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Comitê da Secretaria de Saúde vai monitorar evolução do coronavírus no DF

Segundo a Secretaria de Saúde, não há motivo para pânico, e o Distrito Federal, com cinco infecções investigadas, está preparado para lidar com a doença. Em Goiás, paciente de Formosa foi levado para o Hospital de Doenças Tropicais, em Goiânia

O Distrito Federal e, agora, o Entorno estão em alerta para o novo coronavírus, doença que causou a morte de mais de 2,5 mil pessoas na China continental. Cinco moradores de Brasília e uma de Formosa (GO) estão com suspeita da infecção. Todos apresentam sintomas da enfermidade, viajaram para países com casos confirmados e passaram por testes iniciais. Porém, as secretarias de Saúde do DF e da cidade goiana ressaltam que não há motivo para pânico e que nenhuma situação foi confirmada até então. Para garantir qualidade no atendimento, a pasta na capital federal montará um comitê para monitorar a evolução dos pacientes.

Quatro dos cinco doentes do Distrito Federal estiveram na Itália nos últimos dias. Um está em observação domiciliar, um internado em unidade da rede privada, um no Hospital das Forças Armadas (HFA) e outros dois no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), local considerado referência para esse tipo de atendimento. Uma ala do sétimo andar foi preparada para receber casos suspeitos. Mesmo os das clínicas particulares são acompanhados pela pasta do Governo do Distrito Federal (GDF), que envia informações para o Ministério da Saúde. A intenção da Secretaria de Saúde é realizar boletins diários sobre a doença para informar a população.

Nesta quinta-feira (27/2), o Hospital Santa Lúcia, da Asa Norte, descartou infecção por coronavírus de um paciente recém-chegado da Austrália. À tarde, a unidade de saúde informou que o teste para detecção do vírus deu negativo. Agora, outro exame será feito pelo Laboratório Central de Saúde Pública do DF (Lacen) para ratificar o resultado.

Em Formosa, segundo a Prefeitura, a suspeita se deu em um homem de 35 anos que esteve recentemente na Croácia, com escalas na Alemanha. Ele apresenta sintomas desde 18 de fevereiro. O paciente foi encaminhado para o Hospital de Doenças Tropicais, em Goiânia — o protocolo é estabelecido pelo estado de Goiás. O quadro do paciente é estável. A recomendação para moradores da cidade que apresentarem sintomas ou tiveram contato com ele é de que procurem a unidade básica de saúde mais próxima ou o Hospital Municipal de Formosa.

Preparação no DF

Mesmo com a preocupação da população, que começa a buscar máscaras respiratórias para proteção e álcool em gel, o GDF garante que está preparado para lidar com a situação e que não é necessário entrar em pânico. Para enfrentar o problema, a Secretaria de Saúde publicará, nos próximos dias, no Diário Oficial do DF, um decreto que destina profissionais para atuar no Centro de Operações de Emergência (COE), uma “sala de crise que é acionada quando ocorre uma emergência ou desastres que necessitam de uma resposta coordenada do setor”, segundo definição do Ministério da Saúde.

O secretário da Saúde do DF, Osnei Okumoto, explicou que esse procedimento é padrão nesses casos. “Em decorrência da grande quantidade de países apresentando o vírus, planejamos o nosso Centro de Operações de Emergências, que vai emitir boletins, talvez diários, para informar tudo o que está acontecendo no DF. O COE é uma ferramenta muito importante para responder a esses surtos”, definiu.

Ricardo Tavares, secretário adjunto de Assistência à Saúde, disse que o comportamento dos moradores da capital deve ser de precaução. “Há muitas notícias falsas sobre o coronavírus, até umas que dizem que o Aedes aegypti leva à doença. Mas isso tudo cria alarmes desnecessários. O DF está preparado, tem um plano de contingenciamento bem definido e o que temos que fazer é estar atentos a essa e outras infecções”, ressaltou.

Ricardo cita que, para isso, o cidadão deve lembrar de dicas comuns para combater doenças contagiosas. “O vírus pode permanecer até 48 horas em uma superfície como um corrimão, por exemplo. Por isso, é necessário lavar sempre as mãos com sabonete, evitar contato delas com a boca e os olhos e ter ainda mais atenção com a higienização após utilizar transporte público, que tem grande movimentação de pessoas”, detalha.

O uso de álcool em gel e máscaras não é essencial. “O pânico leva muita gente a sair de casa com máscara, mas isso não é necessário quando se seguem essas recomendações básicas. Álcool em gel é importante, mas basta lavar as mãos com sabão”, avalia.

Definição

Veja o que é necessário para que se declare o paciente como suspeito, segundo o Plano de Contingência elaborado pelos gestores da Secretaria de Saúde

Situação 1  
» Febre e pelo menos um sinal ou sintoma respiratório (tosse, dificuldade para respirar, batimento das asas nasais, entre outros) e histórico de viagem para área com transmissão local, de acordo com a OMS, nos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais ou sintomas.

Situação 2  
» Febre e pelo menos um sinal ou sintoma respiratório e histórico de contato próximo 
de caso suspeito para o coronavírus nos últimos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais ou sintomas.

Situação 3  
» Febre ou pelo menos um sinal ou sintoma respiratório e contato próximo de caso confirmado de coronavírus em laboratório, nos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais ou sintomas.

Três perguntas para Rafael Jacomo, médico e diretor técnico do laboratório Sabin

Como é feito o exame para a detecção do coronavírus?

Por metodologia RT-PCR, um método que amplifica o material genético do vírus pesquisado. É utilizado para várias aplicações: detecção de vírus, bactérias, mutações em câncer e mutações relacionadas a doença genéticas. Ele não foi criado para diagnóstico de infecção viral, mas, sabendo a sequência genética do vírus, é possível criar um exame para detectar aquela sequência. É feito um swab, isto é, passa-se uma escovinha no nariz do paciente, e ela é colocada em solução. Em seguida, é feita agitação, e o material que sai da mucosa do nariz se dilui. Ali tem material genético.

Em quanto tempo fica pronto?

Prometemos para um dia útil. É um prazo de logística que a gente dá para ter certeza do resultado. O protocolo do Ministério da Saúde estabelece que (instituições) particulares que tenham que fazer o exame devem encaminhar uma amostra pareada para o laboratório de referência da região. No caso, aqui vai para o Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal (Lacen). No caso de resultados positivos, é mais crítico. Foi o que aconteceu no Hospital Albert Einstein (em São Paulo). Eles fizeram o exame, tiveram resultado positivo, mas só foi confirmado depois, pela Secretaria de Saúde. Em caso de resultado negativo, o hospital não precisa esperar o resultado da amostra pareada e pode liberar o paciente.

Qualquer um pode fazer o exame?

Ele só é feito com prescrição médica. É uma questão do protocolo de atendimento estabelecido pelo Ministério da Saúde. O atendimento desses pacientes tem de ser referenciado para um hospital e lá é feita a coleta do exame. O paciente fica em isolamento em área específica, colhe o exame e, até o resultado, fica isolado de contato. Na coleta, o profissional usa Equipamento de Proteção Individual (EPI), conforme recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e, durante o processamento, tudo é feito em cabine. No nosso caso específico, o teste é totalmente automatizado, em equipamento, e sem contato direto do profissional com o paciente. Convênios não cobrem ainda. O mais importante é a população saber que não é exame para ser feito indiscriminadamente. Apenas com indicação médica de casos suspeitos. Não se faz exames de indivíduos sem sintoma de doença, até para não causar pânico e desespero de fazer exame. O caminho correto é procurar uma unidade de saúde para ser avaliado e conforme indicação do profissional fazer ou não o exame.
 

*Colaboraram Mariana Machado e Walder Galvão