Para o estudante de geografia Lucas Bragança, 24 anos, coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Brasília (DCE/UnB), o protesto também foi uma forma de manter o debate sobre o transporte em pauta na cúpula do governo. “Estamos em uma série de mobilizações desde o início do ano e vamos realizar outros atos”, disse o morador de Águas Claras.
A manifestação foi convocada por meio das redes sociais pelo DCE/UnB e contou com o apoio do Movimento Passe Livre (MPL). Depois de se reunirem no estacionamento do Ginásio Nilson Nelson, os manifestantes seguiram em direção ao Palácio do Buriti e ocuparam uma das faixas da via N1, no Eixo Monumental. A Polícia Militar acompanhou e não registrou ocorrências.
De acordo com o integrante do MPL Paíque Duques, 34, a sequência de protestos é parte da estratégia para revogar o reajuste. “O governo espera o nosso cansaço. Eles acreditam que as manifestações vão ocorrer em janeiro, fevereiro e, no máximo, março. O que temos a informar é que nosso horizonte de lutas é anual. Para lutar contra o aumento, derrubá-lo e construir uma nova forma de financiar o transporte”, pontuou.
Moradora de Sobradinho 2, Lísya Borges, 22 anos, argumenta que a qualidade do serviço oferecido pelo GDF não condiz com a tarifa cobrada. “O transporte público em Brasília é péssimo. No geral, a integração não funciona. Em Sobradinho 2, as linhas são reduzidas. No domingo, não há ônibus, praticamente. Os ônibus que existem quebram e são sujos. Além disso, saem da rodoviária atrasados e estão sempre cheios”, reclamou a estudante de história da UnB.
Para Jéssica Karine Almeida, 21, o tempo de espera pelo transporte e a limitação nas integrações também são pontos questionáveis na mobilidade local. “Tem ônibus que demora mais de uma hora e meia pra chegar ao terminal do Gama. Além disso, a tarifa é muito cara para um transporte onde o metrô, por exemplo, não abrange todo o DF.”
Atos
Em 14 de janeiro, um dia após o reajuste de passagens, o MPL organizou uma manifestação contra a medida. Na ocasião, centenas de pessoas seguiram da W3 Sul até a Rodoviária do Plano Piloto. O ato terminou sem registros de ocorrências.
Uma semana depois, Taguatinga recebeu um protesto também contra o aumento das tarifas de ônibus e metrô. Na noite de 21 de janeiro, manifestantes reuniram-se na Praça do Relógio, para uma contestar os novos valores. Na ocasião, os participantes caminharam pelo centro da região administrativa. Atos semelhantes ocorreram em Ceilândia e no Paranoá ao longo do mês.
Novos preços
Em 13 de janeiro, começou a valer o aumento de 10% nas tarifas do transporte público de Brasília. O reajuste foi feito em todas as modalidades. Viagens de metrô e de ônibus de integração, que custavam R$ 5, passaram para R$ 5,50. Os ônibus de R$ 3,50 chegaram ao valor de R$ 3,85, e as passagens de R$ 2,50 foram para R$ 2,75.
Desde a implementação da medida, o Governo do Distrito Federal argumenta que o aumento é necessário para diminuir o deficit no setor. Segundo a secretaria de Transporte e Mobilidade, a dívida do GDF com empresas de ônibus chega a R$ 247 milhões.
No dia 14, pouco antes da primeira manifestação contra o reajuste, o governador Ibaneis Rocha (MDB) também defendeu a necessidade da mudança. No dia 16, o chefe do Executivo local assinou um decreto autorizando a diminuição de R$ 0,05 nas passagens de ônibus que, com o reajuste inicial, ficaram com valores quebrados. As tarifas passaram então de R$ 3,85 e R$ 2,75 para R$ 3,80 e R$ 2,70, respectivamente. Segundo Ibaneis, o objetivo foi facilitar o troco.
Na Justiça
Dois dias após a implementação do aumento, quatro deputados distritais acionaram a Justiça e protocolaram um pedido de revogação. O documento foi assinado por Chico Vigilante (PT), Arlete Sampaio (PT), Fábio Félix (PSol) e Reginaldo Veras (PDT).
Em decisão publicada no dia 17, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) negou a solicitação. O juiz Roque Fabrício Antônio de Oliveira, da 4ª Vara da Fazenda Pública, entendeu que “o reajuste tarifário não importa em lesão ao patrimônio público de nenhuma forma”. Segundo o magistrado, “a rigor, a medida tende a ter efeito exatamente contrário, na medida em que a elevação de receita derivada do aumento do preço da tarifa reduz o volume de recursos que deverão ser repassados pelo ente público às empresas que operam o sistema de transporte público coletivo”.