Um astro da NBA dá um passe preciso e comemora. Não é o Staples Center ou o Madison Square Garden. E tenho certeza de que nenhum ginásio americano jamais terá o glamour daquela arena. A sombra da mangueira imensa alivia o calor. O quintal é pequeno, mas tem um quê de latifúndio para um menino aéreo. Recebo a bola e salto uma altura improvável para uma criança de 10 anos. A tabela desmorona com a enterrada. Sobe tanta poeira que é difícil ver. Grito. A torcida do Los Angeles Lakers celebra a nova estrela, um moleque prodígio do interior de Minas Gerais. Mais um pouco e estarei no All Star Game.
Corte brusco para o presente. Nunca fui aos Estados Unidos. Sem talento para o esporte, não jogo na NBA nem em qualquer lugar, mas gosto de lembranças. Na minha infância, meus amigos não falavam nem tinham corpo, eram imaginação. Sonhava, acordado e distraído, com os astros. Nas brincadeiras, eu e as estrelas do basquete desviávamos das mangas e das folhas no chão do quintal para chegar ao alvo e, às vezes, escorregávamos, mais eu do que elas.
A minha arena era de terra batida. Localizada no Cisco, um distrito de Frutal, em Minas Gerais, que, na verdade, chama-se Aparecida de Minas. Não existia ginásio por lá naquele tempo. Para me agradar, meu pai fez um aro com material de ferro-velho e o pregou na mangueira. A tabela era uma tábua quadrada, resto do berço da minha irmã.
Eu assistia às partidas na NBA de madrugada, com a televisão com sinal de parabólica chiando. A fita gravada com Space Jam: O jogo do século não saía do videocassete. O jogo era diário. Eu brincava a tarde toda. Depois me fechava no quarto, às vezes lendo, às vezes tocando guitarra num volume muito mais alto do que meus pais e os vizinhos gostariam.
O presente... Dezoito anos depois, alguns daqueles jogadores estão mortos. A mangueira imensa, também. Frutal e o Cisco são lembranças, saudades. Um cartão-postal inexistente grudado sempre nos meus olhos, como óculos de grau que moldam tudo que vejo. Os tempos são estranhos e tristes. Nós, contudo, continuamos aqui e precisamos navegar. Como soprou um amigo: “Itabira é apenas uma fotografia na parede/ Mas como dói!”.