O Distrito Federal registrou 1.419 casos de dengue no primeiro mês do ano. O número representa aumento de 84,1% em relação ao mesmo período de 2019, quando houve 730 ocorrências da doença. Desse total, 1.296 são de residentes do DF. A região de Sobradinho 2 é a que apresenta a maior incidência, com 113 casos, seguido de Sobradinho (109), Guará (105) e Gama (103). Entre as notificações confirmadas, três foram classificadas como graves e 27 com sinais de alarme (sintomas mais fortes). Houve ainda um óbito, no Guará (leia abaixo). Os dados são do Boletim Epidemiológico divulgado ontem pela Secretaria de Saúde.
A faixa etária mais atingida foi o grupo de 20 a 49 anos, com 610 notificações. Em janeiro de 2019, a população adulta representava 430 dos casos. Houve aumento também entre as pessoas maiores de 50 anos. Neste ano, o DF teve 417 ocorrências, ante 135 no ano passado. A região com maior incidência foi a Norte, com destaque para Fercal, Sobradinho 1 e 2.
O boletim também apresenta os dados de chicungunha e zika. O Distrito Federal registrou, nas primeiras quatro semanas do ano, 16 notificações de chicungunha, das quais 13 (81%) são de residentes no DF. Dessas, uma foi confirmada. Em relação à zika, foram registrados 12 casos prováveis da doença.
Na semana passada, o Governo do Distrito Federal decretou situação de emergência em relação ao risco de uma epidemia de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. A medida, assinada pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), visa ampliar as ações de combate e prevenção, com contratação de 600 agentes temporários. Estão abertas as inscrições para 300 vagas de agente comunitário de saúde e outras 300 para agente de vigilância ambiental. Os profissionais atuarão em atividades externas, com visitas domiciliares, em todo o DF. O salário varia de R$ 1,7 mil a R$ 2 mil, mais auxílio-alimentação de R$ 394,50 e auxílio-transporte. O contrato dura seis meses. Os interessados podem encontrar mais informações no site www.igesdf.org.br.
Força-tarefa
Em 2019, o DF bateu recorde histórico com relação à quantidade de ocorrências registradas. Foram contabilizados mais de 47 mil casos prováveis de dengue e 62 mortes. Com a alta, a Secretaria de Saúde mobilizou uma força-tarefa com equipes do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), além de profissionais da saúde. A preocupação aumenta após o aparecimento de um novo tipo do vírus da dengue, mais agressivo.
As equipes do Corpo de Bombeiros realizaram inspeção em 74.612 imóveis em 2019, com a instalação de 2.224 armadilhas. A região de Planaltina apresentou queda no número de notificações após o trabalho reforçado na inibição de ambientes favoráveis para o inseto. Neste ano, foram 2.652 residências vistoriadas.
Além da intensificação na prevenção, a pasta disponibilizou um novo espaço para atender os pacientes com a doença. Foram abertas salas de hidratação, que servirão de apoio para a população durante o tratamento em diversas unidades de saúde e hospitais. O secretário adjunto de Assistência à Saúde, Ricardo Tavares, afirma que o local atenderá os casos mais graves, com medicações via oral e venosa.
Com toda a atenção voltada para as ações de combate, o governo faz um apelo para a sociedade se atentar aos cuidados para evitar locais de propagação do Aedes Aegypti. “É fundamental o papel da população. O foco do mosquito está dentro das nossas casas. A gente precisa de um trabalho de conscientização para que verifique o quintal, olhe se não está tendo água acumulada para evitar a proliferação”, ressaltou Tavares.
De acordo com secretário adjunto, o clima característico dos primeiros meses do ano tende a criar um local agradável para o Aedes. “Brasília tem todas as condições para a proliferação do mosquito. Chove, tem aquele temporal, acumula água, daqui a pouco abre o sol e faz calor. E isso faz com que ele se multiplique”, explicou.
O subsecretário de Vigilância à Saúde, Divino Valero, destaca a importância do trabalho conjunto com os moradores. “A ideia é que nós possamos empoderar a população para que cada um seja um agente. E o problema grave que a gente tem aqui no DF é que o próprio inseto não tem um padrão de desova, como em prato, lata e balde. É em todo e qualquer depósito”, disse. Segundo ele, a fêmea desova em média de 350 a 400 ovos, e a eclosão é muito rápida: “Dá uma chuva, vem esse calor, e tenho uma população de mosquitos”.
Para evitar a proliferação do Aedes
- Evite água parada
- Tampe baldes, caixas d’água e tonéis
- Deixe garrafas viradas para baixo e mantenha lixeiras sempre tampadas
- Coloque areia nos pratos de vasos de plantas
- Mantenha ralos e calhas sempre limpos
- Use repelente
- Acione a Vigilância Ambiental, o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) ou a Novacap caso suspeite que um local seja potencial foco do mosquito
Fonte: Secretaria de Saúde
Fique ligado
- Ao menor sinal de febre, dor no corpo, fadiga associada a dor nas juntas, dor nos olhos e na cabeça, conjuntivite, mal-estar, manchas vermelhas pelo corpo e falta de apetite, procure a unidade de saúde mais próxima para avaliação de um médico. Em caso de diagnóstico positivo para doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, siga a recomendação médica e respeite o tempo de recuperação. Beber bastante água ajuda o organismo durante o tratamento.
É fundamental o papel da população. O foco do mosquito está dentro das nossas casas. A gente precisa de um trabalho de conscientização para que verifique o quintal, olhe se não está tendo água acumulada para evitar a proliferação do mosquito”
Ricardo Tavares, secretário adjunto de Assistência à Saúde
Vítima é idoso morador do Guará
DARCIANNE DIOGO
A dona de casa Sirleide da Conceição Silva, 56 anos, perdeu o marido para a dengue em 18 de janeiro. O funcionário público Antônio Valdeci Carneiro, 65, começou a sentir febre e dores nas juntas quatro dias antes de falecer. “Na terça-feira de madrugada, o médico deu o diagnóstico de dengue hemorrágica, e ele foi internado imediatamente. Começou a tomar soro, fez o que pôde, mas não resistiu”, lamentou Sirleide.
O casal morava na QE 26, no Guará 2. A região está entre as que apresentam maior incidência da doença. No total, foram 103 casos de dengue contabilizados só em janeiro. Sirleide conta que sempre tomou as devidas precauções para combater o mosquito na residência. “Aqui (Guará), o problema está nos matos altos e na quantidade de poças que existem. O pior é que não vejo ninguém tomar providência. Precisamos combater esse mosquito o mais rápido possível, antes que ele se alastre e destrua mais famílias, assim como devastou a minha. Meu marido era meu companheiro, amigo, e tinha acabado de se aposentar, mas não conseguiu aproveitar esse tempo.”
Dor e fadiga
A assistente administrativa Camilla Cristina Pereira, 25, também mora no Guará 2 e integra a estatística dos casos da doença notificados. Ela contraiu o vírus da dengue na quarta-feira passada. “Comecei a sentir muita dor de cabeça e nas costas. A febre veio depois. Até então, não sabia que poderia ser dengue, mas senti dor atrás dos olhos e desconfiei”, afirmou.
Camilla logo procurou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Núcleo Bandeirante, onde confirmou o diagnóstico da doença. “Não sinto ânimo para nada, nem para levantar da cama. Sinto-me cansada e estou à base de dipirona, paracetamol e bastante água”, ressaltou. Ela acredita que pode ter sido picada pelo mosquito na própria casa. “Eu sempre tampo os baldes de água quando chove. Nunca deixo água parada. Mas antes de eu ficar doente, fui olhar os ralos e estava cheio de larvas. Imagino que possa ter sido isso.”