A quarta-feira de cinzas começou com a sombra de uma doença perigosa em Brasília. Quatro pacientes foram internados em hospitais das redes pública e privada do Distrito Federal com suspeita de coronavírus, doença que teve início na China. Destes, dois seguem em observação, aguardando resultados definitivos e dois tiveram o diagnóstico descartado após exames realizados ao longo do dia. Os quadros preocupam a população por causa da gravidade e da primeira confirmação da infecção de um brasileiro, em São Paulo. Para especialistas, este é o momento de ampliar a cautela, mas sem pânico.
O Correio apurou que, na madrugada desta quarta-feira (26/2), um homem, vindo da Espanha, deu entrada no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) após apresentar sintomas semelhantes aos identificados em pessoas com o vírus. Ele teria dito aos médicos que, no país europeu, teve contato com um infectado. A informação foi confirmada pelo diretor do hospital, o médico Leonardo Ramos. O paciente está internado no 7º andar do edifício, onde ficou em isolamento. “O procedimento padrão nesses casos é monitorá-lo por 12 a 24 horas na unidade de saúde. Depois, se for o caso, ele é liberado, e continuamos monitorando o estado de saúde dele em casa”, explicou Leonardo.
Outros quatro casos haviam sido descartados no Hran. Após passar por avaliações médicas, o hospital descartou a infecção. Ao longo do dia, poucos sabiam do que se passava no 7º andar. “Eles deveriam emitir um comunicado, até para a gente se prevenir”, reclamou o acompanhante de uma paciente, que não quis se identificar. “A minha esposa está internada no 5º andar, mas a gente nem imaginava que isso pudesse acontecer. Ainda bem que descartaram”, disse.
No Distrito Federal, o Hran é a unidade habilitada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para os eventos de sentinela. Segundo a Secretaria de Saúde, o hospital está preparado para lidar com casos envolvendo a doença. De acordo com o Plano de Contingência da pasta, “a infecção humana pelo coronavírus é uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII)”, e “os casos suspeitos, prováveis e confirmados devem ser notificados de forma imediata pelo profissional de saúde responsável pelo atendimento”.
Rede privada
O Hospital Santa Lúcia, unidade de saúde particular da Asa Norte, confirmou nesta quarta-feira (26/2) que há um paciente com suspeita de infecção por coronavírus internado. O homem, que havia chegado recentemente de uma viagem à Austrália, deu entrada no centro clínico na terça-feira e passou por exames para reconhecimento de infecções virais e para o novo coronavírus, disponibilizados pela rede. Os primeiros testes deram resultado favorável à suspeita do Covid-19. Após os resultados, no mesmo dia, a Secretaria de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde foi notificada. A pasta enviou nesta quarta-feira (26/2) representantes para colher novas amostras e realizar testes no Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-DF). Esses exames vão comprovar ou descartar a contaminação. A avaliação final deve ficar pronta em até 72 horas.
Também nesta quarta-feira (26/2), outro hospital particular recebeu suspeitas da mesma doença. O Hospital Ortopédico e Medicina Especializada (Home), na Asa Sul, informou que dois pacientes com sintomas do vírus deram entrada na clínica. Ambos viajaram para a Itália, país que registrou 12 mortos e mais de 300 casos de coronavírus. Um dele, porém, foi liberado após exames da Vigilância Epidemiológica descartarem a infecção. Até o fechamento desta edição, o outro seguia em observação. “O hospital adotou todos os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em relação ao atendimento de caso suspeito”, resumiu a unidade de saúde, em nota do diretor técnico Cícero Dantas.
A Secretaria de Saúde informou que “investiga todos os casos suspeitos, inclusive os da rede privada”. Não foi confirmado se os pacientes com suspeita da doença internados em unidades particulares serão transferidos para o Hran. Porém, caso exista a confirmação, este deve ser o padrão seguido pela pasta.
Manter a calma
Diante das especulações, especialistas lembram que não é preciso se desesperar. “A vida das pessoas tem de ser igual como há dois dias. Nada mudou. Vamos lembrar de não entrar em pânico, porque não é o apocalipse”, alerta Leandro Machado, infectologista do Hospital Santa Lúcia Sul. Os sintomas da nova doença se assemelham aos de gripes e dengue. “A pessoa que apresentar essas características não deve ir para o pronto-socorro dizendo que tem coronavírus. Caso tenha vindo de um dos países listados pelo Ministério da Saúde, ou tenha tido contato com alguém cuja suspeita foi confirmada, aí, será investigado.”
O médico lembra que, para se proteger, é preciso higienizar as mãos, usar álcool em gel e evitar tossir nas mãos. Os riscos maiores são para pessoas que estiveram nos países listados pelo Ministério da Saúde. Idosos, profissionais da saúde, diabéticos e crianças, caso contagiados, podem apresentar as formas mais graves da patologia. “Estudos publicados na China mostram que a letalidade é de 2% a 4%, e, em idosos, de até 14%. Mas, a efeito de comparação, a dengue deve matar neste ano muito mais do que o coronavírus”, avalia.
Atenção
O infectologista Leandro Machado elenca os principais sintomas da doença:
» Febre
» Dor de cabeça
» Tosse
» Dificuldade para respirar
» Dor muscular
» Pneumonia
Fim dos estoques
Os brasilienses que procuram máscaras de proteção e álcool em gel para se proteger do coronavírus e de outras doenças tiveram dificuldades para encontrar os itens nas drogarias da capital. Na Rua das Farmácias, na 102/302 sul, os estoques de máscaras se esgotaram pela manhã, e, à tarde, apenas algumas unidades ainda tinham álcool em gel para vender. Algumas farmácias repõem as vendas diariamente. De acordo com a gerente da drogaria Santa Marta, na mesma rua, Eliane Francelina, a loja recebe em média, 10 pacotes com 50 unidades de máscaras, vendidas a R$ 15. Ali, elas acabaram antes das 9h. “Geralmente, essa demanda é suficiente, mas hoje a procura foi acima do normal”, destacou.
O aposentado Wagner Luis Pinto, 74 anos, estava à procura das máscaras. “Eu vim porque acredito que estou no grupo de risco. Tenho cardiopatia e asma; então, a minha imunidade é sensível. Além disso, tenho neto em casa”, afirmou. “Mas eu acho que o pessoal tem feito muito alarde com essa questão e vejo até um interesse econômico. Não acho que vá levar muito tempo para ter controle dessa situação. Estamos tendo várias pesquisas avançadas, e a coisa não está assim tão perto de nós”, ponderou.
Segundo o infectologista do Hospital Brasília André Bon, a população que não apresenta sintomas da doença não precisa utilizar a máscara. “A máscara pode ser um produto de prevenção, mas não faz sentido que toda a população compre. Isso acaba gerando um desabastecimento desnecessário. Por isso, nós recomendamos que apenas pessoas que vão ter contato com alguém infectado ou quem está infectado com o vírus usem o item a fim de evitar a propagação dele”, explicou.
Prevenção contra H1N1 e dengue
As doenças ligadas à síndrome respiratória grave têm maior facilidade de propagação, como os vírus da Influenza (gripe) e o novo coronavírus. Os cuidados de higiene pessoal, como lavar as mãos, podem minimizar os riscos de transmissão. Em 2019, foram registrados 196 casos de influenza (H1N1, H3N2, A não subtipado e B) no Distrito Federal. Destes, 20 pacientes morreram.
Segundo o Ministério da Saúde, dos 59 casos suspeitos do novo coronavírus no país, 14 foram confirmados como Influenza A. O professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) e pneumologista do Hospital Brasília Ricardo Martins explica que, só o fato de higienizar as mãos corretamente, evita o contágio de diversas doenças infecciosas, como a conjuntivite. “O ideal é lavar com água e sabão por 20 segundos, abrangendo todas as superfícies da mão”
Para os tipos de influenza, há a vacina disponibilizada pelo Ministério da Saúde. Neste ano, a vacinação contra a gripe está prevista para a segunda quinzena de março. O público-alvo são crianças de seis meses a menores de 6 anos, gestantes, puérperas (mulheres no período até 45 dias após o parto), trabalhadores da saúde, professores, povos indígenas, maiores de 60 anos e pessoas com doenças crônicas.
De acordo com Ricardo, a H1N1 é o que mais mata no país e inspira cuidados. No ano passado, 106 brasilienses tiveram a doença. Entre eles, a analista comercial Bruna Silva de Souza, 25 anos. “Tive H1N1 em julho do ano passado. Foi muito ruim, sentia dor no corpo e na cabeça. Eu evito passar a mão em corrimão e uso álcool em gel sempre que necessário”, diz. Grávida, ela pensa em tomar a vacina na próxima campanha.
Outro alerta é para evitar a automedicação. “Essa é uma atitude muito perigosa, porque mascara os sintomas, e a pessoa acaba tratando a consequência e não a doença”, explica Ricardo.
Além das infecções respiratórias, outro alerta é para o vírus da dengue, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. No Distrito Federal, foram registrados 1.419 casos da doença em janeiro, um aumento de 84,1% em relação ao primeiro mês de 2019 (730). Os cuidados para a prevenção iniciam com ações da população.
Dicas de prevenção
Gripe (influenza):
» Manter a carteira de vacinação em dia. Vacina contra a influenza é a intervenção mais importante para evitar casos graves e mortes pela doença.
» Lavar e higienizar frequentemente as mãos com água e sabão, principalmente antes de consumir algum alimento e após tossir ou espirrar.
» Cobrir o nariz e a boca, quando espirrar ou tossir.
» Evitar compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas.
» Evitar contato próximo com pessoas que apresentem sinais ou sintomas de gripe.
» Adotar hábitos saudáveis, como alimentação balanceada e ingestão de líquidos.
Dengue:
» Evite água parada
» Tampe baldes, caixas d’água e tonéis
» Deixe garrafas viradas para baixo e mantenha lixeiras sempre tampadas
» Coloque areia nos pratos de vasos de plantas
» Mantenha ralos e calhas sempre limpos
» Use repelente
Fonte: Secretaria de Saúde