O suspeito de matar a tiros a professora Shellyda Duarte, 31 anos, continua foragido. Segundo a investigação, Márcio Ordones da Silva, 41, ex-marido da vítima, executou a mulher com seis disparos de arma de fogo na região do tórax e no abdômen quando ela saía de casa com os dois filhos e a mãe, no Bairro Parque Sol Nascente, em Luziânia —, o município goiano fica a 60km de Brasília. Após balear a vítima, ele fugiu de carro.
O crime, tratado como feminicídio pela Polícia Civil de Goiás, ocorreu no início da noite de segunda-feira e chocou a cidade. A vítima chegou a ser encaminhada pelos familiares à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Ingá, mas não resistiu aos ferimentos. Vizinhos, que preferiram não se identificar, relataram ao Correio que, por volta das 19h30, Márcio chegou em um veículo na casa da mulher, no momento em que ela tirava o veículo dela da garagem. “Eu estava em casa, quando ouvi os disparos. Saí correndo para ver o que era e me deparei com esse desastre. Quando cheguei, o portão da casa estava pela metade”, contou uma das moradoras.
Segundo ela, a mãe está em estado de choque e faz uso de medicamentos. A vizinha relatou que o casal estava separado havia cinco anos, mas que o ex-marido não aceitava o fim do relacionamento. “Eu a conhecia havia 25 anos, quando me mudei para cá. Éramos amigas. A mãe sempre foi contrária à relação dos dois; por isso, ele tinha uma rixa com a sogra. É uma tristeza enorme saber que uma pessoa legal, trabalhadora e guerreira morreu dessa forma. Toda a comunidade está em choque”, lamentou.
De acordo com a Polícia Civil, testemunhas são ouvidas para esclarecer o caso. “Foram requisitados exames periciais, e o suspeito encontra-se foragido. O caso ainda tem muito o que ser investigado”, afirmou o delegado Bruno Van Kuyk. No momento em que a reportagem esteve na delegacia, um homem compareceu à unidade e prestou depoimento à polícia informando de que, no dia do crime, Márcio teria pedido o carro dele emprestado.
O suspeito tinha diversas denúncias por violência doméstica contra Shellyda. Márcio ficou preso sete meses no Centro de Detenção Provisória de Luziânia. E utilizava uma tornozeleira eletrônica por descumprir medida protetiva.
Shellyda Duarte era professora de matemática do Colégio Estadual José Carneiro Filho (Jocaf), em Luziânia. “Fui aluna dela em 2018. Ela vai ficar para sempre nas minhas lembranças por ser uma pessoa amorosa e bondosa. Todos os alunos a amavam. É uma grande perda”, disse a ex-aluna Jaynne Rocha, 21.
Na rua onde morava, vizinhos estão revoltados. “Eu a via passando toda hora na calçada, voltando da escola. O que se sabe é que ele sempre teve muito ciúme dela. A comunidade está revoltada e sem acreditar que uma pessoa tão boa foi vítima de uma crueldade dessas”, contou um morador, que preferiu não se identificar. Um outro vizinho estava próximo à casa de Shellyda no momento do crime. “Eu estava chegando em casa e, na hora que fechei o portão, escutei os tiros. Ela estava saindo da garagem quando ele encostou no carro dela e atirou.”
Protesto
Apesar de não conhecer diretamente a vítima, a terapeuta holística Cristiane da Silva, 43, fundadora do Coletivo Somos Rosas, que combate a violência contra a mulher, organiza, para sábado, a 1ª Caminhada Pelo Fim da Violência Contra a Mulher de Luziânia-GO. Cristiane conta que tem amigas próximas a Shellyda e que o caso causou comoção na cidade. “Trabalho nessa frente, em contato direto com a violência doméstica e já fui uma vítima. Quando soube dessa covardia, eu não poderia ficar calada”, disse.
Cristiane acredita que é papel da sociedade acolher as mulheres que sofrem com relacionamentos abusivos. “Precisamos exercitar a nossa sororidade, dar voz a essas mulheres e não deixar cair no esquecimento. Pela vida das mulheres, a gente mete a colher, sim”, alertou. A caminhada será a primeira ação do grupo na cidade, que pretende fazer palestras e rodas de conversa. A manifestação ocorrerá no bairro Sol Nascente, em Luziânia, a partir das 16h. A concentração será em frente ao Colégio Estadual José Carneiro Filho. Os organizadores pedem que os participantes levem cartazes e flores e vistam camisetas brancas.