diz que já tinha sido comentada “a idéia de se fazer um concurso nas escolas para que os estudantes, as crianças, dessem sua opinião”.
O povo fala
Ricardo Kornelius, agrônomo
“Nenhum dos dois. Eu escolheria o rato JK, uma espécie que surgiu por aqui na época em que Juscelino era presidente. O nome foi dado com carinho, em sua homenagem, ams hoje se encaixa no perfil dos políticos da cidade”
Luís Fábio Santos, corretor de imóveis
“É verdade que esse peixe é viado? Se for, acho que não pega bem escolhê-lo. Se bem que o lobo-guará também não tem uma aparência muito máscula não. Parece que tá de meia…”
Louro Campos Martins, técnico em montagem de irrigação
“Prefiro o lobo-guará. Não se se pega bem o nome pirá-brasília, e além do mais o lobo representa melhor a região. Não tenho nada contra o peixinho, mas o nome é que não cai legal.”
Fabiana Vieira, estudante
“Votaria no lobo, porque ele dá uma impressão de força. O peixinho é muito sensível, não se parece com a cidade. O lobo se vira sozinho, tem mais agressividade. Brasília não tem nada de frágil, é trabalho, é força.”
Hely Walter Couto, pioneiro e diretor da Pioneira da Borracha
“Entre o peixe e o lobo eu escolho o último. Porque o lobo representa a natureza do cerrado. E o símbolo da crueza da região, do agreste. Não acredito que o peixe tenha esses predicados.”
Luiz C. Rioja, pioneiro
“O lobo. Porque ele é mais conhecido, mais popular e é macho mesmo. E além do mais, quando vim para a cidade, em 1957, eu me deparava com muitos guarás por essas estradas.”
13/02/1995: Lobo-guará larga na frente do pirá-brasília
Enquete feita pelo Correio Braziliense ontem na feira da Torre de TV e na Rodoviária do Plano Piloto, o lobo-guará levou a melhor contra o pirá-brasília.
Mas ao contrário do que muitos imaginam, a “goleada” do lobo não foi facilitada pelo comportamento sexual do adversário, chamado de hermafrodita e homessexual por parlamentares brasilienses.
“Não existe peixe-homem nem peixe-mulher, quanto mais dos dois sexos. Isso é coisa de deputado que não tem oque fazer e devia se preocupar é com o salário do funcionalismo”, reage o agente de segurança Fernandes Antônio.
Fernandes voto no lobo-guará porque o animal representa o cerrado da região Centro-Oeste.
Espanto
A alegada homessexualidade do pirá, “acusada” pelo deputado César Lacerda, é motivo de espanto para Marivalda dos Santos. “O peixinho é tão inocente… Como é que ele pode ser gay?”, pergunta a vendedora.
“O lobo-guará tem mais afinidade com Brasília e eu já o vi no zoológico. Esse peixe não é conhecido por ninguém”, critica o funcionário público Afiton dos Santos.
Já o vendedor Francisco da Paixão, 16 anos, prefere o pirá por razões estéticas e sentimentais.
“O peixe é mais bonito e, como eu estou morando em Brasília há dois meses, acho que a cidade merece ser conhecida pelo bicho mais lindo que tiver por perto”, explica.
Curral
Mas entre os que nasceram ou cresceram no DIstrito Federal, o lobo tem um curral eleitoral cativo. “O lobo é mais forte, mais bonito e é típico do cerrado”, ataca a professora Helen Paim.
“Isso é uma questão de tradição. Estou em Brasília desde 1961 e cansei de ver o lobo-guará se banhando onde agora é o Minhocão da UnB”, conta o aposentado João Felício.
“A única coisa que não gosto do guará é o mau-cheiro terrível”, ressalta o aposentado.
15/02/1995: Hebe Camargo defende peixe
A polêmica em torno do animal símbolo de Brasília já ganha repercussão até em rede nacional de televisão ao vivo.
Na noite de segunda-feira passada, a apresentadora Hebe Camargo, do SBT, falou durante um minuto e meio sobre o pirá-brasília em seu programa semanal, Hebe.
Ela saiu em defesa do peixe, atacado pelo deputado distrital César Lacerda (PRN) por causa de supostas tendências homossexuais do animal.
Durante o pronunciamento na última semana, o deputado afirmou que “o pirá-brasília não é um bicho, mas sim uma bicha”.
“Deixem o peixe em paz. Coitado dele. O que interessa se é bicha ou não?”, perguntou Hebe, em seu programa.
Ela foi aplaudida pelo auditório lotado ao sugerir que o rato fosse adotado como animal símbolo da cidade.
“As estatísticas indicam que há mais roedores do que gente no país”, justificou.
O peixe foi descoberto pelo pesquisador José Boitone, em 1959, no córrego Guará. Ele se alimenta de vermes e mosquitos e, segundo o estudioso, “é machista e poligâmico”.
15/02/1995: Deputado ataca pirá outra vez
As explicações científicas sobre a sexualidade do pirá-brasília, dadas pelos diretor do Zoológico, Raul González, não aplacaram a ira do deputado César Lacerda (PRN) contra o peixe.
Em entrevista ao Correio Braziliense no último sábado, González afirmou que o pirá não é homossexual nem hermafrodita, ao contrário do que o parlamentar havia insinuado.
Mas o diretor do zôo admitiu que o peixe “muda de sexo conforme a conveniência”.“Quer dizer que ele fica trocando de sexo toda hora? Então esse peixe é muito mais sem-vergonha do que eu havia pensado”, desabafou Lacerda.
Apoio
O deputado e policial João de Deus (PFT), presidente da CPI da Grilagem, deixou as divergências ideológicas de lado e apoiou Lacerda na controvérsia do pirá.
“Comigo, bicha não tem vez. Como eu sou macho, vou votar mesmo no lobo-guará”, assegurou o parlamentar.
Apesar da cruzada anti-pirá, Lacerda jurou que não tem nada contra o homossexualismo: “Só não quero conviver com homossexuais”, explicou.
Ele aproveitou para elogiar o concurso promovido pelo Correio Brazilienze para escolher o animal símbolo da cidade.
Consciência
Na avaliação do distrital, “o jornal está fazendo uma campanha séria, que contribui para conscientizar a população sobre a importância dos símbolos.”
Além dos deputados, os assessores da Câmara também fazem questão de opinar sobre o assunto que vem mexendo com os deputados distritais.
“Pelo jeito, estão acusando o peixe de ser homossexual só porque ele é comigo pelos homens. Isso é uma injustiça. Também comemos carne de boi, e ninguém fala nada”, argumentou o jornalista José Seabra.
15/02/1995: Bicheiro aponta preferidos
Bicheiro que se preza não dá seu voto a lobo guará ou a peixe pirá-brasília.
Os candidatos a animal símbolo de Brasília estão excluídos das preferências dos apontadores, porque não pertencem ao elenco de 25 animais das apostas no jogo do bicho.
Voto de bicheiro é inspirado na classe política. “É macaco para lembrar deputado e senador”, diz o homem de sapato branco, apontador do jogo nos estacionamentos do Congresso Nacional há mais de 20 anos.
G., 41 anos, faz ponto também no Congresso, e vota no coelho. “Um bicho bonito e bom para representar a cidade”, justifica.
Na 103 Sul, o apontador G., 44 anos, é eleitor do rato. “Para homenagear os ladrões do Congresso e desta Câmara Legislativa que só serve para discutir bobagens como estas”, explica.
Cliente de G., Ricardo de Souza, 52 anos, fazia o jogo com o cupom da promoção do Correio Braziliense na mão. “Voto no peixe. De lobo, já bastam os do Congresso”, diz.
Na 408 Sul, para espanto dos fregueses, o apontador fugiu com a agilidade de um coelho assim que avistou a reportagem.
O aposentado Osmar Veiga, 62 anos, ficou sem jogar. “Estes deputados agora deram para discutir se peixe é hermafrodita, bissexual ou homossexual. Eles não entendem nem dos problemas de Brasília”, reclama.
11/03/1995: Pirá-brasília passa lobo na reta final
Virada sensacional no concurso para escolha do animal símbolo de Brasília promovido pelo Correio Braziliense, na última hora, o peixe pirá-brasília que ao longo de todo o certame sempre se manteve em segundo posto, superou o lobo-guará.
O peixe tinha até às 18h de ontem 3.329 votos contra 3.077 dados ao lobo.
Na quinta-feira, o lobo fora dormir sossegado com 2.651 votos contra os 1.885 dados ao peixe, que parece ter aproveitado a madrugada para reverter o placar.
No entanto, os números ainda não são finais porque até a próxima terça-feira serão contabilizados cupons enviados ao jornal. O resultado final será às 12 horas da próxima sexta-feira no programa Repórter da Cidade, da TV Brasília.
O cachorro Boxer da SQS 108 permanece estacionado há dois dias no terceiro lugar com 169 votos. A garça, vista com frequência em vários pontos à beira do lago, tem a preferência de 67 leitores e a siriema conta com a simpatia de 55 pessoas que enviaram cupons.
A coruja ganhou 23 votos, a água 11, o gavião 14, a raposa seis, a arara dez, a borboleta dois, a cigarra sete, o petista Lula um, o genial Garrincha um e o arquiteto Oscar Niemayer quatro.
A ema ficou com sete votos, o símbolo do Governo do Distrito Federal obteve cinco e o deputado federal Chico Vigilante dois.
Até mesmo o eterno presidente Enéas, do slogan “Meu nome é Enéas”, obteve três votos. As ratazanas conseguiram apenas a preferência de uma pessoa. Ao padre Roque, figura que viu Brasília nascer e crescer foram dados seis votos.
Ao todo, a coordenação do concurso tinha somado até às 18 horas de ontem exatos 7.065 cupons. Outros deverão chegar ao Correio Braziliense até a próxima terça-feira, comprovando o sucesso da promoção.
15/03/1995: Lobo vence peixe com 5.446 votos
Com 5.446 votos, o lobo guará foi o grande vencedor do concurso - promovido pelo Correio Braziliense - para a esoclha do animal símbolo de Brasília.
Computados 9.648 votos, em segundo lugar ficou o peixe pirá brasília com 3.482.
A apuração terminou às 18h de ontem. O terceiro posto coube a um cachorro Boxer, da SQS 108. Ele somou 201 votos.
Amanhã, às 12h, no programa Repórter da Cidade, da Tv Brasília, será sorteada uma assinatura semestral do Correio entre todos os eleitores que preencheram cupons publicados no jornal.
E entre os leitores que apostaram no vitorioso lovo, será sorteada uma tela do pintor Toninho de Souza.
Ao longo de todo o concurso, o lobo sempre se manteve na dianteira chegando a colocar até mais de 800 votos sobre o peixe.
Virada
Somente na última sexta feira, dia 10, é que houve uma reversão. Alunos e professores de um colégio do Gama trouxeram ao Correio Braziliense dezenas de cupons opatando pelo peixe que pulou dos 1.885 votos da quinta-feira para 3.329 deixando o lobo com 3.077.
No entanto, com os votos que chegaram ao jornal no sábado, domingo, segunda e terça-feiras, o lobo recuperou o terreno e segurou o título por uma diferença de 1.964 votos sobre o peixe.
A garça, vista sempre das margens do Lago Paranoá, teve preferência de 71 leitores ocupando o quarto lugar.
A siriema, com 58 votos, ficou em quinto posto. O gavião, que no início da construção de Brasília era visto com regularidade ao lugar onde hoje se situa o Cruzeiro, somou 16 votos. Outros 23 foram dados para a coruja.
A arara, que enfeita os jardins zoológicos das cidades, contabilizou dez votos.
A flor do cerrado teve dez votos, o fundador de Brasília Juscelino Kubitschek obeteve dois, as colunas do Palácio da Alvorada 49 e o leão 25.
A pomba, animal que para muitos simboliza a paz universal, totalizou 18 votos e a ema sete.