Um vírus novo, ainda sem cura, que já matou milhares de pessoas no mundo, e infectou dezenas de moradores do Distrito Federal, trouxe sentimentos de medo e angústia. O coronavírus ainda preocupa a capital por conta da linha crescente de casos, que deve alcançar o pico nas próximas semanas. Diante de tantas notícias negativas, segundo o Ministério da Saúde, especialistas em saúde mental alertam que a população pode adoecer não só fisicamente, mas também psicologicamente por conta da Covid-19. Psicólogos dizem que não há “receita de bolo” para cuidar da mente nesses tempos de pandemia, mas algumas atitudes simples do dia a dia podem minimizar o medo e a insegurança.
Primeiro, é preciso analisar o momento, de acordo com Kátia Araújo. A psicóloga conta que percebe muitos sentimentos negativos na população, mas também há muita atitude positiva sendo alimentada. “As pessoas estão com sentimento de medo, incerteza, ansiedade e preocupação com o que está acontecendo mundialmente. Mas também percebemos que está sendo desenvolvida uma empatia com o próximo e um cuidado com si mesmo. O pensamento coletivo, com solidariedade ao outro, tem sido muito importante”, conta. Para ela, uma atitude ideal nesse período é a filtragem de informações, pois as redes sociais ampliam muito o fluxo de notícias, mas muitas surgem de canais não oficiais e acabam disseminando o pânico.
“É importante tomar as precauções necessárias que estão sendo divulgadas pela mídia. A partir daí, desenvolve-se um pouco mais de tranquilidade e segurança. Mas também devemos ter cuidado com as informações. Muitas notícias são divulgadas em redes sociais sem dados concretos, sem fontes confiáveis. Isso pode ser um gatilho para o desenvolvimento de um estresse maior do que podemos suportar”, explica Kátia. Com muitos trabalhadores em casa realizando home office, e com os decretos do governo que fecharam escolas, shoppings e outros estabelecimentos, grande parte da população conseguiu seguir as recomendações médicas e fica em casa. O lar, nesse momento, pode ser repensado, orienta a especialista.
Acolhimento
“A gente passa a olhar com mais cuidado para nossa casa, nossa família. Isso é positivo. Filmes, séries e jogos são opções para aliviar esse peso. Além disso, temos várias opções como, por exemplo, desenvolver o lado gastronômico na cozinha, cuidar de plantas e hortas, fazer atividades manuais de artesanato, ler um bom livro. A criatividade e imaginação vai ajudar nessas horas”, avalia Kátia. É dentro de casa que Lucélia Freire, 34 anos, encontra meios de se manter esperançosa. Professora de teatro e mãe de uma criança de 6 anos, ela tem na relação com o filho um caminho para se manter em paz.
“Vêm muitos pensamentos à cabeça, a gente se questiona como vai ser o amanhã e como podemos passar por essa fase difícil. Mas me faz bem olhar o sorriso dele, pensar que épocas ruins passam também e que é possível reverter esse quadro”, diz. Ela conta ainda que não se concentra só nas notícias ruins e nas vibrações negativas dessa pandemia, mas também lê o que há de bom, espalhado pelo mundo, e tenta se manter ativa. “Mexo bastante o corpo, faço atividade com meu filho em casa, brinco muito com ele. Tento fazer de tudo para me colocar em um lugar de esperança”, conta. Pensando no outro, Lucélia mantém o acolhimento da família por meio de grupos virtuais e passou a planejar materiais teatrais, de forma on-line, sobre as reflexões do distanciamento e aproximações.
Iago Lins, 23, também desenvolveu uma preocupação grande com a família, por conta da avó. “Vem um certo medo por ela já ser idosa e fumante, mas a gente tenta não surtar”, conta o estudante de farmácia. Ele confessa que agora, com o aumento dos casos de infecções pelo coronavírus no DF, percebe o problema de outra forma. “No começo das notícias, não me vi muito preocupado, achei que era algo passageiro e até superestimado, mas fui percebendo a gravidade com o tempo. Como as aulas foram suspensas, tento distrair a cabeça assistindo televisão, filmes e séries on-line e jogando no computador. Pelo menos hoje em dia temos as redes sociais e podemos conversar com os amigos por elas, o que facilita nesse isolamento para manter a calma”, explica.
Realidade
Em momentos de crise, como o atual, é essencial manter a cabeça no que é real. É isso que alertam especialistas em saúde mental, que ressaltam a importância de a população se manter informada com notícias de qualidade, para não subestimar ou superestimar um problema igual ao coronavírus. A psicóloga Danuska Tokarski detalha: “precisamos encarar a realidade, considerando as medidas de segurança e sabendo que o risco existe e é real. Mas temos que evitar fantasiar muito o que pode vir a acontecer”, diz.
A especialista exemplifica comentando sobre o medo e a ansiedade, presentes em grande parte da população. “Uma diferença entre medo e ansiedade é que o medo é uma reação a uma situação real de perigo, como um assalto, por exemplo. Já a ansiedade é uma reação a uma situação imaginária como questionar-se: o que será da minha família se eu pegar a doença”, coloca. Mas o sentimento de incerteza é normal, segundo a psicóloga. “Saímos da nossa rotina e começamos a pensar no risco de adoecermos, de vir uma crise financeira. Até o medo da morte está crescendo. Inevitavelmente, isso configura em ansiedade, mas temos que procurar ter controle para não chegarmos ao pânico”, afirma.