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Pilotos da F-1 abrem hoje o autódromo

Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 3 de fevereiro de 1974 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.


O Autódromo de Brasília é inaugurado hoje com uma programação que terá início às 9 horas, com um treino dos pilotos da Fórmula 1. Os portões serão abertos ao público às 7,30 h. A programação das solenidades de inauguração do circuito e suas obras incluem uma demonstração da Esquadrilha da Fumaça, a entrega ao piloto David Puley da “medalha da Solidariedade” e a corrida, que começará oficialmente Às 11,30h.

À festa comparecerão o Presidente Emílio Médici, o Governador Hélio Prates da Silveira, ministros de Estado, Corpo Diplomático e numerosas autoridades.


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Carlos Reutemann, um piloto que representa oficialmente a Argentina, largará na “pole position” com um Brabham branco, nº 7. Ao seu lado no centro da primeira fila, Emerson Fittipaldi estará ao volante do Malboro Texaco, nome publicitário do Mc Laren M 23 que está inscrito sob o nº 5. No outro extremo, num belo automóvel azul, o africano Jody Scheckter ocupa o lugar onde Jackie Stewart conseguiu muitas vitórias: o Tyrrel Ford nº 3.

José Carlos Pace, o brasileiro que dirige para a Surtees, larga na segunda fila, embora esta posição possa modificar-se pelo requerimento encaminhado à direção de prova, onde o brasileiro acha que houve um erro de cronometragem em relação ao seu carro e ao de Schekter. 

Ontem, nos treinos realizados para as tomadas de tempo que determinariam a ordem de largada hoje, a impressão que a segunda série deu aos presentes é que se tratava de verdadeira corrida. Os pilotos tentaram conseguir a disposição e a força de todos os numerosos cavalos de seus motores, obtendo com isto, tempos bastante expressivos.  Emerson não sabe se poderá vir a ser o vencedor. Seu carro saía muito de frente nos treinos, apesar das numerosas trocas de pneus e regulagens na suspensão, nos amortecedores e “spoillers”. 

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Para a prova de inauguração do Autódromo, calcula-se que um público de mais de cem mil pessoas estará presente à pista, número que inclui gente ligado ao automobilismo e muitos espectadores das cidades vizinhas, que a competição não será televisionada para Brasília, arredores e Goiânia.

Serão doze os concorrentes à competição, e somente os carros da Lotus e da Ferrari não estarão alinhados. O esquema de segurança armado para assegurar o bom êxito da competição já mostrou que funciona - até com excessivo rigor - e tudo indica que o brasiliense poderá assistir ao melhor espetáculo automobilístico já realizado na Capital, apesar do tempo. Mas, mesmo com chuva haverá a competição.

Os 12 concorrentes

Carlos Reutemann
CARRO 7. O argentino que larga na “pole position” hoje, beira os 32 anos. É um piloto marcado pela falta de sorte. Em sua carreira completa com muito sacrifício e tenacidade ele ganhou somente uma competição, o GP do Brasil em 1972, mas que era extracampeonato. Em Mont Juich, Espanha, no ano passado, Reutemann perdeu por problemas mecânicos, e no GP da Argentina, este ano, quebrou na última volta. “Lole” - como é chamado em seu país, corre com um novo carro, o Brabham BT 44 e com patrocínio oficial da República Argentina.

Emerson Fittipaldi
CARRO 5. Desnecessários maiores comentários sobre o campeão nacional. Com os problemas mostrados pelos desentendimentos da Lotus no ano passado, ele passou para o Mc Laren, para onde levou o patrocínio da Texaco. Seu novo carro, um McLarem M 23 publicitariamente batizado de Malboro/Texaco, mostrou que a sorte de Fittipaldi atinge os que o cercam. Sua equipe é a que venceu os dois GPs corridos este ano.

Jody Scheckter
CARRO 3. Um louco ao volante de ascensão meteórica. Um sul-americano de 24 anos, que ainda não ganhou nem marcou pontos em nenhum GP que participou. Foi um campeão da série 5.000 do Campeonato L-M em 1973 nos EUA, e é apontado como um dos causadores de dois acidentes sérios no ano passado. Ele tem a grande responsabilidade de mostrar o rendimetno dos Tyrrel Elf, principalmente porque ocupa o lugar deixado por Jackie Stewart.

Carlos Pace
CARRO 18. Neste ano ele completa 30 anos e está muito esperançoso dos resultados desta temporada. Seu carro, em Surtees TS1’6, construído pelo inglês John Surtees - último campeão pela Ferrari - apresenta os problemas de todo carro novo, mas as atuações do brasileiro mostram que ele possui as qualidades necessárias à obtenção das maiores láureas.

Arturo Merzário
CARRO 20. Um bom piloto de carros do Campeonato de Marcas, mas meio inadaptado aos carros de Fórmula. Apesar disto é considerado hoje o melhor piloto italiano, talvez por ser o único deste país a estar no Mundial de Pilotos. Ele já competiu em 15 GPs e até hoje só marcou sete pontos. Corre pela equipe mais complicada da Fórmula 1, o Frank Williams Team, a bordo de um automóvel batizado de Iso Marlboro.

Jean Pierre Beltoise
CARRO 14. Aos 33 anos este francês - que era cunhado do François Covert - já correu 75 GPs, uma marca muito considerável apesar dos poucos resultados até hoje colhidos. Só ganhou um GP, o de Mônaco, ano passado, sob chuva torrencial. Continua correndo pela BRM com um automóvel que quando funciona com os 12 cilindros de seu complicado motor consegue resultados medíocres como o 5º lugar na Argentina. Beltoise é também um dos pilotos mais acidentados da F/1.

Wilsinho Fittipaldi
CARRO 8. Não participa, este ano, do Campeonato Mundial, mas está correndo no GP Presidente Médici com o patrocínio de Slaviero. Seu Brabham já mostrou andar menos que o de Reutemann, seu companheiro de equipe. Larga em 7º lugar, Wilsinho constrói atualmente um Fórmula 1 de projeto nacional desenvolvido com auxílio da Embraer.

Jochen Mass
CARRO 19. É da equipe de Carlos Pace, dirigindo o Surtees nº 19. Trata-se de um alemão de 27 anos, e sua carreira tem muitos pontos de contato com Hans Stuck, o primeiro piloto da March. É como todo iniciante afoito e arrojado, mas sofre os mesmos problemas de Pace, agravados, por que lhe falta o know how que tem o seu colega brasileiro. 

Henri Pescarolo
CARRO 15. OUtro francês com largos anos de serviço nas costas e cicatrizes atestatórias distribuídas em todo o corpo. É igualmente um outro caso de um bom piloto de protótipos inadaptado às Fórmulas e correndo com um automóvel sem condições como o BRM. Tem 32 anos e ano passado foi campeão mundial de Marcas, dirigindo para a Matra aqueles 670 projetados por computadores. Já competiu em 41 GPs e até hoje não ganhou nenhum deles.

Howden Ganley
CARRO 9. É o segundo piloto da March, condição que obriou-o a ceder seu March para Hans Stuck, o primeiro piloto da equipe. É neo-zelandês e tem 32 anos. No ano passado dirigiu para o Franck Williams, sem maiores resultados. Sua carreira na Fórmula 1 mostra 37 GPs, nenhuma vitória e dois quartos lugares.

Hans Von Stuck
CARRO 10. Filho do grande volante do passado, o jovem alemão que correu pela BMW ano passado tem apenas 22 anos. Como toto piloto novo, é agitadíssimo, e sua carreira apresenta uma marca especial: nunca chegou a completar nenhuma prova em monoposto, quebrando o carro antes. Este ano, Max Mosley, nº 1 da March, uma equipe sem condições, convidou-o para ser o primeiro piloto da equipe, onde ele fará sua terceira aparição ao volante de um Fórmula 1.

James Hunt
CARRO 24. É a maior revelação do ano de 1973, quando ao volante de um March sem condições começou a aparecer nos lugares antes reservados às grandes marcas e aos pilotos famosos. Este inglês tem 26 anos e dirige para os Heketh Team, uma equipe formada por um lorde cuja diversão consiste em corridas de Fórmula 1 e enormes e concorridas festas. Hunt é o caso típico da estória de quem vai com muita sede ao pote. No GP da Argentina, na primeira volta passou pelos primeiros colocados e rodou na tomada de curva. Em Interlagos não andou bem. Ontem, não conseguiu completar nenhuma volta de sua tomada de tempo. Mas é visto como um dos candidatos.