Peritos do Instituto de Criminalistica (IC) da Polícia Civil não encontraram resquícios de suco de uva na roupa usada pelo professor Odailton Charles de Albuquerque Silva, 50 anos. A vestimenta estava umedecida com vômito, mas só foi possível confirmar a presença de aldicarbe, substância proibida encontrada em raticida e que causou o envenenamento do docente. Apesar de não ter provas técnicas, a investigação comandada pela 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) não descarta que a vítima consumiu a bebida.
A análise descartou o envenenamento por organofosforado, como tinha sido apontado por avaliação preliminar do Hran. De acordo com a perita criminal Flávia Pine Leite, do IC, não foi encontrado nenhum elemento nas roupas do professor, além do raticida e de um relaxante muscular. "Geralmente, o primeiro vômito é mais pastoso. Mas o que estava na roupa era líquido. Por isso, não foi possível confirmarmos a presença do suco de uva", explica.
Embora não tenha sido possível determinar com precisão o modo de ingestão do raticida, a presença da substância no vômito traz o indicativo de que ela foi consumida por via oral, conforme análise do IC. A presença do raticida também foi constatada em análise sanguínea. Segundo a médica legista e diretora do Instituto de Medicina Legal (IML), Márcia Cristina dos Reis, duas amostras foram coletadas no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), enquanto Odailton Charles estava vivo.
"A primeira foi no dia 30 de janeiro e a última no dia 3 de fevereiro. A primeira deu positivo quanto à presença de aldicarbe, mas a segunda, não. Mas isso está de acordo com a literatura (médica da profissão), que aponta que a substância é colocada para fora do organismo de 3 a 4 dias", detalha.
O diretor-adjunto do IML, Hugo Ricardo de Castro ainda destaca que o fato de a substância não ter sido encontrada na corrente sanguínea do professor em 3 de fevereiro também se deve "ao caso de a vítima estar internada em terapia intensiva". "Então, todos os esforços médicos foram para que Odailton continuasse vivo."
Linha de investigação
Com a confirmação do envenenamento de Odailton Charles, a 2ª DP trabalha, agora, para elucidar as circunstâncias de como todo o caso ocorreu, como destaca o delegado-chefe Laércio Rossetto. "O fato de o suco de uva não ter sido encontrado nas vestes de Odailton não aponta que ele não consumiu a bebida. Nós temos os áudios que a própria vítima relata ter tomado o líquido e nós levamos isso muito a sério. Estamos apurando essa informação a fundo", salienta.
Antes de ser internado, o professor mandou dois áudios pelo WhatsApp para uma amiga do trabalho. Ele relatou ter ganhado uma garrafa de suco de uva de uma colega da escola e que, após cerca de 15 minutos, começou a passar mal. Em uma das mensagens, ele chegou a levantar a suspeita: "Será que ela me envenenou?". O material foi entregue para perícia no IC, para confirmar se não houve nenhuma alteração dos áudios (escute a íntegra abaixo).