Correio Braziliense
postado em 24/03/2020 06:00
Em meio a um período de medo, angústia e incertezas, surge a solidariedade. A pandemia do coronavírus chegou ao Distrito Federal e mudou o cotidiano do brasiliense, mas não demorou para surgirem atitudes de esperança de quem olha para a sociedade como um todo. Há quem doe material, esforços, tempo e até a criatividade para ajudar a preencher lacunas do combate à Covid-19. É o caso de Pedro Henrique Moraes, médico residente do Hospital Universitário de Brasília (HUB), que teve a ideia de reunir doações de equipamentos de proteção individual (EPIs) para unidades de saúde públicas do DF contando com ajuda de impressoras 3D.
O médico criou o Movimento Brasília Maior que Covid-19, que surgiu de um interesse pessoal em ajudar a cidade. “O grupo é independente, não tem relação com nenhuma instituição, e surgiu da união de vários amigos e da demanda de uma resposta rápida à epidemia, com ajuda da sociedade. Vimos que a gente poderia se antecipar e agir o mais rápido possível para combater o vírus, então joguei uma ideia nas redes sociais e as pessoas se interessaram muito. Quiseram ajudar de alguma forma”, explica. O movimento conta com várias frentes. Uma delas é tecnológica e segue uma recomendação médica dita e repetida diversas vezes nos últimos dias: fique em casa.
É de casa que vários voluntários do projeto ajudam com a produção de máscaras face shields, um tipo de proteção física, que pode ser utilizado por profissionais de saúde para evitar contaminações. “Trabalhamos com impressão 3D e corte a laser. Todo mundo com equipamentos deste tipo pode ajudar produzindo esses materiais, que não precisam de uma validação muito grande e podem ser feitos com facilidade. Basta nos chamar nas redes sociais que damos o arquivo já pronto para a pessoa só colocar na máquina, apertar o enter e produzir”, conta Pedro.
A intenção do grupo é ter cada vez mais voluntários e materiais. Os equipamentos vão ser entregues em unidades como o HUB, o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e o Hospital das Forças Armadas (HFA). As primeiras entregas já aconteceram. Na segunda-feira, 12 protetores faciais impressos em 3D foram levados para o Hospital Universitário, junto a outras doações que o grupo conseguiu por meio de vaquinha, como álcool em gel e luvas, por exemplo. “A pessoa que doa pode ser atendida por alguém com aquele equipamento. Então a gente está seguindo assim, com solidariedade, trabalho voluntário, doações de investimento e material”, diz.
Voluntariado
O projeto chamou atenção de alunos da Universidade de Brasília (UnB), que se disponibilizaram para ajudar. Patricia Soares Micheletto, 22 anos, está na graduação de engenharia mecatrônica. Ela conheceu a iniciativa pelo Pedro Henrique e se voluntariou para ajudar no combate ao coronavírus de casa, com a impressora 3D. “Temos um grupo de estudantes que faz parte do Laboratório Aberto, um local voltado para impressão 3D na UnB. Quando o médico pediu auxílio, eu e outros alunos de lá nos juntamos e formamos um núcleo com 40 pessoas para a área da impressão e produção das faces shields”, conta.
Patrícia diz que as impressões levam até duas horas para ficarem prontas. “A gente controla a velocidade dos eixos, o fluxo com que o plástico sai do bico, a temperatura e a altura das camadas. Conseguimos achar uma velocidade e uma altura de camada que otimiza esse tempo de impressão”, detalha. Essa produção utiliza filamento — plástico — que passa pelo bico quente da impressora, derrete e deposita camada por camada para formar o modelo desenhado no computador.
Os valores variam. Um tipo de filamento utilizado pela estudante custa entre R$ 50 e R$ 80 o quilo. Mas Patrícia e outros voluntários estão utilizando o próprio material. “Acredito que o governo local está fazendo o que pode e nós temos que fazer nossa parte também, ficando em casa, conscientizando a família e tendo atitudes que auxiliam o combate à Covid-19. Porque é como o Pedro diz, amanhã qualquer um de nós pode ser beneficiado pelo material que doou”, avalia.
O produto
A infectologista Ana Helena Germoglio explica que o tipo de máscara produzido pela impressora é mais uma barreira para evitar a contaminação. “Esse protetor facial, também conhecido como face shield, serve como anteparo, evitando que gotículas ou secreções maiores respinguem nas máscaras faciais durante o atendimento ao paciente”, diz Ana Helena. “Apesar da orientação excepcional de usar as máscaras N95 por maior tempo além do recomendado pelo fabricante (fato justificado pela carência de insumos no mundo todo), ela precisa ser descartada em caso de contaminação por secreção, só pode ser reutilizada se mantiver-se limpa, seca e íntegra.”
Como ajudar
Movimento Brasília Maior que Covid-19
Instagram: @bsbmaiorquecovid
Vaquinha: vaka.me/952329
Doações para o HUB
Ligue para 2028-5460 ou 2028-5351
O que doar
» Máscaras (cirúrgica e N95)
» Luva de procedimento
» Álcool em gel 70%
» Avental hospitalar manga longa (em sms, mínimo 60 g/m²)
» Óculos de segurança de policarbonato
Regras
» O HUB não recebe doação em dinheiro nem itens fora da lista
» Para quem desejar, é possível emitir um Termo de Doação, mas não recibo
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