O número de assassinatos no Distrito Federal cresceu 57% em fevereiro, em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP). O aumento de pessoas mortas baleadas acompanha a tendência do total de homicídios cometidos no mês passado (44, contra 28, em fevereiro de 2019). O levantamento revelou que a arma de fogo foi usada em 68% dos casos. Além dos homicídios, crimes como latrocínio, roubo e furto tiveram alta na capital (leia Insegurança). O secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, destacou que comparações entre períodos curtos podem levar a “conclusões equivocadas”. “A Segurança Pública do DF vem adequando o planejamento operacional a partir de manchas criminais e avaliação recorrente de cenários por meio de operações, aliadas à inteligência e integração entre as forças. Prova disso é que estamos conseguindo números expressivamente positivos dentro da série histórica”, comentou.
No caso das armas brancas — facas, facões, canivetes etc. —, o levantamento analisou o primeiro bimestre. Nesse período, em 29,6% dos 72 assassinatos, os criminosos usaram esse tipo de armamento. No primeiro bimestre de 2019, a SSP registrou 62 homicídios, sendo 35% praticados com objetos cortantes. Ontem, duas pessoas levaram facadas em menos de duas horas no DF. O primeiro caso ocorreu em Sobradinho 2, enquanto a vítima dormia. A irmã chamou a polícia, e o homem recebeu atendimento no Hospital Regional de Sobradinho. Ele passou por cirurgia. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido preso. No Riacho Fundo 2, outro homem foi esfaqueado pela mulher dele. Ela confessou o crime, mas não explicou o motivo. Além disso, em março, dois assassinatos à faca assustaram o DF: um na Rodoviária do Plano Piloto e outro, em Taguatinga.
Segundo Leonardo Sant’Anna, especialista em segurança pública e privada da Total Florida International, os fatores que impulsionam os assassinatos têm relação direta com a educação precária e com a pobreza. “O baixo acesso à educação, unido à incapacidade do Estado em oferecer melhoria econômica às sociedades, são situações que potencializam o aumento de homicídios. Brasília continua recebendo pessoas de todos os estados. Áreas em volta do Plano Piloto e o Entorno não conseguem mais conter esse fator social e econômico”, disse.
Segundo Leonardo, para reduzir as mortes violentas, não basta apenas aumentar o efetivo policial. “É preciso reduzir o desemprego e melhorar a educação. Vai demorar? Sim. E sem retornos políticos. Caso seja feito um investimento maciço na capital, e isso seja implantado, os dois próximos períodos de gestão não poderão comemorar resultados. Mas, certamente, poderão dizer que plantaram o novo futuro do DF”, avalia.
Nos dados mais recentes separados por cidades, Ceilândia, Planaltina e Samambaia se destacaram em relação à quantidade de homicídios notificados em janeiro. Cada uma das delas registrou quatro ocorrências de homicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte. No caso de crimes contra o patrimônio (roubos e furtos), a maior quantidade de registros apareceu em Brasília (472), Ceilândia (664), Samambaia (406) e Taguatinga (331).
A SSP esclareceu que a estipulação de metas e a cobrança de resultados até 2022 aparecem como medidas estratégicas implementadas para conter a criminalidade. “No ano passado, o objetivo era fechar o ano com taxa de 13,4 mortes para cada 100 mil habitantes. A taxa foi menor: 13/100 mil. Esse é quase o número que precisa ser alcançado este ano, que é de 12,9/100 mil. Vale ressaltar que analisamos todos os casos de homicídios ocorridos no DF, com o intuito não só de elucidá-los, mas também de propiciar dados para planejamento de ações”, informou.
Apreensões
A Polícia Militar prendeu, em fevereiro, 1.091 pessoas. No mesmo período de 2019, houve 946. Além disso, a PM apreendeu 117 armas de fogo no período, cinco a menos do que em 2019. Ao Correio, o coronel Souza Oliveira, chefe da Comunicação Social da PM, detalhou que a corporação intensificou as operações contra crimes específicos, como roubo em transporte público, embriaguez ao volante, furto e homicídios. “Temos o cuidado na apreensão das armas, mas percebemos que há uma grande migração dos criminosos em utilizarem a arma branca, justamente por não serem ilegais e terem fácil acesso”, alertou.
Colaborou Jéssica Eufrásio