Esta matéria foi publicada originalmente na edição de 4 de março de 1996 do Correio. Sua republicação faz parte do projeto Brasília Sexagenária, que até 21 de abril de 2020 trará, diariamente, reportagens e fotos marcantes da história da capital. Acompanhe a série no site especial e no nosso Instagram.
O show do estádio Mané Garrincha era para ser apenas a última apresentação da turnê iniciada em agosto de 1995, e que percorreu o Brasil de Macapá a Porto Alegre. Mas terminou sendo o último do grupo. Em Brasília, eles passaram pouco mais de três horas. Chegaram atrasados, sequer usufruíram dos 20 quartos reservados em um hotel da cidade. Foram direto para o camarim improvisado no vestiário do estádio. Estavam felizes. Comemoravam o término da temporada e o início das tão aguardadas férias. Minutos antes de subirem ao palco, deram-se as mãos e gritaram: “Este é o nosso último show!”. Foram recebidos aos gritos pela platéia. Durante pouco mais de uma hora, levaram os quatro mil fãs brasilienses ao delírio. Pela última vez.
Coreografia e ironia no palco
Dinho, Bento Hinoto, Sérgio e Samuel Reoli chegaram ao gramado do Estádio Mané Garrincha às 19h50, cinco minutos depois do final do show da banda carioca Baba Cósmica. A Besta que levava o quinteto ficou parada atrás das caixas de som. Ninguém conseguia chegar perto. Do carro, os Mamonas Assassinas saíram direto para o palco. Eram 19h55.
Vestidos de Coelho - os outros estavam com roupas de presidiário - Dinho abriu o show com Cabeça de Bagre II. Em seguida, entoou Chopis Centis. O público fez coro e riu quando o vocalista jogou dois copos d’água na cabeça.
Para o Vira, Vira, Dinho encarnou um português usando óculos, bigodes e boina de oncinha. Júlio Rasec, o tecladista, representou a portuguesa Maria.
Durante Sabão Crá Crá, aconteceu um dos momentos mais emocionantes do show - a platéia inteira balançando os braços, como se houvesse ensaiado a coreografia.
Mas o delírio veio mesmo com Robocop Gay. Com peruca loura, vestido azul florido de alcinhas, o vocalista levantou a roupa e mostrou sua sunga preta. Histeria geral. “Tira a sunga, tira a sunga”, pediam as fãs.
Dinho ficou parado, de costas, durante alguns segundos. Transformado em Robocop gay, acabou de segunda e gravata. “Monamour”, brincava, “Ai, como dói”.
De sunga e um chapéu com chifres que soltavam fogos, ele cantou Bois Don’t Cry. A cada rebolado, gritos e mais gritos. Ao final da música - “ela é uma vaca, eu sou um touro” -, mandou um beijo para a platéia enlouquecida.
Em Débil Mental, colocou uma peruca ao contrário para tirar sarro dos metaleiros. Batia a cabeça, com os cabelos cobrindo o rosto.
Depois do hardcore, voltou “normal”, tocando violão. A música era Uma Arlinda Mulher, mas antes ele imitou Belchior e atacou Xô Satanás, megasucesso do Asa de Águia.
Também brincou com Roberto Carlos, cantando um trecho de O Charme desses Óculos (“Não tire esses óculos, use e abuse dos óculos”) Com Lá vem o Alemão, fez uma paródia do Raça Negra. Com direito à língua presa e tudo mais.
Pelados em Santos, o maior sucesso dos Mamonas, ficou para o final. Mas antes, alguns minutos de “enrolação” para a apresentação do grupo. Dinho chamou o guitarrista Bento Hinoto de o super-herói da banda. E Júlio Rasec teria sido vítima de uma “cagada de uma cobra menstruada”. Por isso, ele tinha os cabelos vermelhos.
Imitando Gil Gomes, o vocalista contou a história de um homem que cortou o pescoço de um portuguesinho. Tudo porque o garoto o chamou de narigudo. O nariz em questão era o do baixista Samuel.
A platéia adorou. Repetia narigudo, narigudo. “Gente, não faz isso, assim ele não toca”, pedia Dinho, irônico. “Narizinho, narizinho”, respondiam os fãs. Em seguida, narigudo, narigudo…
Para ele mesmo, reservou a melhor definição: “Lindo, maravilhoso, inteligente e modesto”.
Apesar de curto (1h10), o show foi bastante animado. Todo mundo gostou. Às 21h, Dinho desceu do palco para o bis. Ficou bem perto do público e despediu-se com Vira-Vira. Terminou o espetáculo Às 21h05.
Assediado por pessoas que assistiam ao show junto do palco, precisou correr para o carro, deixando o estádio às pressas.
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