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Gama campeão da série B: Dias agitados

Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 21 de setembro de 1998 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.

 

Os últimos jogos do Gama pelo quadrangular final do Campeonato Brasileiro da Série B provocaram uma movimentação incomum dentro e fora do Bezerrão. Com capacidade para abrigar 22 mil torcedores, o estádio esteve sempre lotado com a boa campanha do time.

 

Os estacionamentos em volta estiveram quase sempre lotados. Os bares e restaurantes vizinhos nunca experimentaram movimentação tão grande. Os guardadores de carros faturaram alto.

 

Em frente ao portão principal do estádio há uma pista de skate. Contudo, a rotina das evoluções dos quase 50 praticantes, basicamente jovens entre oito e 20 anos, foi sensivelmente alterada nos últimos domingos,  justamente nos dias em que o Gama conseguiu lotar o estádio.

 

“O movimento aqui aumentou quase 90%. Temos até problemas para praticar nosso esporte”, afirma o estudante Stênio de Araújo Rêgo, 19 anos. Ele mantém uma grande expectativa em ver o time na primeira divisão. “Estou ansioso”, revela, “mas o time é bom e pode chegar lá.”

 

A paixão de Stênio pelo Gama vem desde a adolescência. “Meus pais sempre moraram nas proximidades do estádio. Portanto, sou gamense de coração.” O estudante faz questão de evoluir na pista de skate vestindo a camisa do clube.

 

Stênio destaca o artilheiro Rodrigo como principal ídolo do time. “Ele tem um grande futuro pela frente.” Apesar da transferência da partida de domingo contra o Londrina do Bezerrão para o Mané Garrincha, ele garante que estará na arquibancada. “Tenho que ajudar o time a garantir a classificação.”

 

Outro estudante que pratica skate em frente ao Bezerrão é Kaylyn Anderson de Araújo (Pelãozinho), 12 anos. Ele também é torcedor fanático do Gama, desses que não perdem um jogo. O grande movimento de pessoas na pista em dias jogos do Gama não o aborreceu. “Acho até legal. Todos vêm aqui para torcer pelo Gama.” 

 

Quem está empolgada com a campanha do Gama, com o Bezerrão lotado e com o movimento no Gama Shopping nas tardes de domingo é Tereza Jesus, proprietária da loja TJ Fashion. “As vendas das camisas do Gama aumentaram em 40%”, revela. A empresária diz ainda que semanalmente faz novos pedidos à Pênalti, empresa fornecedora do clube. “Tenho que repor o estoque rapidamente. A torcida compra mesmo”, afirma, satisfeita com os bons negócios. 

 

A camisa oficial do Gama custa R$ 30,00, mas o torcedor leva, grátis, uma bandeirinha do clube. A TJ Fashion oferece ainda um kit para crianças a R$ 20,00. “Mas a camisa não é a oficial”, explica Tereza.  

Com o Gama, onde o Gama estiver

Há três anos, Antônio Salles vai onde o Gama for. Só neste ano, ele já esteve em Belém, Vitória, Londrina (PR), Ribeirão Preto (SP), Fortaleza, Piracicaba (SP), Criciúma (SC), Campos (RJ) e Salvador, com mais de 35 mil quilômetros rodados.

 

“Há quanto tempo ele teve alta no hospício?”, pode perguntar algum engraçadinho. Salles, confirma que é, sim, “louco pelo Gama”. Mas atire a primeira pedra quem nunca fez loucuras pelo seu time.

 

Salles, 30 anos, é o presidente da torcida Legião Verde. O nome tem explicação: “as duas únicas coisas que conseguiram tirar a fachada política de Brasília foram a música, com o Legião Urbana, e agora o futebol, com o Gama”. Com a morte de Renato Russo, o líder da banda brasiliense, o fanático torcedor resolveu homenagear o ídolo e seu time de coração. Com um sorriso de lado a lado, Salles não pára de falar da sua equipe na primeira divisão: “É um sonho”.

 

Ao lado, Roberto Teixeira, 29 anos, presidente da torcida Raça Alviverde, mantém o sorriso. A paixão dos dois (Salles, em quase todos os jogos, entra vestido de periquito, símbolo da equipe) e as boas campanhas que o Gama vem fazendo há três anos acabaram influenciando outros torcedores. André Guedes Novaes, 11 anos, por exemplo, teve no Gama seu primeiro time. “Acho que, agora, vai ter muito mais gente torcendo para o Gama também.”

 

Josa Lúcia e Carlos Donizetti de Paula, casados há 17 anos, também se renderam. Vascaínos, eles prometem torcer para o Gama em um possível confronto entre as duas equipes.

 

A torcida deixa os limites da cidade e toma conta do Distrito Federal. João Benedito Tavares, 41 anos, enfrentou 60km de Sobradinho até o Gama, na última quarta-feira, para pegar o ônibus e ir com o restante da torcida a Vitória, assistir ao jogo contra a Desportiva, no dia seguinte. Presidente do Faixa Verde, time de futebol amador de Sobradinho II, Benedito não tem dúvida: “O Gama me conquistou.”