Em alguns países, sair de casa sem motivo está proibido. No Distrito Federal, contudo, as ações de fiscalização ainda não chegaram a esse ponto, mas podem acontecer, pois a queda na circulação de pessoas tem efeito direto sobre a transmissão viral. “É preciso ter uma comunicação adequada. Orientar e de forma efetiva. Não acho que (as iniciativas recentes) foram abusivas ou precipitadas”, avaliou Carla Pintas Marques, professora do curso de saúde coletiva da Universidade de Brasília (UnB).
A pesquisadora acrescentou outro ponto de destaque: a adequação dos serviços de saúde para receber uma demanda maior de pacientes nos próximos dias. “Não sei o movimento que a Secretaria de Saúde está fazendo para isso, mas acho que fechar parcerias com grandes indústrias é fundamental. Vamos precisar de novos leitos, hospitais de campanha. Todo esse movimento deve existir, inclusive de forma preventiva”, recomentou Carla.
A professora observa que a capital federal tem organização de serviços em saúde que permite dar retorno à população, mas o crescimento do número de casos pode gerar um cenário imprevisível, especialmente para grupos mais vulneráveis. Ainda assim, o fato de os decretos que tratam da circulação de pessoas terem saído mais cedo no DF do que em outras unidades da Federação pode ser um fator positivo para a distribuição dos registros, segundo Carla. “Não há uma fórmula para dizermos que aqui teremos menos registros, mas creio que medidas restritivas, mais duras, vão fazer com que tenhamos um controle melhor (da doença)”, ponderou a professora.
Tratamento
Sanitarista e coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Brasília, Claudio Maierovitch ressaltou que a curva do número de casos e óbitos no Brasil tem crescido rápido. Tendo como exemplo as determinações do poder público em São Paulo e no DF, ele comentou que as decisões não geram efeito sobre os casos registrados, mas tem poder de afetar o total de registros. “Estamos olhando para pessoas que, se confirmaram agora, devem ter tido contato (com o vírus) há cerca de duas semanas. Elas não refletem o que acontece hoje, em termos de transmissão”, analisou.
Apesar disso, Claudio considera necessário que a população mantenha o distanciamento social e restrinja a circulação apenas para recorrer a serviços essenciais. Além disso, ele se diz preocupado com a “segunda onda” de contaminação pelo vírus. “Na primeira, foram pessoas que vieram do exterior, com boa condição de renda e de acesso ao serviço de saúde. Mas elas são tão vítimas quanto as outras. Agora, (o coronavírus) pode ter se espalhado para outras regiões administrativas, onde pessoas podem demorar mais para serem testadas e conseguir assistência. E as opções que as pessoas têm para conseguir isolamento físico são as piores, pois muitas não têm vínculo de trabalho formal, então deixam de ter suas fontes de renda. Tudo isso é muito preocupante.”
Maierovitch relembrou que o tratamento da Covid-19 e o desenvolvimento de uma vacina contra a doença ainda estão em fase inicial de pesquisas. O sanitarista explicou que a saída, por enquanto, é garantir que os pacientes sejam atendidos adequadamente e, nos casos graves, tenham acesso a oxigênio e ao sistema de ventilação mecânica. “Os estudos (dos medicamentos) estão em fase inicial e podem ou não dar certo. Mas temos países da Europa, Ásia, Oriente Médio, todos na busca por soluções que possam melhorar as perspectivas e a situação dessa pandemia”, pontuou.
Mudança na rotina
O momento de quarentena na capital federal tem prazo para acabar, mas pode ser postergado. Com cenário ainda incerto, a decisão ficará por conta do avanço ou da redução dos registros de Covid-19. Em nota, o GDF informou que, a depender do controle da disseminação do coronavírus no Distrito Federal e no Brasil, todas as decisões tomadas pelo Poder Executivo poderão ser revistas pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) a qualquer momento. “Não há uma estimativa precisa do número de casos para os próximos dias, até mesmo porque vai mudar a sistemática de vigilância, detecção e exame laboratorial, priorizando casos graves”, afirmou o texto.
Com as transformações na rotina e as atividades profissionais acontecendo em meio remoto, surgem novos desafios para quem precisa garantir a mesma produtividade no trabalho. Analista educacional, Taílla Lima, 28 anos, teve de criar um espaço em casa para se dedicar à profissão. Para ela, uma das principais dificuldades está na falta de contato. “Às vezes, fica difícil não estar cara a cara com alguém. O brasileiro tem muito isso da proximidade, não sei se é porque tudo o que fazemos é assim. Mas temos visto (o home office) como algo bom. Podemos almoçar em casa, não é preciso pegar transporte público. Achei mais produtivo”, contou.
Além da nova forma de atuação, Taílla considera importante garantir que cada vez mais pessoas permaneçam em domicílio. Ela também recomenda que se tenham todas as ferramentas de trabalho à mão e que cada um encontre meios de cuidar da própria saúde física e mental. “O isolamento nem é por nós. É pela empatia, pelo pensar no próximo. Pode ser um familiar seu a pegar o vírus. Temos de nos prevenir para conseguirmos nos fortalecer para o que virá”, observou a analista.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.