Ganhei na Mega, cara leitora, caro leitor! Sério. Eu e mais 51 ou 52 (explico a divergência dos números daqui a pouco) colegas aqui do Correio. Infelizmente, não acertamos os seis números, o que talvez fizesse com que eu abandonasse meu posto e esta crônica nem existisse. Mas fizemos seis humildes quadras. Conta pra cá, conta pra lá, o matemático, estatístico e consultor para Imposto de Renda oficial da Redação, Roberto, anunciou: "Deu uma grana boa!". Nessa hora me animei e perguntei quanto. R$ 130 para cada um, fiquei sabendo. "Coitado do Roberto, a situação deve estar difícil", pensei. Mas a animada Taís concordou: "Muito boa mesmo!" E explicou: quando é que você investe R$ 10 (o valor da cota) e ganha R$ 130? "É", concordei, ainda sem conseguir sentir tanto entusiasmo.
Então, comecei a perceber que o sorteio da Mega-Sena gerou um turbilhão de sentimentos na firma. O primeiro foi de pânico. Dos que não jogaram, claro. Quando Marcelo, o popular Sadan, que sabe ser gaiato e tocar o terror, gritou o primeiro "ganhamos", Darcianne, que preferiu economizar preciosos R$ 10 do que acreditar na sorte, gelou. Vislumbrou, num átimo de segundo, o Instagram dos colegas cheios de fotos em praias paradisíacas enquanto, no dela, nada, nadinha de nada.
O pânico, aliás, chegou também à diretoria. Mensagens vazadas de WhatsApp mostram que alguém disparou, às 20h02, um texto no grupo dos chefes: "Redação ganhou na Mega. Precisamos agir logo para garantir que o jornal saia amanhã! Sabem como é jornalista. Vão começar a festa agora mesmo". Às 20h03, uma diretora, cujo nome foi encoberto nos prints que circulam, respondeu: "Eita, p*! Eu joguei!". Só às 20h05, o grupo de diretores se acalmou. "Foi a quadra", escreveu alguém, acrescentando o emoji da carinha de cabeça para baixo. Nessa hora, Darcianne já descobrira a verdade também e estava mais feliz que os ganhadores.
Já no WhatsApp da Redação, o clima era de alegria moderada. "Ganhar alguma coisa já é bom", expressavam alguns. "Por pouco não foi a Quina", lamentavam outros. As Adrianas, porém, viviam um conflito à parte. Adriana Izel, ao ver a lista de participantes, sentiu falta de seu nome, embora tivesse pago a cota. Respirou aliviada pela confusão envolver só R$ 130 e não milhões e mandou um "poxa, amiga" para sua xará, Adriana Bernardes, a grande organizadora do bolão.
A explicação que veio fez surgir um novo sentimento em todos: o de espanto. Isso porque Adriana Bernardes não tinha esquecido de incluir Adriana Izel. Adriana Bernardes tinha esquecido de incluir ela mesma! Sim, nossa querida colega recolheu o dinheiro, foi à lotérica, quase nos deixou ricos e deixou-se de fora. Éramos, portanto, não 51 jogadores, mas 52. Constatação que deu origem a mais um sentimento: o de solidariedade. Zé Carlos logo falou que, por ter comprado duas cotas, daria uma para Adriana. Em seguida, todos concordaram em, cada um, passar R$ 2,50 para nossa esquecida e prestativa amiga, que passou a sexta-feira sendo chamada de Rainha do Troco. Mas, como o ser humano não vale muita coisa, após a onda solidária, veio o sentimento de descrença. Nos corredores, a pergunta que se fazia era se a Redação seria esse amor todo se o prêmio de que falávamos fossem os mais de R$ 200 milhões. Pois eu estou certo de que sim, seria.