Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 21 de setembro de 1998 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.
A alegria de subir para a Série A do Campeonato Brasileiro não deixa o Gama esquecer o estádio onde fez a maioria de seus jogos. O Bezerrão (Estádio Valmir Campelo Bezerra) não está em condições de receber jogos da primeira divisão. Tanto no que se refere à acomodação dos torcedores quanto dos clubes visitantes.
Ao lado do moderno Centro de Treinamento que está em fase final de construção, o Bezerrão passa vergonha. Os dois vestiários não têm espaço para uma equipe com mais de 15 pessoas. Cada um conta com nove chuveiros — sem a ducha —, três sanitários e duas pias. Para se acomodar, os jogadores têm que se contentar com dois bancos (um de 4m e outro de 2m) e duas mesas de massagens de pedra. Ou seja, Romário, se viesse jogar no Bezerrão, ficaria sem o banho de banheira.
Para o aquecimento, os times podem escolher, ir para um cubículo à frente do vestiário ou para o campo. Em dias de chuva, as duas opções se tornariam inviáveis. No banco de reservas, o mesmo problema de falta de espaço. Há lugar somente para oito pessoas — não acomodaria, por exemplo, as comissões técnicas de Wanderley Luxemburgo.
Para a torcida, então, a situação é triste. As arquibancadas comportam 22 mil pessoas, sem nenhum conforto. Há somente 32 cadeiras, mas nem todas estão inteiras. Os dois banheiros exalam um mau cheiro permanente, que espanta o público. Dentro, tanto no masculino quanto no feminino, há quatro sanitários e duas pias.
Para a imprensa, há quatro cabines de rádio — foram insuficientes no último domingo, no jogo contra o Botafogo, quando havia 11 emissoras transmitindo a partida. O gramado, pelo menos, é razoável e a iluminação foi trocada recentemente.
Mas a diretoria do Gama tem planos para reformar o Bezerrão, que foi inaugurado com o jogo Gama 1x3 Botafogo, no dia 9 de outubro de 1977. Segundo os dirigentes, o objetivo é aumentar o número de cabines de rádio (serão oito, no total) e de cadeira.
A diretoria pretende, ainda, desativar dois vestiários e reformar os existentes sob a arquibancada, atrás do gol do Corpo de Bombeiros — nunca foram usados. As arquibancadas serão pintadas nas cores verde e branca.
Novos tempos para a Federação
O presidente da Federação Metropolitana de Futebol (FMF), Weber Magalhães, acompanha o Gama até em treinos. Não se trata de promessa ou algo parecido, mas do cumprimento de um trabalho integrado com a direção do clube para oferecer o apoio ao time em todo o momento.
Agora, com a classificação do Gama, muda a rotina da Federação, que deixa de ser unicamente de atividades domésticas para ganhar dimensões nacionais.
Trabalho exaustivo o desse carioca-flamenguista de 40 anos, que se orgulha de ser o presidente de federação de futebol mais novo do país. “Das 12 viagens que o Gama realizou neste campeonato, eu estive presente em 11”, lembra Weber. “Desde que começou esta correria eu não consigo dormir uma noite inteira. É ansiedade pura”, garante o dirigente, que divide o seu dia-noite entre trabalho de técnico-administrativo do Senado Federal e o da Federação.
Nada demais para Weber. Na juventude, ele conheceu muito sobre os bastidores do futebol. Primeiro, jogando como juvenil, depois, atuando como preparador físico. Mais tarde, formou-se em Educação Física e, em 1989, assumiu a representação da CBF em Brasília. Com toda esta experiência, ele pode afirmar que os jogadores precisam do apoio dos dirigentes em momentos de decisão. “Temos que nos integrar ao ambiente deles e nada melhor do que acompanhá-los sempre”, explicou Weber.
Esta participação tem o seu reconhecimento. O meia-atacante Rodrigo diz que Weber é uma pessoa muito importante para o futebol brasiliense. “Ele sempre nos comunicava sobre a atuação dos árbitros escalados para os nossos jogos. Não influenciou para que nos favorecesse, mas também não deixou que nos atrapalhasse.”
Com trânsito livre na CBF, Weber trouxe para Brasília vários jogos nacionais e cinco amistosos da Seleção, garantindo à FMF uma receita para ajudar os clubes locais.
Mas agora, o que era promocional, passa a ser oficial. “Agora vamos preparar a Federação para se adaptar a esta nova realidade nacional”, disse Weber, entusiasmado com as possibilidades de promoção do turismo, tudo por conta do Gama na Série A.
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