Correio Braziliense
postado em 09/03/2020 04:36
A família do estudante de redes de computação Márcio Ribeiro Rocha Júnior, 28 anos, tenta entender a crueldade que resultou na morte do jovem. Ontem, o universitário foi enterrado no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul sob clima de revolta. Vítima de latrocínio, ele foi assassinado na Plataforma Superior da Rodoviária do Plano Piloto, na madrugada de sábado. Márcio aguardava um transporte por aplicativo para voltar para casa com a namorada, Thais Araújo, 27. Os dois tiveram os celulares roubados, e o rapaz foi esfaqueado no peito.
O crime aconteceu depois de o casal deixar uma festa no Conic. Enquanto Thais esperava a chegada do veículo, Márcio fez amizade com um homem na saída do evento. Diante da dificuldade de encontrar um motorista que acertasse o endereço, os dois caminharam até o terminal. Imagens de câmeras na plataforma superior mostram Márcio e o recém-conhecido conversando, enquanto Thais os acompanha mais atrás, olhando para o celular.
Minutos depois, os dois homens parecem discutir, e Márcio é esfaqueado. Em seguida, outros dois suspeitos aparecem correndo para dar cobertura, e o trio foge, deixando o estudante para trás. Thais, que aguardava o carro a alguns metros de distância, teve o celular roubado e voltou ao encontro do namorado. Nesse momento, ela descobriu que Márcio estava ferido e tentou buscar ajuda.
Thais pediu socorro a um motorista de aplicativo, que parou no ponto de ônibus entre o Conic e o Conjunto Nacional, mas o condutor se recusou a levar Márcio no carro. Mas ligou para uma ambulância, que transportou a vítima para o Hospital de Base. Indignados, parentes do jovem relataram que o veículo de atendimento emergencial não tinha equipamentos e que o socorrista não acompanhou o paciente na parte traseira. Além disso, familiares reclamaram que não havia médicos na unidade de saúde.
O pai do estudante, Márcio Ribeiro Rocha, 55, passou mal no enterro. “Não dá para explicar a perda de um filho. E uma morte por assassinato é indigerível.” Ele também reclamou da falta de segurança na região do Setor de Diversões Sul e considerou um “descaso” o atendimento hospitalar. “Ele vai fazer muita falta. Era um menino de ouro, fácil de fazer amizade. Não precisavam ter matado. Ele morreu porque fez amizade, porque foi gente boa”, lamentou.
Reincidência
A Secretaria de Saúde negou que o socorro tenha sido feito pelo Samu ou por qualquer ambulância da pasta. A assessoria do Instituto de Gestão Estratégica do Distrito Federal (Iges/DF), responsável pela administração do Hospital de Base, informou que Márcio chegou morto ao hospital, mas foi “prontamente atendido” e que a unidade de saúde estava com a equipe “completa de médicos no plantão do fim de semana”.
Em relação ao latrocínio praticado contra o professor Herbert Silva Miguel, a Secretaria de Segurança Pública informou que o policiamento foi intensificado em Taguatinga, e que a Polícia Militar tem realizado “várias operações com foco nas paradas de ônibus”. No entanto, a reincidência “dificulta o trabalho da corporação”. Quanto ao caso de Márcio, a pasta ressaltou que o socorro foi prestado por um carro de “serviço móvel de urgência particular” e que a PM foi acionada formalmente após a chegada da vítima ao hospital. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido detido pelo crime. A corporação acrescentou que o 6º BPM, responsável pela área central de Brasília, realizou mais de 700 prisões em 2019 e, somente neste ano, deteve aproximadamente 200 pessoas ligadas a diversas ocorrências.
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