Mesmo com serviços de coleta seletiva em atividade desde os anos 1990 no Distrito Federal, os itens que chegam hoje aos centros de triagem, onde os resíduos sólidos são separados, não somam 3%. Em 2019, das mais de 1,2 milhão de toneladas de materiais coletados pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU), só 28 mil toneladas foram passíveis de reciclagem. O que sobrou seguiu para o Aterro Sanitário de Brasília. Na opinião de especialistas e de brasilienses que separam o lixo doméstico por tipo, faltam conscientização e políticas públicas mais eficazes.
Das 33 regiões administrativas existentes, 26 contam com a coleta seletiva. A meta do governo local é alcançar os 100% o quanto antes. Segundo o diretor adjunto do SLU, Gustavo Souto Maior, o motivo para isso não ter acontecido são questões logísticas e operacionais. “É preciso ter cooperativas que coletem esse material onde não tem. Estamos indo aos poucos. E a população também deve estar conscientizada”, afirmou. “Levamos toneladas de lixo para o aterro diariamente. O que costumo dizer é que estamos enterrando dinheiro. Boa parte poderia ser reaproveitada.”
Gustavo Souto comentou que 60% do território do DF é atendido pelo serviço de coleta seletiva e reconheceu que a quantidade de resíduos recicláveis ainda é pequena em relação ao todo. “Não é uma questão simples. E não adianta dizer que é preciso separar o lixo se as pessoas não entenderem o benefício de fazer isso. Precisamos de menos área de aterro (sanitário). Ele não precisa ficar ad eternum. Temos de trabalhar cada vez mais para enterrar menos lixo”, ressaltou.
Mobilização
Em outubro, o Executivo local assinou um contrato com três empresas vencedoras de licitação (Valor Ambiental, Sustentare Saneamento e Consita Tratamento de Resíduos) para promover trabalhos de conscientização sobre a coleta seletiva nas regiões administrativas. Ao longo de cinco anos, as equipes, formadas por sete pessoas, percorrerão os endereços a fim de informar a população sobre a importância da separação do lixo por tipos.
A reportagem acompanhou o trabalho do grupo que atua em Brazlândia, Ceilândia, Taguatinga e Samambaia, área sob responsabilidade da Sustentare Saneamento. De segunda a sexta-feira, sete funcionárias — que atuavam como garis na parte de varrição das ruas — visitam casas, distribuem panfletos e conversam com os moradores. Quando não são recebidas, elas voltam ao endereço na semana seguinte, até conseguirem falar com os moradores. Diariamente, alcançam, em média, 60 domicílios.
Supervisora dessa equipe de mobilização, Mara Alves comentou que a iniciativa vai além de questões ambientais. “É algo de importância para a natureza, mas também ajuda na vida dos catadores que trabalham com reciclagem.” Ela acrescentou que é preciso ter jogo de cintura. “Nosso serviço é meio que de formiguinha. De porta em porta. Tem gente que não quer atender, tem gente mal-humorada. Mas também há muitos que não faziam a coleta, ganharam um pouco mais de consciência e começaram a fazer a separação”, completou Mara.
Moradora da QNP 13, em Ceilândia Norte, Zilda Kelly Emerick, 30 anos, contou que a família dela não tem o costume de separar o lixo, por falta de informação. Ela considerou a campanha de conscientização essencial para que a relevância da reciclagem alcance mais pessoas. “Essa iniciativa é superimportante. Separar o lixo facilita a vida de quem trabalha com isso, evita acidentes e gera emprego”, enumerou.
Para saber mais
Onde entregar
No site do SLU, é possível consultar os locais que recebem produtos não recolhidos por meio da coleta seletiva. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) estabelece que cabe aos fabricantes dar o destino adequado a materiais como pilhas, baterias, pneus, óleo, eletroeletrônicos, medicamentos, lâmpadas e produtos químicos. Acesse www.slu.df.gov.br/residuos-especiais e saiba onde entregar esses itens, além de móveis velhos, caixas de gordura, vidro e sucatas de ferro-velho.