Após 12 dias desde o primeiro diagnóstico de coronavírus no Distrito Federal, a forma de contágio da doença evoluiu. Nesta terça-feira (17/3), a capital registrou o primeiro caso de Covid-19 por transmissão local. Até então, os registros eram todos importados, de pessoas que contraíram a doença após viagens ao exterior. Desde domingo, as confirmações dobraram, passando de 14 para 26. Tendo isso em vista, o GDF adotou mais medidas de combate à pandemia, como redução de horários de funcionamento dos shoppings, reforço no transporte público e abertura de leitos de unidades de terapia intensiva (UTI).
Apesar de o DF não ter registros de transmissão comunitária, seis casos do tipo estão em investigação pelo Ministério da Saúde. De acordo com a pasta, essas notificações seguem sob avaliação e, caso sejam confirmadas, não será possível verificar a origem do vírus. Na segunda-feira, o órgão chegou a informar que o Distrito Federal teria cinco contágios dessa natureza, entretanto, o ex-secretário de Saúde, Osnei Okumoto, demitido na noite de segunda-feira, corrigiu a informação durante coletiva à imprensa. Além das confirmações, há 253 casos em investigação, segundo levantamento da Secretaria da Saúde da manhã de ontem, o mais recente divulgado até o fechamento desta edição.
Hemerson Luz, especialista em doenças infecciosas e médico do Hospital de Base e das Forças Armadas (HFA), explicou que o número de suspeitas era esperado pelos profissionais da saúde. “Todo o nosso preparo inicial, as questões de isolamento, a quarentena e o monitoramento dos casos suspeitos são para enfrentar esse nível. A ideia é minimizar as infecções e isolar ao máximo os doentes”, ressaltou. De acordo com ele, apesar do quadro, o indicado é evitar aglomerações e manter as medidas de higiene.
Sobre uma possível evolução para transmissão comunitária, Hemerson frisou que esse nível de contágio também é esperado. Segundo ele, modelos matemáticos mostram que é uma questão de tempo. “Toda resposta a esse tipo de situação é uma mitigação para tentar segurar o máximo possível e não deixar espalhar”, reforçou. Para ele, não há motivo para pânico, e o ideal é manter o monitoramento dos infectados e isolar os pacientes.
Transporte
Ao Correio, o secretário de Mobilidade, Valter Casimiro, informou que o transporte público da capital receberá reforço. Os ônibus destinados a linhas escolares e universitárias serão realocados para outros destinos. No total, 100 coletivos serão remanejados a fim de reduzir a lotação e, consequentemente, o aglomerado de pessoas. “Mesmo sem aulas, não reduzimos as frotas. Uma empresa fez isso por conta própria e levou multa de R$ 400 mil.”
De acordo com Valter, desde o início da crise causada pela Covid-19, a pasta recomendou às empresas de ônibus e à Companhia do Metropolitano (Metrô/DF) que os veículos passem por limpeza com produtos indicados pela Vigilância Sanitária. “Após toda viagem, é necessário que seja feita a limpeza, principalmente nas barras onde os passageiros têm muito contato. A outra determinação é de que as janelas permaneçam abertas para arejar o ambiente”, reforçou.
Outra medida foi disponibilizar sabão líquido nos terminais de ônibus para a higienização das mãos. Ontem, a Rodoviária do Plano Piloto recebeu 16 pontos de álcool em gel. Além disso, a administração intensificou a frequência da limpeza dos corrimões das escadas fixas e rolantes.
Troca de secretários
Em meio ao aumento de casos de coronavírus, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), exonerou o então secretário de Saúde, Osnei Okumoto. A decisão foi publicada em edição extra do Diário Oficial do DF (DODF) de segunda-feira. No lugar dele, assumiu o presidente do Instituto de Gestão Estratégica da Saúde (Iges/DF), Francisco Araújo Filho. Okumoto seguiu para a Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciência da Saúde (Fepecs), a Faculdade de Saúde do GDF.
Ontem, o novo secretário de Saúde fez o primeiro pronunciamento, por meio de uma live nas redes sociais. “O SUS está sendo testado pela primeira vez, e a nossa obrigação é proteger o sistema para não entrar em colapso. Já tem uma busca muito grande, imagina agora, com uma epidemia dessa que estamos vivendo”, disse Francisco. Segundo ele, a pasta deverá entregar 90 leitos de UTI.
Mudanças o comércio
Com prejuízo superior a R$ 80 milhões, o comércio do Distrito Federal deve sofrer mais um impacto devido à pandemia do novo coronavírus. Ontem, após reunião entre entidades do setor ficou decidido que as lojas de rua e os shoppings terão horário de funcionamento reduzido. A recomendação partiu da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), que vetou a medida em serviços essenciais, como bancos, farmácias, laboratórios e supermercados.
O funcionamento das lojas de rua da capital será das 9h às 18h, de segunda a sábado. Nos shoppings, o horário estabelecido foi das 12h às 20h, diariamente. De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista), Edson de Castro, a expectativa de vendas dos empresários está cada vez menor. “Tem lojas, por exemplo, que vendiam entre R$ 40 mil e R$ 50 mil por dia e, agora, vendem menos que R$ 2 mil”, lamentou.
Choque
Outro receio da categoria é de que seja necessária uma demissão em massa para que os empresários consigam suprir os prejuízos. “Para evitar que muitos percam o emprego, estamos estudando antecipar as férias dos funcionários, mesmo para aqueles que ainda não tenham completado o período necessário que dá direito ao benefício. Essa iniciativa foi bem recebida pelos empregadores”, contou Edson.
Além do comércio, Edson frisou que outros seguimentos, como bares e restaurantes, também apresentam perdas por causa da Covid-19. “Os únicos que estão se saindo bem são as farmácias e os mercados. O resto está bastante parado. Todo mundo está em choque”, comentou. Agora, representantes do comércio devem marcar outra reunião, em 2 de abril, para avaliar o quadro e adotar outras possíveis medidas. Até o fim do mês, a estimativa de prejuízo é de R$ 400 milhões para o setor.
Colaborou Alan Rios
Protocolo
A Secretaria de Saúde atualizou ontem o Plano de Contingência elaborado para combater o avanço da Covid-19 no DF. Confira as mudanças no documento:
» Os pacientes suspeitos da doença — em bom estado de saúde —, que chegam de viagens aéreas não serão mais levados ao hospital. Agora, ocorrerá a coleta de amostras para exames, a notificação do caso e o encaminhamento para casa
pelo Corpo de Bombeiros
» Casos suspeitos com bom estado geral terão amostras coletadas e encaminhadas ao Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen). Depois, os pacientes seguirão para casa por ambulância do Samu, do Corpo de Bombeiros
ou do hospital
» Pacientes que chegarem às Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) com sinais e sintomas suspeitos serão acolhidos e encaminhados para um espaço isolado. A remoção para a residência ou para o hospital
de referência ocorrerá por ambulância da UPA
» Pacientes internados com outras patologias ou no pós-operatório só poderão receber uma pessoa na visita, preferencialmente jovens. Os gestores dos
hospitais organizarão horários para evitar aglomerações
» Idosos, crianças, gestantes, imunodeprimidos, transplantados e portadores de doenças respiratórias podem cadastrar representantes
para fazer a retirada dos medicamentos nas farmácias
de alto custo
Novos decretos
Ontem, em edição extra do Diário Oficial do DF (DODF), o Governo do Distrito Federal publicou dois novos decretos devido ao coronavírus. Um deles permite o teletrabalho para funcionários
do grupo de risco, como idosos, grávidas, pessoas que voltaram de viagens internacionais ou tiveram contato com infectados.
A outra medida estabelecida foi a criação do Grupo Econômico, composto pelo secretário de Economia, André Clemente, e de representantes de entidades ligadas ao comércio. Eles acompanharão e apresentarão propostas temporárias de prevenção ao contágio pela Covid-19.
Transmissões
Importada
» Acontece quando um viajante retorna ao país e percebe-se que ele contraiu a doença durante uma viagem.
Local
» Quando uma pessoa tem contato com algum infectado e contrai a doença. Por exemplo, uma pessoa que apresentou a enfermidade após entrar em contato com algum viajante diagnosticado.
Comunitária
» É quando os órgãos de saúde e o paciente não conseguem identificar onde aconteceu o contágio.
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