O clima de apreensão pairava no Centro de Ensino Fundamental 410 Norte na manhã de ontem. Centenas de alunos da unidade voltaram às aulas após a morte do ex-diretor Odailton Charles de Albuquerque Silva, 50 anos. O professor sofreu um envenenamento pela substância aldicarbe, presente em raticidas como chumbinho, dentro da instituição, em 30 de janeiro. Ele ficou internado em estado grave no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) por cinco dias, mas não resistiu e morreu em 3 de fevereiro.
Durante a tarde de ontem, agentes da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) coletaram depoimentos de testemunhas. Amigos e familiares de Odailton Charles também prestaram esclarecimentos na unidade. Além disso, com o apoio do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT), os agentes do caso analisarão dois celulares apreendidos pelos policiais, o de Odailton Charles e o de um dos investigados. Ninguém é tratado como suspeito. “Não podemos dar detalhes para não prejudicar a nossa investigação”, informou o delegado Laércio Rossetto.
Além do retorno dos estudantes ao CEF 410 Norte, muitos pais acompanharam os filhos no primeiro dia do ano letivo. Eles permaneceram em frente à instituição até terem um pronunciamento oficial do colégio, uma vez que as atividades estavam marcadas para começar às 7h30. Elas iniciaram com 15 minutos de atraso, quando um funcionário anunciou que os responsáveis poderiam entrar com os alunos.
A maioria dos pais visitou a escola rapidamente para checar se as aulas seriam conduzidas normalmente. Entretanto, a rotina no CEF 410 Norte foi diferente. Os estudantes receberam apoio psicológico e orientação de 50 profissionais da Unidade de Educação Básica (Unieb), da Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto. Durante o dia, rodas de conversas foram formadas para debater a morte de Odailton Charles e outros assuntos de interesse dos alunos, como expectativa para o futuro.
O militar Alberto Lourenço, 41, tem uma filha de 14 anos que vai começar a estudar neste ano no centro de ensino. “A situação é muito preocupante. Sabíamos que era uma boa escola, mas esse fato assustou todo mundo, os antigos e os mais novos.” Para ele, a expectativa é de que a morte do ex-diretor não interfira nas aulas. “Acredito que deveria ter uma reunião com os pais para nos colocar ciente de alguma coisa”, defendeu.
A preocupação de Alberto é compartilhada por outros pais, como a gerente Dênia Meneses, 45, mãe de um adolescente de 12 anos que estuda na escola há três anos. “Fiquei sabendo do que aconteceu pelo meu filho e tive mais informações pela televisão. Acho que todos, pais, professores e alunos, precisam se reunir para sabermos de fato o que está acontecendo”, disse. Dênia ressaltou que Odailton Charles foi uma pessoa que conviveu com o filho dela e que eles precisam desse apoio da escola. “Hoje, vim trazê-lo, porque sequer sabia como seria o início das aulas. Precisamos de uma posição firme”, comentou.
O Correio tentou conversar com a direção da unidade de ensino, no entanto, funcionários da escola informaram que apenas o vice-diretor estava no local e que ele não concederia entrevistas.
Professores
Os professores não permaneceram na escola. Eles foram encaminhados para a Regional de Ensino do Plano Piloto, onde receberam o mesmo atendimento dado aos jovens. A professora de psicologia da Unieb Lídice Dourado Dias Braga informou que os profissionais acompanharão a instituição pelo tempo necessário. “Queremos acalmá-los em relação ao que aconteceu e certificar que o ano vai ser do jeito esperado, conforme a programação pedagógica”, explicou. “O clima está um pouco tenso. É uma situação que não diz respeito aos alunos, mas afeta todo mundo. Na medida do possível, vamos mostrar que o importante é a aprendizagem e a educação. O que tem para ser investigado vai ser feito pelos órgãos competentes”, disse.