Quem acha que os brasilienses não têm pique para pular carnaval em dia de chuva se enganou. Nem mesmo os temporais que atingiram a capital federal ontem foram capazes de afastar os foliões da farra. Pela manhã e à tarde, o público surgiu de forma tímida nos polos do Plano Piloto que concentram os blocos deste ano. No entanto, bastou o tempo acalmar para que os carnavalescos saíssem de casa. No Setor Comercial Sul (SCS), a estimativa é de que 20 mil pessoas tenham passado pela festa, que tomou conta das seis quadras até as 23h.
A fila quilométrica que se formou na região — temporariamente conhecida como Setor Carnavalesco Sul — também não desanimou ninguém. Ao longo do dia, 12 atrações tomaram conta dos três palcos, com direito a coreografias, diversidade e muitas cores. A estudante Yasmin Dornellas, 21 anos, chegou cedo à festa, enquanto ainda chovia. “Tem três anos que venho para cá (no SCS) e vale muito a pena. A gente se diverte, brinca e curte com a galera, que é da paz”, disse a universitária.
As atrações noturnas começaram às 18h, ao som do Bloco das Barbadas, de temática LGBTQIA+. Em seguida, o grupo Maria Fumaça agitou o público com ritmos jamaicanos. A animação não ficou só nos palcos. No corredor central da galeria, grupos se reuniram ao som de músicas eletrônicas tocadas em uma espécie de carroça musical.
O bancário Felipe Gomes, 30, aguardou na fila para acompanhar o bloquinho das Sereias Tropicanas, às 16h. Criativo, o morador do Núcleo Bandeirante investiu em uma fantasia de abduzido. A peça consistia em um extraterrestre que o puxa para fora da Terra. “É bem sugestivo por causa do país em que vivemos, da violência e da corrupção”, explicou. Sobre a fila, disse não se incomodar. “Prefiro ficar um pouco mais de tempo aqui para curtir com mais segurança”, disse. Até o fechamento desta edição, a Polícia Militar não havia registrado ocorrências graves no local.
Intensidade
Sombrinha e guarda-chuva foram itens indispensáveis para compor o modelito de muita gente que saiu às ruas ontem. No caso de dois blocos marcados para desfilar em Taguatinga, o Asé Dúdu e o Mamãe Taguá, os acessórios não foram suficientes, pois a folia não aconteceu devido ao tempo. No Complexo Cultural da Funarte, o calor do feriadão afastou o frio do público, que começou a aparecer por volta das 17h.
O Palco Brasília 60 teve shows e, na área externa, dois trios elétricos agitaram o público. Entre os ritmos, predominaram o samba e o funk. Ao redor, barraquinhas e policiais militares por toda parte. As amigas Carmélia Marisa Ferreira, 25, Luiza Souza, 23, e Marta Fernandes, 22, contaram que a chuva não atrapalhou tanto. “Isso se tornou um empecilho, pois quase não viemos para o bloquinho”, disse Carmélia. Luiza elogiou a organização: “Geralmente, vou a bloquinhos que têm muita gente e são uma bagunça. Mas é inegável que está tudo muito bom, com segurança e locais para comer.”
O Concentra Mas Não Sai se reuniu pelo 20º ano na comercial da 404/405 Norte. Ontem, 5 mil pessoas estiveram na entrequadra, onde se apresentaram o trio DNA Brasília, o bloco Pimenteira e os cantores Marcelo Sena e Bebeto Cerqueira. O professor de história e musicista Ramon Barrancas, 33, resolveu homenagear uma das paixões e se fantasiou de karaokê. A indumentária contava com um setlist de nove músicas escolhidas a dedo. Bastava girar uma manivela para tocar. “Na playlist, há hinos como Cilada, do Molejo; Evidências, do Chitãozinho e Xororó; além de Tim Maia, Ludmilla e Rihanna. Tive a ideia no ano passado e resolvi executar agora”, detalhou.
* Estagiário sob supervisão de Guilherme Goulart
Previsão do tempo
O Distrito Federal segue com chance de mais temporais hoje. A tendência, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), é de estabilidade, com céu nublado a encoberto durante todo o dia, além de pancadas de chuva e trovoadas em áreas isoladas. A temperatura máxima prevista é de 28ºC, e a mínima, de 19ºC. A umidade relativa do ar varia entre 50% e 95%.
Transtornos em Águas Claras
A chuva constante de ontem resultou em alagamentos e confusão, sobretudo, em Águas Claras. Segundo o presidente da Associação de Moradores e Amigos da região, Román Dario Cuattrin, ruas ficaram interditadas e, em determinados trechos, o trânsito parou. Alguns carros quase foram tomados pela água. Em 40 minutos de tempestade, houve problemas, principalmente nas ruas 16 e 17, na Avenida Bulevardeiro Sul; na entrada de Águas Claras, na qual o córrego que passa por baixo da Estrada Parque Vicente Pires (EPVP), sentido Águas Claras, transbordou e invadiu a pista; na praça Flamboyant; e na rotatória da Avenida Pau-brasil. “Além de todo o transtorno, alguns veículos ficaram danificados depois de o motorista arriscar passar pela água”, disse Román. O Corpo de Bombeiros registrou algumas ocorrências em decorrência da tempestade. Em Taguatinga, os militares resgataram um morador de rua, de 71 anos, que estava ilhado na enxurrada. Na EPTG, entre Vicente Pires e Águas Claras, os bombeiros resgataram a motorista de um carro caído em uma vala. E, em Ceilândia, os bombeiros interditaram uma via, pois uma cratera de 10m de comprimento, 8m de largura e 6m de profundidade se formou sob o asfalto.