Indignação e revolta marcaram o enterro do motorista de aplicativo assassinado na Granja do Torto. Familiares, amigos e outros condutores estiveram presentes ontem no adeus a Maurício Cuquejo, 29 anos, no Cemitério Campo da Esperança, no Gama. O jovem é a segunda vítima de latrocínio (roubo com morte) entre motoristas de aplicativo de 2020. Ele foi norto na madrugada de quinta-feira, no Núcleo Rural Boa Esperança 2.
“Essa morte brutal foi tão injusta. Ele era um guerreiro e morreu como tal, trabalhando. Que haja justiça e que as leis mudem a fim de amparar e dar mais segurança aos motoristas de aplicativo”, pede Shirley Sodré, tia de Maurício. O corpo do jovem foi encontrado em uma poça d'água por moradores da região. O carro dele, um Renault Logan branco, estava próximo ao corpo. Três homens e um adolescente foram detidos pelo crime.
Maurício tinha se graduado em gastronomia recentemente e tinha planos de abrir o próprio negócio por meio da renda adquirida nas corridas. Por ter hemofilia, um distúrbio na coagulação do sangue, não conseguia trabalhar muito tempo em pé. “Ele tinha comprado um carro automático para poupar o joelho dele e evitar riscos. Mesmo assim, morreu trabalhando”, lamentou a tia. “Minha irmã lutou 29 anos para conseguir tratamento para ele viver. É muito injusto vê-lo partir dessa forma”, acrescentou.
Cerca de 200 pessoas se reuniram na capela onde o corpo foi velado de caixão aberto. “Maurício era cheio de sonhos e muito bem-humorado”, disse a amiga da família Hellen Virgini, 45. “A família quer justiça e toda luta é bem-vinda e necessária. Os aplicativos vieram para ajudar os usuários, mas eles também têm que garantir a segurança”, opina. Emocionados, familiares cantaram cânticos de louvor e fizeram orações.
A namorada do jovem, Natália Lohane, 23, lamentou o ocorrido. “Era como ele sempre dizia: a Justiça é ineficiente e não funciona para o pobre”, relembrou. O casal estava junto há três meses, morando em uma residência nova localizada em Santa Maria. No dia do crime, foi ela quem ligou para a família do rapaz às 6h, após Maurício não aparecer em casa.
Motoristas de aplicativo fizeram uma homenagem ao colega. Em fila, eles buzinaram até o cemitério Campo da Esperança do Gama, com o objetivo de pedir mais segurança aos condutores. “Queremos a identificação das pessoas que entram nos nossos carros”, pediu o motorista Alessandro Santos, 40. “Estamos cansados desses crimes, de fazer passeatas. Este ano, já foram dois. Estão nos matando por nada”, disse.
Antes da descida do caixão, um dos motoristas de aplicativos, com apelido de Scooby, foi à frente para lamentar a morte de Maurício e homenagear os familiares. “Prestamos condolências em nome de todos os motoristas de aplicativos”, declarou. “Não queremos que casos como esse se repitam. Merecemos mais segurança para trabalhar”, pediu.