Cidades

Escolas e pais questionam suspensão de aulas no DF devido ao coronavírus

Governador determinou também a proibição de eventos com grandes aglomerações, como shows e competições esportivas. Ministro da Saúde afirmou, mais cedo, que decisões assim precisam ser debatidas com o Ministério da Educação

Correio Braziliense
postado em 12/03/2020 06:00
As aulas das redes pública e particular de ensino do Distrito Federal estão suspensas pelos próximos cinco dias, por determinação do governador Ibaneis Rocha (MDB). Também ficam proibidas aglomerações em eventos que dependam de alvará, como shows e competições esportivas. A decisão foi divulgada na noite desta quarta-feira (11/3), em decreto publicado na edição extra do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF).

O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe/DF), Álvaro Domingues, considerou a atitude do governador “intempestiva”. No entanto, ele acredita que tenha havido um “motivo plausível” para a tomada da decisão, que afetará cerca de 560 escolas privadas. “Isso vai ter impacto na vida de 600 mil alunos e de 1 milhão de famílias. Gostaria de saber por que não fizeram isso amanhã (hoje). Dificilmente, conseguiremos repercutir a notícia para que a informação chegue a todas as famílias”, lamentou.

O presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do DF (Aspa), Alexandre Veloso, avaliou que a medida não parece ser uma preocupação que tenha partido dos pais com relação ao coronavírus. “A gente entende que ainda não há necessidade de suspender as aulas. Não temos nenhum caso em escolas do DF. Acredito que, no momento, as autoridades deveriam fazer um trabalho de desmistificação do que é o vírus para desfazer este estado de pânico. Suspender as aulas no apagar das luzes traz à tona uma série de questões que poderiam ser minimizadas. O que os pais vão fazer com as crianças? Como saber se haverá aula ou não?” questiona.

A Universidade de Brasília (UnB) informou que não há previsão de suspensão do calendário e que a instituição acompanha com atenção e responsabilidade as informações a respeito da transmissão da Covid-19.

Surpresa


Pela manhã, a Secretaria de Saúde havia informado, em coletiva no Palácio do Buriti, que não havia quaisquer indicações para ações como essa. Ricardo Tavares, secretário adjunto de Assistência à Saúde, ressaltou que a população deveria seguir a recomendação de evitar aglomerações, principalmente crianças, idosos e portadores de comorbidades. “Não existe nenhum indício ou justificativa no momento para antecipação de férias, ou suspensão de nenhuma atividade pública”, afirmou.

O infectologista da pasta havia informado que Brasília segue o nível de ativação 1, determinado pelo Ministério da Saúde. “São Paulo tem número maior de casos que a gente. Acredito que lá tenham de tomar medidas mais rápidas de contenção. No momento, não tem indicação de suspender aulas, proibir missas, procedimentos, eventos”, explicou Eduardo Hage. 
 
Porém, ao determinar as suspensões, horas depois, Ibaneis disse ao Correio que ficou preocupado com a possibilidade de uma escalada do Covid-19 no Distrito Federal, principalmente depois que a OMS passou a considerar o vírus uma pandemia (epidemia em escala global). “Estou reconhecendo que não temos condições de atender todos os pacientes em caso de uma pandemia no DF. Não temos sequer kits para os exames", afirmou o governador, que havia se reunido com o ministro da Sáude, Luiz Henrique Mandetta. Ibaneis disse ainda que não quer espalhar o pânico, mas acredita ser o momento de reduzir a circulação de pessoas na cidade. "Não vou pedir para as pessoas ficarem presas em casa, como na Europa, mas acho que é o momento de um cuidado preventivo", disse.

À noite, em nota oficial, o Ministério da Saúde informou que não há orientação para fechamento de escolas e cancelamento de eventos e que mantém permanente vigilância em relação ao comportamento do vírus no país: “As autoridades de saúde brasileiras estão observando o cenário dos países que estão vivenciando a epidemia do coronavírus, como China, Coreia do Sul e Itália, para orientação da resposta do Brasil à doença e à proteção da população”.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defendeu que medidas como cancelamento de aulas precisam ser debatidas com cautela com o Ministério da Educação, pois a liberação das crianças, potenciais vetores de transmissão, exporia ainda mais um dos principais grupos de risco: os idosos. “Quem vai ficar com as crianças que não estão nas escolas? Os avós”, questionou.

Nesta quarta-feira (11/3), o Ministério da Saúde informou que a capital federal responde por 8% das suspeitas do país, liderando o ranking do Centro-Oeste. No Brasil, 907 pacientes estão sob investigação, sendo 74 no DF. Aqui, a paciente de 52 anos segue internada em estado grave na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). O marido dela, também diagnosticado com o vírus, está em isolamento domiciliar, em cumprimento a ordem judicial.

Segundo a Secretaria de Saúde, o vírus não circula no DF. Além disso, a paciente internada na UTI está isolada e não há nenhum outro caso suspeito no hospital. “A gente não pode partir para o pânico e bloquear um hospital do tamanho do Hran se só tem dois pacientes com coronavírus”, ressaltou Ricardo Tavares. Parte do sétimo andar está destinado àqueles com suspeita da doença.

* Colaborou Bruna Lima

Recluso

O GDF recorreu à Justiça para determinar o isolamento domiciliar do advogado de 45 anos, segundo caso confirmado do vírus. Em nota, o homem se pronunciou, alegando que estava recluso antes mesmo da intimação e que apenas teria acompanhado a mulher (primeiro caso) no transporte de ambulância entre o hospital do Lago Sul e o Hran.

Concurso da PCDF também é adiado

A prova do concurso para escrivão da Polícia Civil do DF, no qual há cerca de 50 mil inscritos e estava marcado para domingo, foi suspensa com base no decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB). Ainda não existe definição sobre uma nova programação. Além disso, o a Justiça do DF adotou ações preventivas para a redução dos riscos de infecção da Covid-19. Em portaria publicada nesta quarta-feira (11/3), o presidente, a primeira e a segunda vice-presidente e o corregedor da Justiça decretaram o regime de teletrabalho como preferencial aos servidores entre esta quinta-feira (12/3) e 30 de abril. A Mesa Diretora da Câmara Legislativa também prevê medidas de prevenção. Nesta quarta-feira (11/3), determinou que só terão acesso à Casa parlamentares, servidores, terceirizados, profissionais da imprensa, assessores de entidades e órgãos públicos, representantes de instituições distritais, estagiários, menores aprendizes e empregados que prestam serviços no local.

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