Cidades

Sem surpresas para o bolso

Momento exige controle do orçamento, além de organização e rotina para quem estiver em regime de home office. Especialistas ressaltam a importância de %u201Capertar os cintos%u201D e gastar apenas com o necessário

Mais do que atenção às medidas de cuidado com a saúde, o período de pandemia demanda outras precauções da população. Com as mudanças na rotina de muitos profissionais, que agora atuam em regime de home office e permanecem a maior parte do tempo em casa, é preciso estar atento para evitar gastos supérfluos, manter controle do orçamento familiar, criar hábitos de trabalho e não deixar as emoções impactarem ainda mais nesse cenário.

Manter a calma e a tranquilidade no ambiente familiar é uma das dicas que a doutoranda em finanças e gerente-geral do Ibmec, Rina Pereira, destaca. Enquanto muitas famílias tendem a se endividar com serviços de entrega de comida, ela lembra que a prática pode gerar gastos ainda maiores do que aqueles de quem cozinha em casa. “Nos períodos em que as pessoas ficam mais ansiosas, elas tendem a comer mais. Um fato desencadeia outro. Pedir comida gera um impacto muito grande no orçamento. Temos de fazer um controle melhor dele”, observa.

Em um período de diminuição da oferta de serviços e de mudanças na atividade comercial, a especialista recomenda se livrar de gastos dispensáveis, como os relacionados à estética e outros cuidados pontuais com o corpo. No caso de quem trabalha no mercado informal, os prejuízos podem ser maiores para a pessoa que não parar. “É um momento em que é preciso refletir um pouco. Quem tem estoque de produto, aconselho a vender online. Para quem não tem, a ideia é se preservar e guardar capital de giro”, completa Rina.

A pesquisadora também alerta para cartões de crédito com serviços digitais que permitem ao próprio cliente alterar o limite para compras, e lembra que os juros para essa modalidade estão em alta, apesar das constantes quedas na taxa básica de juros (Selic). Em alguns bancos, é comum haver alterações desses créditos com uma breve informação ao cliente via mensagem ou e-mail. No entanto, o Banco Central ressalta que todas as práticas relacionadas a esse tipo de operação devem ter a concordância do cliente. “Para essa contratação, podem ser usados os canais disponibilizados pelas instituições, com completa informação das condições, inclusive informação prévia do Custo Efetivo Total (CET)”, afirma o BC.

Negócios locais

Em regime de trabalho em casa desde terça-feira, o professor universitário Leopoldo Costa Junior, 49 anos, precisou adaptar a rotina devido às determinações de isolamento no Distrito Federal. Além da familiarização com novas ferramentas em função das atividades remotas, as relações de consumo mudaram. Os encontros com amigos deram lugar a ligações pela internet ou por telefone, e as refeições fora se limitaram a saídas somente em casos necessários.

“Como foram apenas quatro dias (em casa), ainda não sentimos muito os impactos. Algumas compras sei que vão aumentar pela internet. Mas, para outras, não tem muito jeito”, comenta o morador da Asa Norte. Leopoldo acredita que o comércio deve se ajustar à medida que perceber os efeitos das mudanças, e comenta que é preferível incentivar negócios locais. “Prestadores de serviços e pequenos comerciantes serão muito afetados. Por isso, é preciso pensar em fazer compras nos pequenos estabelecimentos de onde moramos o tanto quanto possível, porque há pessoas que dependem disso para sobreviver”, recomenda.

Na casa de Leopoldo e da mulher, Silvia Drummond, as medidas de controle de gastos incluem ainda atenção ao registro das compras: “Estamos usando muito o cartão de crédito e temos registrado isso com uma planilha. Nossa expectativa é de que algumas despesas vão aumentar, e outras, diminuir. Não sei como elas vão se comportar no fim do mês, mas estamos fazendo compras sem exagero, até porque isso não faz sentido. Estamos mantendo nosso padrão mais ou menos dentro do que gastávamos antes”, diz o professor.

Iniciativas

Em relação às finanças pessoais, o presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon/DF), César Bergo destaca que não é momento para que as famílias se apavorem a ponto de estocar mantimentos em casa. “É um momento difícil e falar para as pessoas não consumirem é ruim, mas é a regra número um. Elas devem apertar o cinto a ponto de não efetuarem gastos de que, porventura, venham a se arrepender devido à falta de receita”, observa.

Para o consumo de alimentos, César recomenda a escolha daqueles que não dependem de importação. Ele ressalta que é importante manter a disciplina com as finanças pessoais, pois os próximos meses podem ser complidacos. “Os empresários também têm de fazer o dever de casa, pensar que vão vencer essa luta e ficar mais fortes. Vão acontecer atrasos de pagamentos, mas é momento de fazer economia, para sair do outro lado de maneira satisfatória (com o orçamento)”, comenta.

Quanto às medidas adotadas pelo governo local com foco no controle da Covid-19, o economista aprovou os decretos publicados nos últimos dias. Além delas, César aconselha a criação de iniciativas para aliviar o bolso dos contribuintes, com extensão de prazo para pagamento de impostos como o IPTU, por exemplo, além de rigor na fiscalização da venda de produtos farmacêuticos e das condições dos leitos de hospitais. “Na parte econômica, o BRB (Banco de Brasília) também pode adotar algumas medidas, como as da Caixa Econômica e do Banco do Brasil, com o efeito de apoiar empresários e adiar (o pagamento) de taxas, entre outros”, sugere.

"Prestadores de serviços e pequenos comerciantes serão muito afetados. Por isso, é preciso pensar em fazer compras nos pequenos estabelecimentos de onde moramos o tanto quanto possível, porque há pessoas que dependem disso para sobreviver”
Leopoldo Costa Junior, professor universitário 

Confira dicas para lidar com o home office
  • Separe um espaço específico para ficar e organize-o de forma que lembre o local de trabalho. Evite ficar em cômodos como cozinha ou quarto;
  • Antes de começar, assegure-se de ter todos os equipamentos adequados e ao alcance das mãos: computador, internet, câmera, bloco de anotações, canetas, etc. A busca por eles pode gerar distrações;
  • Concentre-se nas tarefas do dia;
  • Crie uma rotina com horários bem definidos, para evitar estender o expediente além do necessário;
  • Se morar com outras pessoas, informe-as de que você está trabalhando e peça que elas não o interrompam;
  • Vista-se adequadamente. Não é necessário vestir os mesmos itens que usaria na empresa, mas alguns elementos podem ajudar a entender que aquele é o horário de trabalho;
  • Intervalos também são importantes. Faça pausas e, se morar sozinho, dê uma volta pela casa, pare para um café ou ligue para amigos para conversar;
  • Comunique-se com os pares para deixá-los a par das tarefas em andamento. Reuniões periódicas via videoconferência podem ajudar a colocar todos na mesma página;
  • Após terminar as atividades do dia, distraia-se com atividades não relacionadas à vida profissional.

Fonte: Vanessa Cepellos, professora de mestrado da Fundação Getúlio Vargas (FGV)