De olho nos 84 eventos previstos para desfilarem na área central de Brasília desta sexta-feira (21/2) a terça-feira, a Secretaria de Segurança Pública instalou uma central para integrar o trabalho das forças. Nesta sexta-feira (21/2), a pasta inicia as atividades na Cidade da Segurança Pública, na Torre de TV, onde ficará uma central de acompanhamento dos atendimentos realizados pelo Corpo de Bombeiros, pelas polícias Militar e Civil e pelo Departamento de Trânsito (Detran).
Focado na região, o efetivo terá mais de 1,9 mil pessoas em cada um dos cinco dias de folia. Para o secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, o objetivo é facilitar a prestação de serviços e atender as ocorrências de modo célere. No ano passado, sistema semelhante formado pela Polícia Militar e pelos bombeiros funcionou no mesmo local. “(O sistema) evoluiu dentro de nossa política de integração das forças. Esse é o modelo que queremos aplicar no DF. Entendemos que, se não for assim, não dará certo. É uma iniciativa pioneira. A nossa ideia é centralizar, integrar”, destacou Torres.
A Polícia Civil contará com serviços além do registro de ocorrências e da emissão de termos circunstanciados. A corporação deslocará não só agentes e delegados, como médicos legistas, papiloscopistas e peritos criminais para trabalharem em três ônibus na Cidade da Segurança. “Em um deles, haverá a realização de exames de corpo de delito e de constatação (da presença) de drogas (no organismo). Uma vítima de lesão, por exemplo, não precisará ser encaminhada ao IML (Instituto de Medicina Legal)”, detalhou o delegado André Sala, assessor do Departamento de Atividades Especiais da PCDF.
As equipes da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), da 5ª DP (Área Central) e da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA 1), na Asa Norte, terão reforço. O mesmo está previsto para os plantões nas unidades das demais regiões administrativas. Outra novidade é o emprego de drones e câmeras de reconhecimento facial em pontos estratégicos. Os equipamentos, usados pela primeira vez, facilitarão a identificação de foragidos da Justiça e permitirão o cruzamento com dados de 15 mil mandados de prisão em aberto.
O delegado André Sala afirmou que o sistema ainda não tem previsão de uso contínuo, mas deve funcionar, a depender da demanda e da conveniência, em eventos de grande porte. Para o secretário de Segurança Pública, o carnaval deste ano será um teste para tal esquema. “Vamos ver como funcionará e como vai ser a reação, para podermos adquirir (novas câmeras) e espalhá-las em outros pontos. É algo que muito nos interessa e um projeto que faz parte do monitoramento das cidades”, completou Anderson Torres.
Esforço
A Secretaria de Cultura dividiu a área central de Brasília em sete setores, onde 84 eventos ocorrerão até terça-feira. O maior efetivo na região será da Polícia Militar, que colocará 1,5 mil PMs por dia nas ruas. Cada um dos maiores blocos ficará sob o comando de um major, que permanecerá em contato com a central de operações na Torre de TV. Além disso, os serviços na área administrativa serão intensificados.
O chefe da comunicação da PMDF, coronel Alexandre de Souza Oliveira, comentou que haverá um esforço por parte de todos os envolvidos nas atividades de acompanhamento das festividades. “Toda a PM está mobilizada. O carnaval de Brasília vem em um ascendente de público, alegria e reconhecimento em âmbito nacional. Trabalharemos para que continue dessa forma e para que as pessoas possam ir para os blocos se divertirem”, disse o oficial.
O Corpo de Bombeiros e o Detran também terão uma base na Cidade da Segurança Pública e, assim como as demais forças, aumentarão o número de equipes nas festas das outras cidades do DF. Chefe da seção de emprego operacional da corporação, o tenente-coronel Ivan Luiz Ferreira dos Santos ficou responsável pelo planejamento da operação dos militares em 2020.
Memória
Morte no pré-carnaval
Parte do reforço na segurança se explica pelo assassinato de um jovem de 18 anos no bloco pré-carnavalesco Quem chupou vai chupar mais, na área externa do Museu Nacional da República. O crime ocorreu em 8 de fevereiro. Matheus Barbosa Magalhães foi atingido por duas facadas, uma no tórax e outra na cabeça, durante um arrastão, segundo informou a Secretaria de Segurança Pública. A vítima chegou a ser transportada pelo Corpo de Bombeiros ao Hospital de Base, mas não resistiu aos ferimentos e morreu na noite de sábado. Além da morte de Matheus, os bombeiros atenderam, na mesma noite, 12 ocorrências no bloco, das quais seis eram de pessoas vítimas de arma branca.
Palavra de especialista
Integração é fundamental
“A integração das forças é o caminho ideal. É o melhor e fundamental, sobretudo, em eventos de massa. Lembramos muito da polícia, porque ela está lá para controlar eventuais distúrbios, mas a presença de bombeiros, da Defesa Civil e do Detran também é importante para garantir a integridade. Não existe sociedade sem crime. Vão ocorrer pequenos furtos e roubos, mas as pessoas também podem ajudar a polícia, evitando deixar a carteira em locais de fácil acesso; tendo cuidado com copos e garrafas para evitar serem vítimas do famoso ‘boa-noite, Cinderela’; fazendo consumo responsável de álcool; indo acompanhadas de colegas; ficando atentas nos momentos em que chegam ou saem (dos eventos). Isso vale para homens e mulheres. São medidas de segurança pessoal e de prevenção, que ajudam a contribuir com o trabalho que as forças estão fazendo. O crescimento do interesse pelo carnaval não é um fenômeno só de Brasília. Então, é claro que as instituições de segurança precisam se adequar a essa nova dinâmica social. E isso (criação de uma central de integração) está totalmente de acordo com o que se faz no resto do Brasil e em outros lugares”, Marcelle Figueira, pesquisadora na área de segurança pública e professora da Universidade Católica de Brasília (UCB).
Drones e reconhecimento facial
Pela primeira vez, o Distrito Federal usará drones e reconhecimento facial para melhorar a segurança no carnaval. Os equipamentos aéreos da Polícia Militar servirão para orientar o policiamento, e câmeras da Polícia Civil identificarão pessoas com mandados de prisão em aberto, entre outras implicações legais. As medidas foram anunciadas após reunião entre representantes do GDF e de blocos de rua, na Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança Pública e Defesa Civil (Ciosp).
A primeira cidade a testar a tecnologia foi Salvador, seguida por Rio de Janeiro. Neste ano, além de Brasília, São Paulo adotará o reconhecimento facial. O Distrito Federal usa o sistema automatizado em toda a frota de ônibus desde maio de 2019.
O empresário Ariel Prazeres, 25 anos, sente-se mais protegido com a nova estratégia. “Eu me sinto seguro, pois o reconhecimento facial ajudará na identificação de criminosos, foragidos ou qualquer pessoa que queira fazer o mal. É muita gente na festa e, com essas tecnologias, fica mais fácil localizar aqueles com más intenções”, defende o folião.
Para o professor Flávio Vidal, do Departamento de Ciência de Computação, líder do Bitgrup (Biometric and Tecnologies Group) da UnB, a utilização de câmeras para monitoramento facial traz segurança. “O que interfere é a possibilidade de um suspeito negar ser o autor do crime. Quando isso acontece, entra o reconhecimento facial. Com as imagens, o oficial resolve o problema, não deixa de prender alguém por falta de provas”, aponta o especialista.
* Estagiários sob supervisão de Guilherme Goulart