Correio Braziliense
postado em 14/02/2020 06:00
A Companhia Energética de Brasília (CEB) recebeu neste mês um relatório com possíveis soluções ambientais e sustentáveis para atenuar os impactos na região do antigo Aterro do Jóquei, também conhecido como Lixão da Estrutural. O Projeto de Remediação Ambiental, Energética e Sustentável para Aterros (Raeesa), da Universidade de Brasília (UnB), estuda propostas para transformar o potencial energético de resíduos sólidos em energia: a partir de placas fotovoltaicas (energia solar) ou da queima de gases e de resíduos (termelétrica).
O estudo, feito em parceria com a CEB, atende a uma das propostas de sustentabilidade exigidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Com um investimento em torno de R$ 3 milhões, uma equipe formada por 35 pesquisadores, entre docentes, estudantes de graduação, mestrado e doutorado da UnB, analisa as propostas, com conclusão prevista para outubro deste ano. A CEB, em seguida, vai estudar a execução das estratégias viáveis. “Após os estudos serem entregues, vamos analisar o que conseguimos executar para recuperação dessa área”, explica o diretor da CEB Geração, Luiz Eduardo Sá Roriz. Para ele, a parceria apresenta saídas relacionadas às fontes energéticas: “De um lado, temos uma área ambientalmente degradada e que precisa ser recomposta. Do outro, temos um programa que pode fazer algo pela região gerando energia e, ao mesmo tempo, trazer a recuperação”.
Propostas
“Existe um potencial na região, e nossa equipe está fazendo esse diagnóstico para saber exatamente qual”, pontua o professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UnB Antonio Brasil Junior, coordenador-geral do projeto. A primeira proposta de estudo analisa a decomposição do lixo no subsolo. “Durante esse processo, são liberados os gases metano e dióxido de carbono, que vão para a atmosfera. A ideia é que eles sejam convertidos em eletricidade a partir da queima de combustores externos”, detalha.
Outra maneira de gerar energia está na implantação de placas fotovoltaicas no local. “Pode-se usar parte do lixão para instalar uma cobertura com os dispositivos. A medida gera benefícios na vizinhança do próprio mercado consumidor”, analisa Antônio. A última iniciativa visa à queima da mistura de resíduos enterrados com lixos em potencial energético. “A combustão desses entulhos velhos misturados com o novo pode gerar energia elétrica por meio de termelétricas”, afirma o professor.
Marcela Rodrigues, 34 anos, mestranda em ciências mecânicas na UnB, participa do projeto desde o início, em outubro de 2018. O trabalho dela é testar o infravermelho como ferramenta de localização de lagos de escapamento de biogás e encontrar uma forma segura de trabalhar com o fluido. A análise é feita por meio de imagens termográficas feitas por uma câmera com infravermelho. “Estamos vendo se podemos usar o infravermelho para uma gestão completa do escapamento do gás no aterro, sem precisar colocar em risco vidas humanas”, conta Marcela.
Além da visão sustentável, a iniciativa é marcada pela busca por maior segurança de atuação na área. “Hoje, funcionários vão até o local acender o escapamento de gás, que pode explodir, a depender da concentração. Quando começamos a frequentar o aterro, ficamos impactados com a gestão. É muito rudimentar e coloca em risco a saúde das pessoas que trabalham lá. Nossos dados e de outros pesquisadores mostram um grau de contaminação muito relevante do solo, da água, do ar, além de gases altamente poluentes. Se a gente conseguir desenvolver ferramentas que gerem mais segurança, será um ganho”, diz a pesquisadora.
Cenário atual
O espaço foi fechado para depósito de resíduos domésticos em 20 de janeiro de 2018. Atualmente, o local, nomeado de Unidade de Recebimento de Entulho (URE), recebe sobras da construção civil, em até 800 caminhões de entulho por dia. Quem trabalha na região são apenas motoristas de caminhões de empresas autorizadas e funcionários do Serviço de Limpeza Urbana (SLU). Ao redor do espaço, existem 148 manilhas com chamas acesas no topo. A medida permite a evasão do metano liberado pelo acúmulo de 40 milhões de toneladas de detritos que permanecem debaixo da terra.
O antigo Lixão da Estrutural era o segundo maior do mundo em 2018, atrás apenas de um em Jacarta, na Indonésia. O local recebia 9 mil toneladas por dia. Ainda hoje, são despejados na região cerca de 6 mil toneladas de resíduos da construção civil, uma média de 130 mil toneladas por mês. Segundo o SLU, apenas em 2016, foram aterrados 830 mil toneladas de resíduos domiciliares no lixão. O depósito foi criado sem planejamento e impermeabilização do solo.
No mundo
Países que produzem energia a partir do lixo:
China
O país asiático tem mais de 300 usinas de geração de energia a partir de resíduos, e pretende começar a operar a maior instalação desse tipo até o fim de 2020.
Suécia
Os suecos reduziram drasticamente o lixo enviado para os aterros sanitários com o método de queima de resíduos. Menos de 1% do lixo doméstico do país vai parar nos aterros.
Inglaterra
A Inglaterra está prestes a queimar mais lixo do que recicla. De 2010 a 2017, a quantidade de resíduos incinerados no país triplicou, enquanto os índices de reciclagem se mantiveram estáveis.
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